Monday, 6 August 2007

Cenário de violência volta a pairar sobre Timor-Leste

ARMANDO RAFAEL- Diário de Notícias




Xanana deve apresentar hoje o novo Governo

Mal o Presidente timorense anunciou que tinha convidado a Aliança para a Maioria Parlamentar (AMP) a formar Governo, deixando a Fretilin de fora, começaram os distúrbios em Díli, obrigando à intervenção das forças da ONU. A começar pela GNR, que foi chamada a dispersar grupos de jovens nos bairros periféricos da capital, onde um incêndio destruiu o edifício da Alfândega. Sem que até ao momento se tenha percebido se este incêndio resultou ou não de um acto intencional, sabendo-se apenas que em frente ao edifício destruído está um campo de refugiados que nas últimas semanas já foi protagonista de vários incidentes.

Ontem, algumas pessoas, admitindo-se que parte vivesse nesse campo de refugiados, limitaram-se a apedrejar o bombeiros, impedindo que eles combatessem as chamas.

Este incêndio, que segundo fontes citadas pela Lusa terá destruído tudo em menos de uma hora, não provocou, no entanto, quaisquer vítimas, havendo a registar apenas danos materiais. Nomeadamente ao nível dos arquivos e dos registos aduaneiros, o que poderá indiciar um eventual interesse criminoso nessa destruição, uma vez que o edifício da Alfândega guardava papéis relacionados com as importações de armas que tantas dúvidas e polémicas têm levantado em Timor-Leste desde a crise que assolou o país em Abril do ano passado.

Noutros pontos da cidade, os incidentes foram essencialmente protagonizados por grupos de jovens que queimaram pneus e apedrejaram viaturas, obrigando as forças policiais da ONU a dispararem para o ar e a lançaram gás lacrimogéneo para os dispersar.

Uma situação que poderá prolongar-se ou até agravar-se nas próximas horas e que ameaça estender-se a outros pontos do país, designadamente aos três distritos mais ocidentais de Timor-Leste e onde a implantação da Fretilin é esmagadora: Baucau, Lautém e Viqueque.

Nada que não tivesse sido já antecipado pela própria Fretilin ou até pelos dirigentes da AMP, plataforma política que reúne quatro partidos - CNRT, PSD, ASDT e PD - e que dispõem de 37 dos 65 deputados do novo Parlamento timorense, condicionando as decisões do Presidente Ramos-Horta quanto à nomeação do governo e do próximo-ministro.

Como Ramos-Horta se encarregou ontem de explicar publicamente, recordando os esforços desenvolvidos para a formação de um "governo de inclusão" que contemplasse também a Fretilin, o partido que governou o país desde a independência e que venceu as eleições de 30 de Junho, elegendo 21 deputados.

Sem sucesso, como o tempo se encarregou de demonstrar, levando Ramos-Horta a optar pelo convite à Aliança para a Maioria Parlamentar, sabendo que a AMP avançaria com o nome de Xanana Gusmão.

Como sucedeu, levando a Fretilin e o seu secretário-geral Mari Alkatiri a anunciarem que iriam recorrer aos tribunais, invocando que a decisão presidencial é inconstitucional, sustentando que Ramos-Horta deveria ter convidado o maior partido com representação parlamentar a formar governo.

Sendo que a própria Constituição timorense prevê também a hipótese de o Presidente poder optar por uma aliança que disponha de uma maioria parlamentar.

Razões mais do que suficientes para admitir que Timor-Leste possa vir a viver horas de grande tensão nos próximos dias, apesar de a situação em Díli ter sido considerada calma ontem à noite por uma fonte da GNR.

Mas, pelo sim, pelo não, a ONU autorizou já as suas forças policiais a recorrerem a balas de borracha, caso venham a necessitar.

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