O Alto-comissário da ONU para os Refugiados apontou hoje a existência de "questões humanitárias" em Timor-Leste decorrentes da tensão que se vive no país, defendendo que só uma evolução positiva da "situação política" poderá contribuir para as debelar.
"Espero que a situação política permita resolver rapidamente as questões humanitárias e de protecção que se têm posto à população timorense. Como sempre, nos problemas humanitários a solução nunca é humanitária", disse António Guterres no final de um encontro com o Presidente moçambicano, Armando Guebuza.
Observando que actualmente "não há refugiados de Timor", mas apenas "algum deslocamento interno por causa de questões de insegurança", António Guterres reforçou que para ultrapassar os problemas existentes "a solução é sempre política".
"Quando os problemas políticos se resolvem, os problemas humanitários deixam de existir", defendeu.
Cerca de 5.000 pessoas estão deslocadas e concentradas em pelo menos oito campos temporários no leste de Timor-Leste devido à violência que afectou a região durante a qual foram queimadas mais de 320 casas.
As maiores concentrações temporárias de deslocados localizam-se nas montanhas de Viqueque, onde estão cerca de mil pessoas, enquanto centenas de outras estão em vários pontos da cidade, na costa sudeste do país e cerca de um milhar no quartel da polícia em Uatu Carbau.
Os distúrbios em Timor-Leste, que atravessa uma crise política desde Abril de 2006, foram desencadeados no dia 13, quando o Presidente timorense, José Ramos-Horta, designou como primeiro-ministro Xanana Gusmão, do Conselho Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), e não o candidato da Fretilin, o partido vencedor das eleições de 30 de Junho.
Xanana Gusmão dirige uma coligação de quatro formações políticas que controla 37 dos 65 lugares do novo parlamento de câmara única, enquanto que a Fretilin, embora vencedora nas eleições, apenas obteve 21 deputados.
No final da sua visita de quatro dias a Moçambique, António Guterres manifestou ainda o "apreço e gratidão" da agência das Nações Unidas a que preside pela "política exemplar de generosidade e de solidariedade do Estado e do povo moçambicano relativamente àqueles que procuram abrigo" no país.
"Estamos a trabalhar muito activamente para clarificar quem é e quem não é refugiado para que os refugiados possam ser eficazmente protegidos, mas também para que ninguém possa usar abusivamente dessa condição para abusar da hospitalidade do povo moçambicano", especificou.
O ex-primeiro-ministro português prometeu ainda "apoiar a fundo" o programa do governo moçambicano destinado a reforçar a capacidade de integração e de auto-sustento dos refugiados, bem como "projectos que estão a ser preparados nos domínios da educação, saúde, apoio à agricultura e segurança", que visam "apoiar a população refugiada, mas também a comunidade local".
"Moçambique está a dar um exemplo ao mundo de uma política muito bem pensada. Temos que fazer tudo para apoiar Moçambique na concretização dessa política", notou.
Wednesday, 22 August 2007
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