Tuesday 31 July 2007

Desconhece-se o numero de Brasileiros a viver em Timor-Leste



Desconhece-se o numero de Brasileiros a viver em Timor-Leste

Madri, 31 Jul (Lusa) - Dos 3,2 milhões de estrangeiros que têm visto permanente na Espanha, 33 mil são brasileiros, de acordo com dados do Ministério espanhol do Trabalho divulgados nesta terça-feira.

O número de estrangeiros que têm permissão para residir em território espanhol subiu 7,1% em três meses, passando de 3 milhões, em dezembro do ano passado, para 3,2 milhões, em março último.

São quase 77 mil os portugueses com visto permanente na Espanha, o que representa pouco mais de 2% do contingente de estrangeiros no país ibérico.

A comunidade portuguesa com cartões de residência em vigor é atualmente a 11ª maior e a quinta entre as nações européias.

Guiné-Bissau (3.446), Cabo Verde (2.456) e Angola (1.407) são os outros países de língua portuguesa de onde saíram pessoas que hoje têm permissão para morar na Espanha. Não há dados sobre outras as nações lusófonas (Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste).

A maior comunidade estrangeira na Espanha é a marroquina, com 575 mil pessoas, seguindo-se a equatoriana (394 mil), a romena (265 mil), a colombiana (237 mil) e a britânica (179 mil).

Estão ainda entre as dez maiores a comunidade chinesa (105 mil), a italiana (101 mil), a peruana (100,7 mil), a argentina (92 mil)e a alemã (78 mil).

Novo premiê timorense será anunciado nesta quarta-feira



Díli, 31 Jul (Lusa) - O presidente do Timor Leste, José Ramos Horta, anuncia nesta quarta-feira o novo primeiro-ministro timorense, na falta de um acordo entre a Fretilin, legenda que venceu sem maioria as legislativas de junho, e a oposição.

Maior partido político timorense, a Fretilin liderou as eleições legislativas de 30 de junho, com 29% dos votos válidos. Porém, logo após a divulgação dos resultados, quatro partidos derrotados se uniram, formando a Aliança para Maioria Parlamentar (AMP).

Com maior número de deputados eleitos que a Fretilin, a AMP reivindica liderar o novo governo do Timor Leste. A maior legenda local também quer comandar o Executivo por se considerar vencedora das eleições legislativas

Após três reuniões de líderes políticos sob iniciativa de Ramos Horta e de quase um mês de conversas com diferentes setores da sociedade timorense, o presidente timorense não conseguiu a "solução inclusiva" que propôs a todos os partidos.

O chefe de Estado do Timor Leste, que foi Nobel da Paz em 1996, chegou a sugerir que a Fretilin liderasse o governo por dois anos e a AMP por dois anos.

Um primeiro teste aos equilíbrios do novo Parlamento aconteceu nesta segunda-feira, com a eleição para presidente do Parlamento de Fernando "La Sama" de Araújo, presidente do Partido Democrático (PD) e um dos líderes da AMP.

O líder do PD conseguiu uma vitória expressiva de 41 votos contra os 24 obtidos pelo candidato da Fretilin, Aniceto Guterres, num Parlamento de 65 assentos.

Nesta terça-feira, a AMP teve nova vitória ao eleger os dois vice-presidentes do Parlamento timorense: Vicente da Silva Guterres, do Congresso Nacional de Reconstrução do Timor Leste (CNRT), e Maria da Paixão de Jesus da Costa, da coligação Associação Social Democrática Timorense e Partido Social Democrata (ASDT/PSD).
UOL Busca

Parlamento elege dois vice-presidentes membros da AMP


Um dia depois da escolha do presidente, Fernando 'La Sama' de Araújo, o parlamento timorense elegeu hoje os vice-presidentes, ambos da Aliança para Maioria Parlamentar (AMP)


Os deputados Vicente da Silva Guterres, do Congresso Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), e Maria da Paixão de Jesus da Costa, da coligação Associação Social Democrática Timorense e Partido Social Democrata (ASDT/PSD), foram eleitos para as duas vice-presidências do parlamento.

Maria Terezinha da Silva Viegas, do CNRT, foi escolhida para secretária da mesa da assembleia.

Como vice-secretárias foram eleitas Maria da Costa Exposto (ASDT/PSD) e Teresa Maria de Carvalho, do Partido Democrático (PD), o terceiro partido da AMP.

A escolha dos vice-presidentes acontece também na véspera da data em que o Presidente da República, José Ramos-Horta, prometeu anunciar quem vai convidar para formar o IV Governo Constitucional de Timor-Leste.

A Fretilin, que venceu as eleições de 30 de Junho sem maioria absoluta, e a Aliança para Maioria Parlamentar (AMP), que agrupa o CNRT, a ASDT/PSD e o PD, conseguindo assim a maioria dos deputados, disputam o direito de serem chamadas a formar governo, cujo mandato é de cinco anos.

Lusa/SOL

Comunicado da UNMIT- situação da Segurança




Esta é uma emissão da polícia da ONU em Timor-Leste para lhe dar informação sobre a situação da segurança no país.

Terça-feira, 31 Julho de 2007

A situação da segurança no país tem estado no geral calma.

Hoje, no distrito de Dili, foi requerida a presença da UNPol para dois incidentes que envolveram o atirar de pedras. O primeiro incidente foi um relato não confirmado que indicava que um grupo estava a atirar pedras a veículos do governo que passavam pela Estrada de Comoro. Mais tarde, a UNPol respondeu a outro relato de atirar de pedras na vizinhança do supermercado Landmark. Quando a UNPol chegou a ambos os locais, não havia nenhuma dessas actividades. Contudo, foi relatado que um veículo da ONU fora apedrejado na vizinhança do segundo incidente. Não foi ainda divulgado a extensão dos estragos no veículo.

A UNPol, a PNTL e a ISF estão a trabalhar juntar para dar segurança ao povo de Timor-Leste. O Plano de Segurança da UNPol para as Eleições está correntemente na Fase Quatro, a fase pós-eleitoral. A UNPol, a PNTL e as Unidades de Polícia Formadas mantêm-se destacadas e em alerta para quaisquer confrontos pós-eleitoral ou caravanas de vitória. As Forças Internacionais de Estabilização estão também em alerta, prontas para serem destacadas a pedido.

A polícia gostaria de lembrar ao povo de Timor-Leste que precisam de ter licenças de condução válidas antes de poderem guiar nas estradas. Todos os veículos devem ter também à mostra as matrículas de licença válidas. Estas medidas estão em efeito para garantir a segurança rodoviária.

A polícia aconselha a evitar viajar durante a noite para as áreas mais afectadas. Por favor relate qualquer actividade suspeita. Chame o 112 ou 7230365 para contactar a polícia 24 horas por dia, sete dias por semana.

LA SAMA no Parlamento timorense



Quando o ano de 2007 entrar no mês de Agosto, Timor tem de formar um Governo. O limite foi estabelecido pelo Presidente Ramos Horta. Restam por isso poucas horas aos 65 deputados eleitos para provar que Timor-Leste merece a esperança mundial naquela que foi considerada a primeira democracia a constituir-se no século XXI.

Desentendimentos no novo Parlamento timorenseDeputados não chegaram a consenso sobre a formação do novo governoO primeiro dia de trabalho do novo parlamento timorense ficou marcado pela violência nas ruas. Os deputados não chegaram a acordo sobre a constituição do futuro governo do país.

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Os factos contradizem as expectativas. Poucos minutos depois de os deputados assumirem funções em total desentendimento, no exterior do edifício a falta de acordo político reflectiu-se na violência social.

Nas eleições de Junho nenhum partido conseguiu maioria. A FRETILIN foi a força mais votada e tem 21 deputados. O CNRT de Xanana Gusmão prefere aliar os seus 18 lugares aos 11 dos social-democratas. Mas é impensável um governo em funções sem o partido mais votado.

“O primeiro passo é estabelecer um bom relacionamento entre todos os membros do Parlamento neste edifício. Quero que eles e este Parlamento sejam um espelho da situação política de modo a convencer o nosso povo de que a política não é andarmos à luta uns contra os outros nem atirarmos pedras, mas sim debater os problemas”, lembrou o presidente do Parlamento.

Se os deputados não entenderem estas palavras de Fernando Araújo, Ramos Horta promete seguir os princípios constitucionais e nomear unilateralmente um governo.
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Governo criou Parque Natural Nino Konis Santana

Ilhéu do Jaco

Mapa de Timor-Leste

Arte Rupestre


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O Conselho de Ministros timorense aprovou a criação do Parque Natural Nino Konis Santana, "o primeiro de uma rede nacional de protecção da natureza", informou hoje uma nota do gabinete do primeiro-ministro.


