Monday 6 August 2007

Timor-Leste: Decisão de Ramos-Horta abre nova crise


O convite que o presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, fez ontem a Xanana Gusmão para formar o novo governo foi o suficiente para gerar de imediato uma nova onda de violência no país, sinal de que o clima entre os principais dirigentes políticos timorenses é de grande desconfiança e animosidade.



Após o convite, grupos de jovens apoiantes da Fretilin saíram às ruas, queimaram pneus, apedrejaram carros e incendiaram o edifício onde funcionam os serviços centrais da alfândega, em Díli. As forças internacionais tiveram de intervir e a GNR foi chamada para ajudar a controlar a situação em Díli.

“Decidi chamar a Aliança para a Maioria Parlamentar (AMP) a formar governo por representar neste momento a opinião política da maioria parlamentar”, justificou Ramos-Horta, adiantando que “não estamos em tempo nem em ocasião de repetir eleições que, aliás, a Constituição proíbe”. Ramos-Horta anunciou ainda que a tomada de posse do novo governo liderado por Xanana Gusmão terá lugar amanhã, uma decisão que põe fim a mais de um mês de negociações após as eleições legislativas de 30 de Junho.

A AMP, que surgiu de uma aliança pós-eleitoral, reúne os quatro maiores partidos da oposição e é liderada por Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional da Reconstrução de Timor-Leste (CNRT).

Apesar da violência que se registou no país após o convite a Xanana Gusmão, Ramos-Horta, segundo fontes em Díli, terá percebido que um governo de minoria Fretilin no poder poderia representar um risco ainda maior para a estabilidade do país.

“Como presidente, como vencedor do Nobel da Paz e como seu irmão mais velho peço a todo o povo de Timor-Leste, principalmente à juventude, que aceite a decisão. Por favor mantenham a calma, respeitem a lei, a ordem, paz e estabilidade e dêem uma oportunidade a nosso irmão mais velho Xanana Gusmão”, apelou Ramos-Horta.

Mas parece não ser esse o pensamento dos dirigentes da Fretilin, partido que venceu as eleições sem maioria absoluta e reclama o direito de formar governo. O candidato da Fretilin, Francisco Guterres ‘Lu-Olo’, já assegurou que não reconhece o governo de Xanana Gusmão e afirmou que o seu partido irá “continuar a lutar – não através da violência – mas por vias legais”, acusando ainda Ramos-Horta da “violar a Constituição”.

‘Lu-Olo’ prometeu manifestações de protesto nas ruas e no Parlamento, como forma de contestar um governo que diz ser “inconstitucional”. Hoje mesmo a Fretilin vai fazer uma intervenção no Parlamento e logo depois abandona o hemiciclo indo para a rua protestar.

Já para o primeiro-ministro ainda em funções, Estanislau da Silva, o convite a Xanana Gusmão para formar governo “frustrou os apoiantes da Fretilin”, adiantando que “não vai ser fácil daqui para a frente gerir politicamente o país e as expectativas do eleitorado, se estamos, logo à partida, a pôr em causa o estipulado na Constituição”.

PERFIL

Alexandre Kay Rala ‘Xanana’ Gusmão, nascido a 20 de Junho de 1946, foi o primeiro presidente da República de Timor-Leste, depois de ter sido durante largos anos chefe da resistência timorense à ocupação indonésia. Presidente do Conselho Nacional da Fretilin, demitiu-se do cargo, aborrecido com as críticas sistemáticas, e formou o Conselho Nacional da Reconstrução de Timor-Leste, partido pelo qual se candidatou às legislativas de Junho, tendo ficado em segundo lugar atrás de Francisco Guterres, da Fretilin.

INDIGITAÇÃO POLÉMICA

O anúncio da constituição do novo governo e a indigitação de Xanana Gusmão como próximo primeiro-ministro surge depois de um mês de negociações e muita polémica entre os principais partidos políticos timorenses. É que nenhum dos partidos candidatos às eleições legislativas de Junho último obteve maioria absoluta. Os dois mais votados, a Fretilin, de Mari Alkatiri e Francisco Guterres, e o Conselho Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), de Xanana Gusmão, não se entenderam sobre quem deveria liderar o Executivo e, numa aliança pós-eleitoral, o líder do CNRT constituiu a Aliança para a Maioria Parlamentar, que reúne os quatro maiores partidos da oposição, passando a ter a maioria na Assembleia. Guterres alega que Ramos-Horta violou a Constituição ao não dar à Fretilin o direito de formar governo

SAIBA MAIS

- 65 é o número de deputados que constituem o Parlamento timorense.

- 37 deputados fazem parte da Aliança para Maioria Parlamentar, liderada por Xanana Gusmão.

- 21 é o número de deputados eleitos pela Fretilin, que venceu as eleições sem maioria.

MISSÃO DA GNR

A missão da GNR em Timor-Leste para a manutenção da ordem pública e formação das forças de segurança timorenses está no país desde Maio de 2006. A missão compreende ainda a segurança dos portugueses que, residindo mais afastados da cidade, solicitam protecção e evacuação para áreas mais seguras.

FORÇAS INTERNACIONAIS

As autoridades timorenses pediram apoio militar à Austrália, Nova Zelândia e Malásia. Os militares australianos vão permanecer em Timor-Leste até 2008 a pedido do presidente, Ramos Horta.

3 comments:

Anonymous said...

"Alfândega de Díli foi destruída pelo fogo ao fim do dia"

comecou a razao da forssa.

vamos ver onde para

Sao cobras venenosas dizem uma coisa e por de traz mandam fazer outra.

isto e o resultado do medo que a Fretilin tem da tal sindicancia aos 5 anos de governo.

Sindicancia ja

Anonymous said...

A AMP é uma fantasia, não existe, ninguém votou nela e não tem um único deputado. Os 65 deputados do PN estão assim distribuídos:

Fretilin - 21
CNRT - 18
PD - 8
PSD - 6
ASDT - 5
PUN - 3
UNDERTIM - 2
KOTA - 1
PPT - 1

Anonymous said...

isto e o resultado do medo que a Fretilin tem da tal sindicancia aos 5 anos de governo.
(anonymous disse)
-
Se o Presidente tivesse escolhido a Fretilin para formar governo, uma maioria parlamentar formada por diversos partidos não podia exigir a sindicancia aos 5 anos de governo da Fretilin?
Pergunto, por desconhecer a legislação que rege o assunto.
U. Guerra