O parque natural situa-se no leste do país, "com 68 mil hectares em terra e 55 mil hectares no mar".

"Timor-Leste tem uma elevada prioridade, internacionalmente reconhecida, no âmbito da conservação da biodiversidade marinha e terrestre", explica o governo no comunicado sobre a decisão tomada em reunião de 27 de Julho.

O território timorense "integra a região de 'Wallacea', localizada no chamado 'Triângulo de Coral', muito rica pela variedade e pela singularidade da sua flora e fauna", refere.

"A estratégia de desenvolvimento e consolidação da protecção da área do novo Parque Nacional visa assegurar equidade na distribuição dos benefícios ambientais entre as comunidades locais, a protecção da biodiversidade própria da área, a conservação e gestão dos aquíferos e o reconhecimento da propriedade tradicional e da sua utilização pelas comunidades residentes na área do Parque", lê-se no comunicado.

O Parque Nacional Nino Konis Santana, diz o gabinete do primeiro-ministro, "cumpre os requisitos de parque internacionalmente reconhecido pela União Mundial para a Natureza (Paisagem protegida, Categoria V) em que as interacções culturais locais com a natureza são mantidas, conciliando a protecção ambiental com a extracção sustentável de recursos e meios de vida pelas comunidades locais".

O novo parque abrange uma zona da ponta leste da ilha de Timor habitada continuamente desde há 40 mil anos.

É uma área "muito rica do ponto de vista do património arqueológico, além de incluir locais evocativos da passada presença colonial portuguesa, bem como do período da ocupação japonesa, no decurso da II Guerra Mundial".

O nome do parque foi escolhido em homenagem ao falecido Konis Santana, herói nacional timorense e comandante das Falintil, natural de Tutuala, uma vila do distrito de Lautém integrada na reserva natural.

Monday 30 July 2007

Lassama lembra que Aliança garante maioria


O novo presidente do parlamento de Timor diz que o resultado da eleição mostra que “a Aliança garante a maioria parlamentar”.

Fernando Lassama diz, contudo, não pretender pressionar o presidente Ramos Horta que, entretanto, adiou uma decisão sobre a formação do governo para quarta-feira.

Lassama disse estar “emocionado e optimista”, agradecendo a confiança nele depositada.

O líder da FRETILIN, Maria Alkatiri, aceitou o resultado, comentando, laconicamente que “é com este presidente que teremos de trabalhar”.

Sobre a possibilidade do desfecho levar o Presidente da República a convidar a Aliança a formar governo, Alkatiri diz que Horta “não deve deixar-se influenciar”, limitando-se “a cumprir a Constituição”.

Fernando Lassama sucede a Francisco Guterres, Lu-Olo, na presidência do Parlamento.


Violência após divulgação dos resultados


Depois do anúncio formal dos resultados da eleição aprlamentar, jovens apiantes da FRETILIN concentraram-se junto à sede do aprtido apedrejando, a partir desse ponto, automóveis que circulavam numa das mais movimentadas ruas de Díli.

A Polícia das Nações Unidas foi chamada a intervir, não havendo relato de danos pessoais ou de detenções.

A situação acalmou com o cair da noite em Díli.

Fernando Lassama foi hoje eleito presidente do parlamento timorense, derrotando o candidato da FRETILIN.

Lassama, líder do Partido Democrático, obteve 41 votos contra 24 de Aniceto Lopes Guterres.

Os analistas olham para este resultado como diminuidor da margem de manobra da FRETILIN, o partido mais votado nas Legislativas, e, simultaneamente, como um factor que pode pressionar o Presidente Ramos Horta a convidar a Aliança partidária a formar governo.

Horta adiou uma decisão para quarta-feira.

Fernando Lassama sucede a Francisco Guterres, Lu-Olo, na presidência do Parlament

Rádio Renascença

Fernando de Araújo é eleito presidente do Parlamento do Timor-Leste



Fernnado La Sama de Araújo, deixando o tribunal rumo á prisão de Cipinang ond esteve preso por seis anos e meio.



Díli, 30 jul (EFE).- O Parlamento do Timor-Leste nomeou hoje o líder do Partido Democrata, Fernando de Araújo, como presidente da Câmara, durante a sessão plenária na qual ocuparam suas cadeiras os deputados escolhidos no pleito de 30 de junho.

Araújo, de 45 anos, substitui Francisco Guterres, da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin), na Presidência do Parlamento unicameral de 65 cadeiras.

O líder timorense e prêmio Nobel da Paz em 1996, José Ramos Horta, disse que em meados desta semana anunciará o agrupamento ou plataforma à qual encarregará de formar Governo.

O Fretilin venceu o pleito com 21 deputados, seguido pelo Conselho Nacional para a Reconstrução do Timor-Leste (CNRT), com 18; a coalizão ASDT-PSD, com 11; o Partido Democrata (PD), com oito; o Partido de União Nacional (PUN), com três, e a aliança KOTA-PPT e o Partido de União Nacional da Resistência Timorense (Undetim), com dois cada.

CNRT, ASDT-PSD e PD, que juntos controlam 37 cadeiras, se uniram após as eleições e propõem como primeiro-ministro Xanana Gusmão.

Gusmão, uma das personalidades timorenses mais respeitadas pelo povo, dirigiu a resistência armada contra a ocupação indonésia (1975-1999), passou vários anos preso, foi o primeiro presidente do país após a independência (20 de maio de 2002) e em março fundou a CNRT para apresentar uma alternativa de Governo ao Fretilin.

A Constituição estabelece o partido mais votado seja encarregado da formação de um Governo.

O Timor-Leste atravessa desde a primeira metade de 2006 uma crise política, agravada com surtos de violência que levaram dezenas de milhares de pessoas a centros de refugiados.

Esperava-se que as eleições parlamentares permitissem formar um Governo forte e encerrar a crise.

Fernando de Araújo é eleito presidente do Parlamento do Timor-Leste

Sunday 29 July 2007

Dois candidatos disputam o Parlamento até 3ª feira no Timor

Díli, 29 Jul (Lusa) - Dois candidatos disputam a Presidência do Parlamento no Timor Leste. Aniceto Guterres, da situacionista Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (Fretilin), e Fernando (La Sama) de Araújo, da Aliança para Maioria Parlamentar (AMP), são os candidatos da escolha que deve ser feita até terça-feira.

A Fretilin venceu as eleições legislativas de 30 de junho sem maioria absoluta, com 29,02% dos votos válidos, enquanto os quatro maiores partidos da oposição (CNRT, ASDT/PSD e PD) constituíram a chamada AMP.

A escolha de Guterres, aprovada hoje pelo Comitê Central da Fretilin, foi justificada pelo "seu envolvimento na luta de libertação nacional e na defesa consistente e intransigente dos direitos humanos".

Um comunicado da Fretilin, divulgado no início da noite deste domingo em Díli (manhã no Brasil) acrescentou "as suas qualidades em termos de clareza de princípios, integridade e capacidades de liderança".

Guterres é membro do Conselho de Estado e co-fundador da organização de Direitos Humanos Yayasan HAK. Foi também membro de uma das principais organizações estudantis, a Renetil, durante a ocupação Indonésia do território timorense.

A Renetil foi liderada por La Sama e foi nas estruturas juvenis e clandestinas da resistência timorense que começou o percurso político do atual presidente do Partido Democrático (PD).

O líder da Renetil, preso pela Indonésia, passou seis anos e quatro meses na cadeia de Cipinang, Jacarta, a mesma onde esteve Xanana Gusmão, ex-presidente do Timor Leste e atual presidente da legenda oposicionista Congresso Nacional de Recontrução do Timor Leste (CNRT).

"Foi nos anos de Cipinang que aprendi com Xanana, com outros prisioneiros políticos. A minha formação política vem de Cipinang", afirmou o líder do PD durante a campanha para as eleições presidenciais de 9 de abril.

La Sama foi o terceiro candidato mais votado no primeiro turno, muito próximo de José Ramos Horta, que no segundo turno conseguiu a vitória nas eleições presidenciais.

Saturday 28 July 2007

Filipinas impulsionam criação da Comissão de Direitos Humanos da Asean


Manila, 26 jul (EFE).- O Governo filipino vai propor na 40º Reunião de Ministros de Assuntos Exteriores da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), que será realizada na segunda-feira em Manila, a criação de uma Comissão de Direitos Humanos.

O chanceler filipino, Alberto Romulo, disse hoje em entrevista coletiva que o Governo também tentará a adoção da votação por maioria para tomar decisões em questões importantes, substituindo o vigente consenso.

O chefe da diplomacia filipina opinou que a Asean ganhará credibilidade perante a comunidade internacional se aprovar estas iniciativas.

A capacidade do grupo como fórum estabilizador e progressista no Sudeste Asiático foi questionada nos últimos anos por não conseguir fazer com que a Junta Militar de Mianmar (antiga Birmânia) aceite negociar com o líder do movimento democrático birmanês, Aung San Suu Kyi.

A Asean é integrada por Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Cingapura, Tailândia e Vietnã.

Após a reunião ministerial, começa em 2 de agosto a 14º Reunião de Ministros de Exteriores do Fórum Regional da Asean, onde se espera que os Estados Unidos condenem novamente a ditadura militar birmanesa e a falta de respeito dos direitos humanos na região.

Além dos dez países da Asean, o Fórum Regional conta com Austrália, Bangladesh, Canadá, China, Coréia do Sul, Coréia do Norte, Estados Unidos, Índia, Japão, Mongólia, Nova Zelândia, Papua Nova Guiné, Rússia, Timor-Leste e a União Européia.

Alkatiri acusa critica atitudes do Governo australiano


O antigo primeiro-ministro de Timor Leste, Mari Alkatiri, declarou hoje ter sido "apanhado de surpresa" pela recente visita a Díli do chefe do governo australiano, John Howard, que disse ter sido feita sem aviso prévio às autoridades timorenses.


John Howard deslocou-se na quinta-feira a Díli para celebrar o seu 68º aniversário, mas Alkatiri disse em entrevista ao programa em português da Rádio SBS da Austrália que nem o governo timorense, nem a embaixada de Timor Leste em Sidney foram notificados sobre essa viagem.

"Achei que protocolarmente a visita foi mal organizada. Não percebo como é que um país como a Austrália, com muitos anos de existência, com relações bilaterais com muitos países do mundo, cometeu um erro desses", comentou o antigo primeiro-ministro timorense.

No entanto, deixou claro que Timor-Leste não quer que as relações entre os dois países se deteriorem e que o país pretende ter as melhores relações possíveis com a Austrália.

"Temos aqui um grande contingente militar australiano, a nosso pedido, mas esperamos tomar conta dos nossos assuntos internos o mais rápido possível. Toda a presença estrangeira quando começa perpetuar-se cria alguns pequenos conflitos com a população e isso pode influir negativamente nas relações entre os dois países", acrescentou Alkatiri.

Na entrevista à estação de rádio, Alkatiri mostrou-se confiante de que a Fretilin liderará o próximo governo timorense.

"A última decisão caberá ao Presidente da República e esperamos que ele decida com base na Constituição. Ele tem feito consultas a constitucionalistas de quase todo o mundo, cada um com a sua opinião, mas eu não sou apenas um jurista amante do constitucionalismo, eu fiz a Constituição também, portanto tenho o pensamento do legislador, não um legislador abstracto, mas um legislador bem concreto".

Mari Alkatiri acredita que o Presidente José Ramos-Horta não terá alternativa, respeitando a Constituição, senão convidar a Fretilin, como partido mais votado nas eleiçõesde 30 de Junho, para formar o novo governo.

O partido terá então 30 dias para cumprir a tarefa, advertiu o secretário-geral da Fretilin, durante a entrevista à estação de rádio australiana.

"Ele (Ramos-Horta) não pode exigir do partido que forme o governo em três dias", avisou, afirmando não acreditar que os partidos da oposição, mesmo unidos, consigam maioria no parlamento para fazerem passar um governo.

"Maioria ou não, maioria parlamentar é uma questão que só se pode provar nas votações, não em acordos pós-eleitorais feitos pelas diferentes lideranças", defendeu, referindo-se a um acordo assinado pelos partido da oposição.

"O grande teste é a eleição do novo presidente do parlamento, na segunda ou terça-feira, para substituir Francisco Lu-Olo Guterres. Eu não acredito que aqueles que se dizem aliados votarão em bloco no candidato deles", Fernando Lassama de Araújo, presidente do PD.

O candidato da Fretilin à presidência do parlamento é Aniceto Guterres.

Em entrevista à Rádio SBS da Austrália, dois dias antes da abertura do novo parlamento timorense, na segunda-feira, 30 de Julho, o ex-primeiro-ministro de Timor-Leste confirmou que não é candidato ao cargo de primeiro-ministro e deu a entender que a Fretilin tem outro nome para avançar.

"Eu tenho deixado claro que não sou candidato, por isso a comissão política nacional da Fretilin irá decidir em tempo oportuno quem deverá avançar", disse.

Instado a revelar qual o nome do seu partido para primeiro-ministro, Mari Alkatiri disse: "preferimos não criar mais, diríamos assim, discussões, debates dentro da Fretilin".

E sobre a hipótese de alcançar um acordo com algum partido da oposição para formar o governo, Mari Alkatiri mostrou-se céptico.

"Da nossa parte sempre houve abertura para um acordo porque entendemos que ainda estamos num período delicado, frágil, da estabilidade no nosso país. O resultado das eleições mostrou que o povo não deu maioria absoluta a ninguém, mas deu uma maioria relativa simples à Fretilin, portanto deveríamos tomar a iniciativa de incluir outros na governação de modo a resolver os problemas mais graves do pais", acrescentou.

"Mas o outro lado não entende assim, entende que já estamos numa democracia consolidada, achando que devem trabalhar com base em poder e oposição, e por isso mesmo tem sido difícil chegar a um acordo", explicou Mari Alkatiri.

Quanto a uma aliança com o CNRT, do ex-Presidente Xanana Gusmão, Alkatiri diz que "em política nada é impossível".

"Naturalmente que aqui há questões de personalidade, num e noutro partido, que devem encontrar um entendimento, um consenso, para ver se mesmo estando na oposição, oposição não significa destruição", disse o antigo primeiro-ministro timorense.

Timor-Leste: ONU anuncia que deixará de colaborar com Comissão de Verdade e Amizade


Washington, 26 Jul (Lusa) - A ONU anunciou hoje que deixará de colaborar com a Comissão de Verdade e Amizade, criada por Timor-Leste e Indonésia para investigar os factos violentos, que incluem crimes contra a Humanidade, ocorridos em 1999 após a ocupação indonésia.

Numa declaração divulgada em Nova Iorque, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, anunciou através de um porta-voz que o pessoal da ONU foi também instruído a não apoiar o trabalho da CVA.

O porta-voz acrescentou que os termos de referência da CVA "prevêem a possibilidade" e "não excluem" este órgão de "recomendar uma amnistia para actos que constituem crimes contra a Humanidade, uma grave violação dos Direitos Humanos ou graves violações da lei humanitária internacional".

"A política das Nações Unidas, contudo é que a organização não pode apoiar ou aceitar amnistias para casos de genocídio, crimes contra a Humanidade, crimes de guerra ou graves violações de direitos humanos ou fazer algo que as possa fortalecer", salientou o porta-voz, acrescentando ser intenção do secretário-geral "respeitar esta posição por uma questão de princípio".

"A não ser que os termos de referência sejam revistos, para cumprir os padrões internacionais, funcionários da ONU não testemunharão, portanto, nos trabalhos da Comissão, nem tomarão quaisquer medidas que possam apoiar o trabalho da CVA, fazendo assim avançar a possibilidade de serem concedidas amnistias em actos desse género", lê-se na declaração.

O porta-voz recordou que a posição da ONU quanto à CVA tinha sido "claramente" definida num relatório anteriormente submetido pelo secretário-geral ao Conselho de Segurança da ONU.

JP/EL.

Lusa/Fim

Militantes preocupados com indefinição do governo no Timor


Militantes preocupados com indefinição do governo no Timor

Díli, 28 Jul (Lusa) - A dois dias da reunião do novo Parlamento timorense, a Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (Fretilin) analisou neste sábado, perto de Baucau (leste do Timor Leste), a situação política pós-eleitoral e identificou "a preocupação dos militantes" sobre a formação do próximo governo.

O presidente José Ramos Horta enfrenta dificuldades para compor o novo governo em razão da Fretilin ter vencido as eleições legislativas de 30 de junho sem maioria absoluta (29% dos votos válidos). Uma frente alternativa foi formada por quatro partidos oposicionistas, que reivindicam participação na nova gestão.

O professor do ensino fundamental de Bacau Saturnino da Costa foi um dos muitos militantes da Fretilin que compareceram à aldeia de Bucoli para ouvir dirigentes da legenda situacionista, como Arsênio Bano, José Reis e David Xímenes.

"O presidente da República tem que convidar o partido mais votado e depois dar solução de estabilidade", declarou à Agência Lusa o professor, enquanto os militantes colocavam questões aos dirigentes num pavilhão junto à igreja de Bucoli.

"Eu vim aqui porque voto Fretilin e voto Fretilin porque foi o partido que lutou pela nação, contra a maioria Indonésia", disse Costa.

Dentro do pavilhão, durante várias horas, os militantes e quadros distritais do partido majoritário "manifestaram a sua preocupação pelo atual momento político", afirmou à Agência Lusa o secretário-geral-adjunto da Fretilin, José Reis.

"Vamos tentar explicar aos militantes" as opções de Ramos Horta, disse Reis, "mas os militantes entendem todos os passos, conhecem a Constituição e esperam que o presidente a respeite".

"Tudo indica que o presidente possa convidar a Fretilin para formar governo e essa é a expectativa dos militantes", afirmou Reis.

Sobre a hipótese constitucional de Ramos-Horta convidar uma aliança que assegure maioria parlamentar, o secretário-geral-adjunto respondeu que "a interpretação é muito vaga".

O artigo 109º da Constituição timorense, sobre o convite para primeiro-ministro e a formação de governo, tem sido analisado e disputado no debate político desde o anúncio da vitória da Fretilin sem maioria absoluta.

"Temos uma situação única que é diferente do passado. A nossa liderança tenta conseguir uma boa saída para a estabilidade deste país e a Fretilin propõe uma saída que vai contribuir para estabilizar este país", declarou o ministro do Trabalho e Reinserção Comunitária e novo vice-presidente do partido, Arsênio Bano.

Bano disse que a Fretilin "mantém contatos formais e informais com todos os partidos". "Continuamos a apoiar a iniciativa do presidente da República. Estamos abertos para discutir detalhes. O problema é que, do outro lado [entre as legendas de oposição que formaram a aliança alternativa], não há reação positiva."

"Um governo de inclusão mesmo para dois, ou três ou cinco anos, é a melhor solução para resolver os problemas do país", afirmou o dirigente da Fretilin.

A Comissão Política Nacional (CPN) da Fretilin reúne-se no domingo casa do secretário-geral do partido, o ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri, juntando os membros eleitos do Parlamento nacional.

Coalizão elege Xanana Gusmão primeiro-ministro do Timor-Leste


Díli, 28 jul (EFE).- A Aliança Majoritária no Parlamento (AMP), que controla 37 das 65 cadeiras do Legislativo no Timor-Leste, elegeu hoje Xanana Gusmão para ocupar o cargo de primeiro-ministro e Fernando Lasama para presidir a câmara.

A escolha foi feita à revelia da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), partido mais votado nas eleições legislativas do mês passado.

"Hoje, todos nós, membros da AMP, elegemos Xanana Gusmão como primeiro-ministro e Fernando Lasama de Araújo como presidente do Parlamento, esperando que o presidente José Ramos Horta nos encarregue, na próxima semana, de formar um Governo sem a participação da Fretilin", explicou à Efe o porta-voz da AMP, Cecilio Caminho, em Díli.

A eleição mostra que os partidos que conquistaram representação parlamentar nas eleições de 30 de junho não chegaram a um acordo para formar um Governo de união nacional, como pretendia o presidente.

"O Gabinete terá cerca de 30 membros, entre ministros e secretários de Estado", adiantou Caminho.

A AMP reúne o Conselho Nacional para a Reconstrução do Timor-Leste (CNRT), fundado por Gusmão, com 18 deputados, a Coalizão ASDT-PSD, que tem 11, e o Partido Democrata (PD), presidido por Lasama, com oito.

A Fretilin, que governa desde a independência, em 2002, obteve 21 cadeiras nas eleições.

O presidente timorense disse que em meados de na próxima semana anunciará o partido político encarregado de formar um Governo.

A Constituição do país estabelece que o presidente peça ao partido mais votado que forme o Executivo.

O Parlamento deve realizar a primeira sessão da nova legislatura nesta segunda-feira.
UOL Busca

Thursday 26 July 2007

«Risco de danos colaterais» com proibição de balas de borracha


As forças policiais internacionais em Timor-Leste receiam que a proibição do uso de balas de borracha pelas Nações Unidas "provoque danos colaterais", afirmaram diferentes fontes da missão integrada no país (UNMIT).


Documentos oficiais obtidos pela Lusa confirmam a grande preocupação causada pela decisão de Nova Iorque e a discordância dos responsáveis da UNMIT.

A proibição das balas de borracha foi ordenada pela Direcção de Operações de Manutenção de Paz (DKPO) em Nova Iorque na sequência de um incidente grave que vitimou duas crianças no Kosovo.

Operacionais e comandantes das forças policiais contactados pela Lusa em Timor-Leste alertam para o "esvaziamento perigoso" de meios de resposta que resulta da proibição das balas de borracha e dos chamados "bean bags", um tipo de cartucho com um cilindro de areia usado na Austrália.

O general Eric Tan, responsável máximo da UNMIT para o sector de segurança, admitiu à Lusa que a missão "está preocupada com a segurança dos seus elementos".

Eric Tan disse também esperar que a proibição das balas de borracha seja "temporária".

No terreno, porém, a realidade tem outra urgência para os agentes de segurança.

"Agora não há nada para enfrentar os agressores, entre o bastão e a munição real, a não ser o uso de gás lacrimogéneo", afirmou um agente envolvido no combate aos incidentes que ocorrem de forma quotidiana na capital timorense.

Esta situação foi notória no fim-de-semana passado, em duas noites de incidentes no Bairro Pité e Matadouro onde a GNR teve de utilizar granadas de gás que "fecharam" um terço do bairro.

Treze pessoas tiveram que recorrer a tratamento hospitalar devido ao gás.

Seis "cocktail Molotov" foram atirados contra militares da GNR sábado passado em Díli.

Outro oficial ouvido pela Lusa alerta para o facto de a proibição de balas de borracha "empurrar as forças da ordem para escolher um de dois extremos: ou evitar a proximidade dos agressores, o que não é bom, ou recorrer a munição real, o que vai provocar vítimas mais cedo ou mais tarde".

"Se usamos munição real nas situações de ordem pública habituais em Díli, o potencial para vítimas colaterais é enorme", adiantou a mesma fonte.

As balas de borracha eram usadas pelas forças autónomas de polícia de Portugal (o Subagrupamento Bravo da GNR), Bangladesh e Paquistão e pelos polícias portugueses integrados directamente na UNPol.

"Nos últimos dois meses, um total de 77 balas de borracha foram usadas pelas FPU", segundo informação prestada à ONU pelo chefe da UNMIT, a que a Lusa teve acesso.

O representante-especial do secretário-geral das Nações Unidas, Atul Khare, impôs a proibição da munição de borracha a 10 de Julho mas defendeu junto da DKPA a utilização desse tipo de balas.

"O uso de balas de borracha em operações policiais permite-nos evitar, até agora, o uso de armas letais" e atingir, "entre outros objectivos, uma resposta razoável e proporcionada contra as ameaças colocadas pelos agressores", explicou Atul Khare numa mensagem interna a que a Lusa teve acesso.

O chefe da missão refere a utilização de "armas ofensivas tais como catanas, dardos metálicos, lanças, fisgas, armas de fogo de fabrico artesanal, 'cocktails Molotov' e bastões de aço".

Atul Khare salienta também que as munições de borracha permitem "uma resposta não-letal para a gestão decisiva, a detenção e a dispersão de ajuntamentos ilegais".

As FPU e a UNPol estão limitadas, por enquanto, ao uso de granadas de dispersão (DBD), granadas de gás e a gás lançado por arma.

As Forças de Estabilização Internacionais (ISF) usam apenas munição real.

"Perante uma situação como as que temos que enfrentar todos os dias, agora de bastão em punho, quando alguém surgir a 5 ou 10 metros de nós atirando uma pedra ou um dardo, as ISF respondem a tiro - com bala real", nota um operacional das FPU.

"Nova Iorque não percebe que é um risco empurrar-nos a fazer o mesmo", concluiu o oficial, recordando que o país está "a poucos dias da inauguração do parlamento e do anúncio do novo governo".

Timor-Leste: PM australiano comemora aniversário em Díli


Díli, 26 Jul (Lusa) - O primeiro-ministro australiano comemorou hoje o seu aniversário junto do contingente das Forças de Estabilização Internacionais (ISF) em Timor-Leste, afirmando que "a Austrália não vira as costas ao povo timorense".

O Presidente da República timorense, José Ramos-Horta, aproveitou a visita de John Howard para pedir ao Governo de Camberra a permanência das ISF em Timor-Leste "até ao final de 2008", com uma revisão das forças estacionadas no país no final de 2007.

As Forças de Defesa Australianas (ADF) têm cerca de 1.100 militares de diferentes ramos em Timor-Leste, actuando em conjunto com o contingente de cerca de 150 soldados da Nova Zelândia, além de elementos da Polícia Federal integrados na missão das Nações Unidas (UNMIT).

As ISF não estão sob comando das Nações Unidas.

No encontro de cerca de meia hora entre John Howard e José Ramos-Horta, "abordou-se algumas questões relacionadas com segurança", declarou à imprensa o primeiro-ministro australiano.

Na reunião esteve presente o primeiro-ministro e ministro da Defesa timorense, Estanislau da Silva, e o chefe do Estado-Maior das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), brigadeiro-general Taur Matan Ruak.

"Não se discutiu o futuro das forças armadas timorenses", declarou à Lusa um dos participantes na reunião.

Em Junho, a divulgação do relatório sobre o futuro das F-FDTL provocou a indignação do chefe da diplomacia australiana, Alexander Downer, e uma troca azeda de declarações entre Camberra e Díli.

"Eu partilho várias opiniões do meu ministro dos Negócios Estrangeiros, incluindo essa", respondeu John Howard quando questionado pela agência Lusa se concorda com a reacção provocada pelo relatório "Defesa 20/20".

John Howard sublinhou a "afeição, interesse e apoio do Governo da Austrália por este país, que ocupa um lugar especial no coração de muitos australianos".

O primeiro-ministro australiano manifestou-se "orgulhoso do papel que [Camberra] desempenhou, a convite do Governo timorense, na ajuda a estabilizar a situação".

"Não viramos as costas ao povo de Timor-Leste, mas compreenderão que o objectivo é sempre a autosuficiência e capacidade" do país, notou John Howard, acrescentando que as ISF têm como objectivo "o dia em que a presença de forças e polícias estrangeiros não será necessária".

"Não ficamos indefinidamente. Não é esse o nosso objectivo", explicou John Howard.

Depois do Palácio das Cinzas, John Howard e a sua mulher almoçaram no heliporto de Díli, base dos meios aéreos das ISF, onde as tropas australianas e neozelandesas comemoraram os 68 anos do primeiro-ministro.

John Howard dirigiu-se às tropas do seu país e aos "kiwis" neozelandeses no hangar dos helicópteros Huey e Black Hawk, recebido pelo comandante das ADF, marechal Angus Houston, e pelo comandante das ISF, brigadeiro-general Mal Rerden.

John Howard regressou a Darwin, Austrália, ao princípio da tarde. Amanhã, o primeiro-ministro estará em Bali, Indonésia, com o Presidente Susilo Bambang Yudhoyono.

PRM.

Lusa/fim

Falta só 'decisão política' para acordo ortográfico no Brasil





O Brasil aguarda apenas uma decisão política interna para a aplicação do acordo ortográfico, disse nesta quarta-feira (25) à Agência Lusa o presidente da Comissão de Língua Portuguesa do Ministério da Educação, Godofredo de Oliveira Neto.

"Falta uma decisão política para darmos início à fase de transição, principalmente no que diz respeito às editoras brasileiras", afirmou Oliveira Neto, que também é diretor do Conselho Científico do IILP (Instituto Internacional de Língua Portuguesa) e subsecretário de Planejamento da Educação do Estado do Rio de Janeiro.

Logo que as novas regras comecem a vigorar, inicia-se um período de transição para que os Ministérios da Educação da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), associações e academias de letras, editores e produtores de materiais didáticos possam, gradualmente, reimprimir livros, dicionários, cartilhas e outros materiais.

Oito países fazem parte da CPLP: Brasil, Portugal, Timor Leste e cinco nações africanas (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe).

Segundo Oliveira Neto, a Colip (Comissão para Definição de Ensino-Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa) "está de prontidão para ser acionada a qualquer momento" para aplicar o acordo.

A medida incentivará a utilização do idioma pelas organizações internacionais, já que existência de duas ortografias prejudica a divulgação da língua portuguesa e a sua prática em eventos internacionais.

Amorim
Recentemente, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse à Lusa que "seria muito importante, do ponto de vista editorial, que Brasil e Portugal estivessem juntos quando tiver início o acordo ortográfico.

Amorim recusou-se a responder, entretanto, se o Brasil adotaria as novas regras ortográficas sem Portugal.

Em princípio, a ortografia comum da língua portuguesa já pode entrar em vigor, porque três dos países lusófonos - Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe - já ratificaram o acordo e também o protocolo modificativo ao acordo, aprovado em julho de 2004, em São Tomé, durante cúpula da CPLP.

O protocolo modificativo permite que o acordo vigore com a ratificação de apenas três países da CPLP, sem a necessidade de aguardar que todos os outros membros da organização adotem o mesmo procedimento. Portugal já ratificou o acordo, mas ainda falta ratificar o protocolo modificativo.

Alterações
Segundo especialistas, as modificações propostas no acordo devem alterar 1,6% do vocabulário de Portugal. Os portugueses deixarão de escrever "húmido" para usar a nova ortografia - "úmido".

Desaparecem também da língua escrita em Portugal o "c" e o "p" nas palavras onde estas letras não são pronunciadas, como em "acção", "acto", "baptismo", "óptimo".

No Brasil, a mudança será menor, já que apenas 0,45% das palavras terão a escrita alterada. O trema utilizado pelos brasileiros desaparece completamente.

Outro exemplo é o fim do acento circunflexo nas paroxítonas terminadas em "o" duplo ("vôo" e "enjôo"), usado na ortografia do Brasil.

O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação do "k", "w" e "y". Apesar das mudanças ortográficas, serão conservadas as pronúncias típicas de cada país.

Tropas australianas ficarão no Timor-Leste até o fim de 2008


Díli, 26 jul (EFE).- As tropas australianas que entraram no Timor-Leste no ano passado com autorização da ONU para ajudar o Governo a sufocar a violência e restabelecer a normalidade ficarão no país até o fim de 2008.

O primeiro-ministro australiano, John Howard, durante uma breve visita à antiga colônia portuguesa, acertou a permanência das tropas numa reunião com o presidente timorense, José Ramos Horta.

"Hoje, na conversa com o primeiro-ministro, pedi que as forças australianas fiquem até o fim de 2008. Podemos fazer uma revisão anual em termos de tamanho e números", disse Ramos Horta.

O líder timorense agradeceu o compromisso da Austrália com seu povo e suas aspirações de independência.

Howard, quem hoje completou 68 anos, lembrou que as tropas se encontram no país com mandato da ONU, para ajudar os timorenses.

"O Timor-Leste tem um lugar especial no coração de muitos australianos. Estaremos aqui pelo tempo que nos pedirem. E o melhor para o povo do Timor-Leste é querer que permaneçamos aqui, obviamente com autorização da ONU. O nosso propósito é estabilizar a situação", afirmou Howard.

A nação atravessa uma delicada situação, sem sair completamente da crise política aberta em 2006. Nas eleições legislativas de 30 de junho, a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) venceu com 21 deputados. A maioria é insuficiente para governar com segurança num Parlamento unicameral de 65 cadeiras.

Ramos Horta disse ontem que anunciará na próxima semana o partido encarregado de formar um Governo.

Presidente timorense anunciará que seu partido governará na próxima semana


Dili, 25 jul (EFE).- O presidente do Timor-Leste, José Ramos Horta, disse hoje à imprensa em Dili que na próxima semana anunciará que seu partido se encarregará da formação do Governo, se os demais com representação parlamentar continuarem sem estabelecer um acordo.

"Se na próxima semana, após a inauguração do Parlamento no dia 30 de julho, os partidos não aceitarem minha proposta, então tomarei a decisão estabelecida na Constituição, que será anunciada em algum momento em meados da semana", disse o líder.

"Há duas opções: o partido mais votado, que é o Fretilin (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente), ou o grupo de partidos que têm assegurada a maioria no Parlamento", explicou o Chefe de Estado, que tenta desde as eleições do dia 30 de junho conseguir a formação de um Governo de união nacional.

A Constituição ampara o direito do partido mais votado de formar Governo, disposição que o Fretilin exige que seja cumprida, embora reconheça que encabeçará um executivo condenado ao colapso.

Os timorenses depositavam suas esperanças em que as eleições permitiriam a formação de um Governo forte capaz que restabelecer a união nacional e de ajudar o país a superar a crise política que explodiu em 2006 e que determinou o retornou da ONU, mas o resultado foi espelho das divisões.

Neste contexto, o primeiro-ministro do Timor-Leste, Estanislau da Silva, do Fretilin, anunciou hoje que o problema das dezenas de milhares de pessoas em centros de deslocados não tem uma solução rápida, após se reunir com o enviado da ONU e coordenador humanitário, Fin Reske-Nielsen.

Cerca de 150 mil pessoas fugiram de suas casas entre abril e maio de 2006 por causa da violência e da instabilidade.

O Timor-Leste conseguiu sua independência no dia 20 de maio de 2002.

Governo e ONU lançam apelo de 17,9 milhões de dólares


A comunidade internacional, através das Nações Unidas e de organizações de assistência, lançou hoje com o Governo de Timor-Leste um apelo para reunir 17,9 milhões de dólares (13 milhões euros) em ajuda humanitária, até ao final de 2007.


O responsável humanitário da missão internacional (UNMIT) anunciou também que a distribuição alimentar a metade da população de Díli terminará, nos moldes em que é feita actualmente, dentro de três meses.

A revisão semestral do apelo consolidado para Timor-Leste, discutida hoje numa sessão pública em Díli, coloca em 34,2 milhões de dólares (24,9 milhões de euros) o valor da ajuda necessária para garantir durante este ano a assistência aos deslocados da crise de 2007.

Um número estimado de 100 mil deslocados continuam a viver em campos ou em residências provisórias na capital e por todo o país, segundo a última actualização, divulgada há uma semana pelo ministério do Trabalho e da Reinserção Comunitária.

Díli tem pelo menos 30 mil deslocados, segundo os mesmos dados, parte de uma população de 69 mil pessoas (metade dos residentes da capital) que continuam a depender de ajuda alimentar providenciada pelo Governo e pelas Nações Unidas.

Esta é uma situação "que não pode continuar", declarou o responsável humanitário UNMIT, Finn Reske-Nielsen.

"As pessoas deste país têm que se erguer e andar por si próprias", acrescentou.

"Enquanto dermos comida gratuita a tanta gente, estaremos a prejudicar a recuperação económica de Timor-Leste", sublinhou Finn Reske-Nielsen.

O chefe da componente humanitária da UNMIT anunciou que, depois de vários adiamentos, a assistência alimentar (o chamado "food blanket" na gíria da ONU) "tem de ser progressivamente diminuída" e apenas será feita em "mais três distribuições nos próximos três meses".

"Depois disso, será feita assistência alimentar segundo critérios de vulnerabilidade e só essas pessoas receberão apoio".

O primeiro-ministro Estanislau da Silva referiu que o processo de saída dos deslocados de vários campos em Díli começou com a instalação de 96 famílias em Becora, provenientes do Hospital Central Guido Valadares.

O Governo pretende resolver "com mais urgência" a situação dos deslocados em "campos críticos" como o de Guido Valadares, que Estanislau da Silva definiu como "uma ameaça à saúde pública", o do Aeroporto Internacional e o que fica situado diante do porto de Díli.

"Uma das dificuldades é que até hoje não existe um processo de registo eficaz dos deslocados", referiu Finn Reske-Nielsen.

Wednesday 25 July 2007

Consultas para formação de governo no Timor vão até dia 30


Díli, 25 Jul-Lusa - O presidente do Timor Leste, José Ramos Horta, anunciou nesta quarta-feira ao país que as consultas para a formação do chamado quarto governo constitucional continuarão até 30 de julho. O líder tem se reunido com representantes de outros partidos nos últimos dias para tentar chegar a um consenso sobre as nomeações.

A Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (Fretilin), partido que venceu as eleições legislativas de 30 de junho sem maioria absoluta (29% dos votos válidos), vem enfrentando dificuldades para compor a nova estrutura depois que as quatro maiores legendas de oposição se agruparam na Aliança para Maioria Parlamentar (AMP), propondo um governo alternativo.

"Dadas as circunstâncias de fragilidade, que o eleitorado não deu mandato claro a nenhum dos partidos, achei e continuo a achar que o cenário ideal é apontarmos para um governo de grande inclusão", declarou Ramos Horta.

O presidente timorense explicou que a sua proposta é um Executivo "que envolva a maioria dos partidos, com distribuição eqüitativa de lugares no governo".

"Quanto ao lugar de primeiro-ministro, vamos ver", acrescentou Ramos Hortas, em entrevista coletiva no Palácio das Cinzas, sede do governo. "Espero até dia 30, para o Parlamento estar constituído, para anunciar [um governo segundo] a minha modalidade preferida ou uma variante dela".

"Se faço consultas é para auferir alguma coisa, para saber qual das duas opções garante estabilidade governativa", um governo liderado pela Fretilin ou pela AMP. "Não se faz consultas por fazer. Faço diálogo com todos, ouço todos", afirmou o presidente.

Ramos Horta ouviu nesta quarta-feira o bispo de Díli, d. Alberto Ricardo da Silva, representantes do Movimento Unidade Nacional para a Justiça (MUNJ) e a ministra da Administração Estatal, Ana Pessoa, eleita deputada para o novo Parlamento pela Fretilin.

Sobre a audiência com Ana Pessoa, o presidente disse que se inseriu na série de contatos que tem feito com líderes da Fretilin. "Não tenho candidatos a primeiro-ministro. Só os partidos."

Conselho de Ministros da CPLP é adiado para novembro


Lisboa, 24 Jul (Lusa) - O Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), previsto para 27 de julho, foi adiado para novembro ainda sem data ainda definida, informou nesta terça-feira a ministra das Relações Exteriores da Guiné-Bissau, Maria da Conceição Nobre Cabral.

A reunião entre os coordenadores dos oito países da CPLP foi realizada na sede da organização, em Lisboa. Durante o encontro, foi aprovado o Plano Indicativo de Cooperação (PIC), para o triênio 2007/2009.

"O PIC é extremamente importante, porque pela primeira vez temos um programa integrado de projetos de cooperação, para os quais vai ser necessário garantir o financiamento", disse o secretário executivo da CPLP, embaixador Luís Fonseca.

Inicialmente, o PIC deveria ser colocado em prática no biênio 2007/2008, mas precisa de aprovação formal pelo Conselho de Ministros. Como a reunião foi adiada para novembro, o prazo foi ampliado.

O projeto engloba áreas como educação, saúde, agricultura, sustentabilidade das sociedades e criação de parcerias para o desenvolvimento.

Pela primeira vez uma reunião oficial do grupo teve a presença de representantes da Guiné Equatorial e das Ilhas Maurício. Ambas detêm o estatuto de observadores na CPLP desde 6ª Conferência de Chefes de Estado da organização, realizada em julho de 2006.

Oito países fazem parte da CPLP: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau (que atualmente ocupa a presidência da instituição), Moçambique, São Tomé e Príncipe, Portugal e Timor Leste.

Guiné-Bissau

A chefe da diplomacia guineense, Maria da Conceição Nobre Cabral, disse que o encontro da CPLP também debateu a próxima reunião do Grupo Internacional de Contato para a Guiné-Bissau (GIC-GB), que será realizado em setembro, paralelamente à Assembléia Geral da ONU, em Nova Iorque

O grupo foi criado em setembro de 2006 para ajudar a consolidar o regime democrático e as instituições do país africano, abaladas com a guerra civil do final da década de 1990.

A chanceler também se mostrou otimista em relação à 2ª Cúpula UE/África, marcada para 8 e 9 de dezembro, em Lisboa. O encontro vem sendo adiado desde 2003 devido às sanções do bloco europeu ao Zimbábue.

Tuesday 24 July 2007

Grupos rivais envolveram-se em confrontos por causa da formação do novo governo


A dificuldade em formar o novo governo de Timor-Leste provocou uma onda de confrontos entre grupos de jovens rivais nas ruas de Dilí. Pelo menos seis pessoas ficaram feridas.

As forças de segurança das Nações Unidas usaram gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar os manifestantes.

Após uma explosão numa base australiana, dezenas de jovens invadiram as ruas da capital e envolveram-se em violentos confrontos. Na origem da violência está a formação do novo governo. As eleições legislativas realizaram-se no passado dia 30 de Junho mas ainda não se sabe quem será o próximo primeiro-ministro.

A Fetelin de Mari Alkatiri foi o partido vencedor, mas numa manobra surpresa o ex-presidente Xanana Gusmão conseguiu formar uma aliança de pequenos partidos que garante uma maioria parlamentar.

A decisão cabe agora ao presidente Ramos Horta. O Chefe de Estado pode optar por excluir do governo o partido mais votado. A nova Assembleia Legislativa toma posse no próximo dia 30 de Julho.
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Reinado completa amanhã um ano em fuga


Faz amanhã um ano que o major Alfredo Reinado está em fuga -acusado, armado e cercado - desde que foi preso em Díli na posse de material de guerra


É complexa a situação no terreno e as implicações do caso do ex-comandante da Polícia Militar, um dos rostos da crise que sacudiu Timor-Leste de Abril a Junho de 2006.

Suspeito de homicídio num confronto com elementos das Forças Armadas, o major é acusado de posse ilegal de material de guerra e rebelião contra o Estado mas nunca foi expulso das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste, argumento, aliás, que usa para justificar o porte de armas pesadas.

Reinado é, desde final de Fevereiro, acossado pelo exército mais moderno do hemisfério, mas tem largueza de sobra para ser presença assídua na imprensa timorense e internacional.

Foi apoiado em diferentes alturas por veteranos da resistência à ocupação mas é venerado pelos jovens que desafiam o regime pós-independência nas favelas da capital e que reagiram, em minutos, ao ataque de tropas australianas em Same, no sul do país, a 3 de Março.

Objecto, durante meses, de uma investigação judicial em paralelo com um paciente processo negocial liderado por José Ramos-Horta e pelo Procurador-Geral da República, Longuinhos Monteiro, a situação de facto do militar pode resumir-se numa das suas últimas declarações lapidares: «Não quero a minha arma num caixote».

Alfredo Reinado foi surpreendido em Díli, numa residência civil, durante uma operação da GNR, no dia 25 de Julho de 2006.

O pelotão de Operações Especiais que entrou na residência fê-lo com o consentimento de Alfredo Reinado, «que assinou três autorizações de busca domiciliária consentida», afirmou à agência Lusa um elemento envolvido na operação.

O mandado de busca a residência solicitado, horas antes, «foi recusado pelo Procurador-Geral da República, tanto à GNR como aos australianos», declarou à Lusa uma fonte ligada ao processo.

Dentro da casa estavam, entre «caixas e caixas de rações de combate do exército australiano», cinco pistolas Colt-45 com 13 carregadores, quatro pistolas Glock-19 com sete carregadores, 47 carregadores de armas automáticas e dezenas de outras munições para armas de vário tipo, como HK33, Steyr, G3, além de uma granada de instrução e uma granada de fumo.

A GNR apreendeu este material. Foram as forças australianas, ao contrário do que por vezes é repetido pelo próprio, que levaram o major, após manterem sob cerco os militares portugueses que cercavam Reinado.

Colocado em prisão preventiva, o major evadiu-se da prisão de Becora a 30 de Agosto de 2006, à frente de meia centena de homens.

O facto de a alegada fuga ter sido «preparada e permitida» por elementos dentro e fora de Becora é um dado pacífico para antigos e actuais responsáveis da cadeia contactados pela agência Lusa.

Depois da crise de Abril e Junho, «Alfredo esteve em Aileu, esteve sob ordens do (então Presidente) Xanana Gusmão e cumpriu tudo aquilo que ele mandou», afirmou à Lusa o pai adoptivo do major, o empreiteiro Vítor Alves, apoiante da UNDERTIM nas legislativas de 30 de Junho.

«Eu também estive preso em Becora. Da cela até à estrada, tem 14 portas. Custa-me a acreditar que o menino saia com 50 e tal gajos sem haver coordenação. Ou então a prisão era um hotel. É de malucos. Devem ter preparado a abertura naquele dia e àquela hora, pelas 3h da tarde. Uma marcha de 50 gajos é uma companhia», referiu.

«Os reclusos evadiram-se porque alguns dos guardas prisionais o permitiram, mas fundamentalmente porque não havia a segurança exterior, que desde sempre foi solicitada, publicamente anunciada e fazia parte de documento oficial do Governo quando à missão das forças internacionais em Timor-Leste», acusou outra fonte ligada na altura à gestão prisional, ouvida pela Lusa.

Depois de meses de movimentações nos distritos ocidentais de Timor-Leste, Alfredo Reinado reapareceu na ribalta ao levar - ele falou de «requisição» - armas, munições e uniformes de dois postos da Unidade de Polícia de Fronteira em Maliana.

Do grupo de Reinado cercado em Same, no final de Fevereiro, cinco morreram devido ao ataque das Forças de Estabilização Internacionais (ISF).

Felisberto Garcia, antigo elemento da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da Polícia Nacional e que protegeu debaixo de fogo a fuga de Reinado em Same, deixou o major há três semanas e integra a segurança pessoal de José Ramos-Horta.

«Alfredo nem com os anjos aceita o diálogo», afirma o ex-deputado Leandro Isaac, que abandonou Reinado com o agente Garcia.

«O que ele quer mais? O mimo acabou. Alfredo vai ter de sofrer e passar por esta situação».

Sobre os objectivos da sua «luta», Alfredo Reinado explicou a Vítor Alves: «Há lume, logo há fumo. Se apagar o fumo sem apagar o lume, o fumo continuará no mato. É melhor apagar o lume». Isto é, «o Governo».

Lusa (Pedro Rosa Mendes)/SOL

«Ninguém sabe o que pensa Reinado», diz comandante australiano


O comandante das Forças de Estabilização Internacionais (ISF) afirmou que "ninguém sabe o que pensa Alfredo Reinado" mas adiantou em entrevista à agência Lusa que "não há nenhuma ameaça significativa à segurança em Timor-Leste".


"Aprendi muitas coisas no meu tempo aqui, mas uma delas foi não pensar que é fácil perceber o que lhe vai na cabeça".

"O comportamento de Alfredo Reinado muda constantemente", declarou o brigadeiro-general Mal Rerden, comandante das tropas australianas e neozelandesas que integram as ISF.

"Ele tem uma personalidade complexa. Revela um lado de mentalidade militar 'machista' que, muitas vezes, se atravessa numa abordagem mais lógica da situação", analisou o oficial australiano.

Como adversário, Mal Rerden detecta em Alfredo Reinado "influências e prioridades opostas: algumas vezes parece pensar apenas nele próprio e noutras parece responsável por muito mais gente", acrescentou o brigadeiro-general das Forças de Defesa Australianas (ADF).

O major Alfredo Reinado, sobre quem pende um mandado de detenção, é alvo de uma operação de captura pelas ISF desde o final de Fevereiro de 2007.

Questionado sobre se, em algum momento, deu uma ordem directa e operacional às suas tropas para interromper a captura de Reinado, Mal Rerden respondeu apenas que "as ISF estão em Timor-Leste para garantir um ambiente seguro".

"A dificuldade do terreno" é a explicação de Mal Rerden para o facto de um fugitivo com cerca de 20 homens ter escapado durante 5 meses a uma força internacional de 1250 soldados.

"Em Timor-Leste, quem quiser escapar a coberto da noite e esconder-se na montanha consegue fazê-lo, como sempre aconteceu no passado", recordou o comandante das ISF.

"Esta é a realidade e, para impedir isso, seriam necessários dezenas de milhares de homens".

"Os timorenses têm muita experiência em esconder-se no mato e infelizmente isso deu-lhes várias capacidades e conhecimento em partes remotas da ilha", explicou o comandante australiano.

"Os líderes timorenses foram incrivelmente pacientes com Alfredo Reinado", afirmou também Mal Rerden.

O brigadeiro-general, entrevistado pela Lusa no quartel-general das ISF em Díli, Camp Phoenix, a poucos dias do final da sua missão em Timor-Leste, declarou-se "muito satisfeito" com a "melhoria constante da situação de segurança".

Mal Rerden sublinhou que tem "muito orgulho" no contingente que chefiou desde o final de Outubro de 2006.

"Não é fácil a um exército agir em operações de manutenção de paz", explicou o oficial australiano, "mas os militares das ISF foram sempre muito profissionais e muito controlados".

Dos onze meses que passou em Timor-Leste, Mal Rerden diz ter aprendido, "em primeiro lugar, a resiliência dos timorenses".

"É gente muito, muito dura, com uma grande capacidade de resistência, em circunstâncias diferentes, tanto fisica como psicologicamente".

"A segunda coisa é a adaptabilidade dos timorenses, a sua versatilidade. Perante uma dada situação, conseguem encontrar uma maneira de contornar, ou passar por cima, ou lidar com uma situação em que a maior parte das pessoas ficaria bloqueada", declarou Mal Rerden.

"Mesmo no sentido político, são muito flexíveis e acho isso interessante".

"A última coisa que também me surpreendeu foi que, sendo pessoas tão pobres e sem privilégios, os timorenses ainda consigam ser felizes e estejam interessados e em condições de participar na vida", acrescentou o comandante australiano.

O brigadeiro-general, que desempenhou missões em várias representações diplomáticas da Austrália na Europa e Médio Oriente, regressa ao seu país para funções nas ADF.

Xanana Gusmão abandona reunião com o Presidente Ramos-Horta


Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), abandonou hoje a reunião da Aliança para Maioria Parlamentar (AMP) com José Ramos-Horta, disseram fontes dos partidos envolvidos.


"A reunião correu muito mal", adiantou o presidente de um dos quatro partidos que integra a AMP e que participou no encontro com o chefe de Estado timorense.

Nenhum dos participantes contactados pela Lusa quis comentar o que se passou na reunião, "porque já antes de começar se fez um acordo de ninguém dizer uma palavra sobre o que lá foi dito", explicou um dirigente da AMP.

O Presidente da República reuniu hoje, em separado, com a Fretilin, ao princípio da tarde, e com a AMP, ao final do dia, na tentativa de encontrar uma saída para o impasse pós-eleitoral quanto à formação do novo governo.

Na primeira reunião da tarde, "a Fretilin repetiu que está pronta para ser convidada a formar governo", afirmou à Lusa o vice-presidente do partido e membro do actual Governo, Arsénio Bano.

"Aceitamos, no entanto, que o Presidente da República fale outra vez com os outros partidos, sobretudo com o CNRT", acrescentou Arsénio Bano.

O ministro do Trabalho e Reinserção Comunitária declarou que a reunião da Fretilin com José Ramos-Horta "correu bem".

Três cimeiras de líderes partidários, realizadas por iniciativa de José Ramos-Horta nos últimos dez dias, não produziram uma solução para a formação do IV Governo Constitucional.

Segunda-feira, perante a falta de acordo dos partidos para a formação de um governo de "grande inclusão", José Ramos-Hortas lançou a proposta de a Fretilin e a AMP governarem cada uma em metade da legislatura.

A AMP reúne os quatro maiores partidos da oposição: o CNRT, a coligação do Partido Social-Democrata e da Associação Social Democrática Timorense (PSD/ASDT) e o Partido Democrático (PD), além de contar com o apoio político do Partido de Unidade Nacional (PUN).

A Fretilin venceu as legislativas de 30 de Junho sem maioria absoluta, com 29,02 por cento dos votos.

O novo parlamento reúne-se pela primeira vez a 30 de Julho.

Monday 23 July 2007

Escultor português envia estátua de João Paulo II para Tacitolo


O escultor português Alves André é o autor de uma estátua do último papa católico, João Paulo II, que segue quarta-feira para Timor-Leste, depois de benzida, em Portugal, pelo Nobel da Paz, D. Ximenes Belo, noticia hoje a publicação Fátima Missionária.
Segundo o periódico, a estátua, de 6,5 metros de altura, 4,3 de largura e de 12,5 toneladas, é totalmente feita em bronze e terá como destino a localidade de Tacitolo, a oito quilómetros de Díli.
O trabalho da imponente obra, da autoria de Alves André, é a resposta a um desafio que lhe foi lançado pelo governo timorense.
"O objectivo de Alves André foi criar uma figura mais próxima das pessoas e menos institucional. A estátua excessivamente volumosa é, assim, representativa de um homem cheio que se demarcou no seu tempo. Foi o Papa mais preocupado com as questões da humanidade", apontou o escultor.
Quarta-feira, antes de seguir por via marítima para Díli, a obra será benzida pelo bispo timorense Ximenes Belo, numa cerimónia que contará com a presença do bispo do Porto, Manuel Clemente.
Timor-Leste, país profundamente religioso, já conta com um símbolo cristão: uma estátua do Cristo-Rei, junto à praia da Areia Branca, lá construída durante a ocupação indonésia do antigo território português.

Enfrentamento entre jovens e policiais deixa 13 feridos em Díli


Díli, 23 jul (EFE).- Treze pessoas ficaram feridas, quatro delas em estado grave, e várias foram detidas nos enfrentamentos de jovens com os corpos de segurança neste domingo em várias partes de Díli, depois de atacarem um heliporto protegido por forças australianas, informaram hoje fontes oficiais.

"Jovens estavam queimando pneus e colocando pedras, madeiras e rodas em fogo em várias zonas de Bairopite, Ailok Laran, Matadoru, na área de Vila Verde, no heliporto e na rua principal de Comoro. A Polícia, apoiada pela ISF da Austrália, utilizou gás e balas de borracha para dispersá-los", declarou à Efe a porta-voz da Polícia da ONU (UniPol), Monica Rodrigues.

"Não posso dizer quantas pessoas foram detidas, mas posso assegurar que aconteceram várias detenções entre a noite de ontem e esta manhã. As operações contra os arruaceiros ainda continuam", acrescentou Rodrigues.

A paramédica Teresinha Tagulai da Cruz, da unidade de urgências do Hospital Nacional de Díli, informou hoje que foram atendidos 13 jovens com ferimentos e quatro deles estão em estado crítico.

"A maioria tinha feridas menores, mas quatro deles estão em estado crítico. Os médicos cubanos os estão operando", explicou Tagulai.

As brigas violentas entre os membros de escolas de artes marciais se transformaram em uma constante na violência que sacode o Timor-Leste desde abril de 2006.

O porta-voz da Força de Estabilização Internacional (ISF, sigla em inglês) australiana, o comandante Ivan Benítez, relatou que a explosão aconteceu na zona que eles ocupam no heliporto de Díli.

"Uma casa ardeu até os alicerces, mas sem causar vítimas", detalhou Benítez.

Embora a investigação oficial ainda não tenha apresentado acusações contra ninguém, segundo testemunhas, jovens seguidores do fugitivo comandante Alfredo Reinado atiraram coquetéis molotov nas tropas australianas.

Reinado, um dos principais personagens da violência que sacudiu Timor-Leste entre abril e maio do ano passado, e que não abandonou essa antiga colônia portuguesa, pediu em diversas ocasiões a retirada do contingente da Austrália do país.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas criou a Missão Transitória no Timor-Leste da ONU (Unmit, sigla em inglês) em agosto do ano passado para ajudar as autoridades da jovem nação a restabelecer a ordem.

«Eleições intercalares estão fora de questão». diz Ramos-Horta


O Presidente da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta, declarou hoje que a terceira ronda negocial para a formação de governo foi inconclusiva mas excluiu a realização de eleições intercalares.


José Ramos-Horta afirmou que a reunião entre os líderes dos partidos com assento parlamentar "não produziu nenhum nome para primeiro-ministro nem o partido que formará governo".

O Presidente continuará as consultas com os partidos hoje à tarde (início do dia em Lisboa) e amanhã, porque pretende anunciar a solução para o impasse político na próxima quarta-feira.

"A eleições antecipadas, eu diria como os meus amigos franceses, 'hors de question', fora de questão", declarou o Presidente da República quando interrogado sobre a hipótese de eleições legislativas no início de 2008.

A Fretilin, o partido no poder, venceu as eleições de 30 de Junho sem maioria absoluta e uma coligação de quatro partidos da oposição reclama formar ou liderar o IV Governo Constitucional.

O Congresso Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), a coligação Partido Social Democrata/Associação Social Democrática Timorense (PSD/ASDT) e o Partido Democrático formaram a Aliança para Maioria Parlamentar (AMP) e recusam incluir um governo liderado pela Fretilin.

José Ramos-Horta repetiu hoje que a sua preferência vai para "um governo de grande coligação, ou grande inclusão".

"Há pontos de discordância e pontos de aproximação. Ainda há dúvidas sobre as vantagens e a viabilidade de um governo de grande inclusão mas também todos têm consciência de que cada elemento em si, ou a Fretilin ou a AMP, não reúne condições políticas para garantir uma governação estável e estabilidade neste país".

"Não havendo estabilidade, não é possível falar-se em recuperação económica", acrescentou o chefe de Estado.

Zacarias da Costa, presidente do Conselho Nacional do PSD, afirmou à agência Lusa no final da reunião de líderes que "para a Aliança o primeiro valor é a democracia, não é a estabilidade".

No final das três rondas negociais, o Presidente da República tem três opções: decidir por um governo liderado pela Fretilin; convidar a AMP a formar governo; propôr à Fretilin e à AMP que dividam a legislatura a meio, exercendo cada uma o poder durante dois anos e meio.

Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin, Arsénio Bano, novo vice-presidente do partido, e Xanana Gusmão, presidente do CNRT, não prestaram declarações à saída da reunião.

Sunday 22 July 2007

Xanana Gusmão é indicado por CNRT e pela Aliança para Primeiro Ministro de Timor, confirmou Mário Carrascalão

Xanana Gusmão conversando com o seu amigo o lendário "Manuel Carrascalão"



Díli, 22 Jul (Lusa) -Segundo o líder do PSD, o ex-chefe de Estado também será o nome proposto para o cargo pela Aliança. "Já temos o princípio de decisão e é provável que a escolha da AMP para primeiro-ministro recaia nele. Somos unânimes em que ele preenche a necessidade atual".


O ex-presidente Xanana Gusmão é a escolha do Congresso Nacional de Reconstrução do Timor Leste (CNRT) para ser o primeiro-ministro, caso a Aliança para Maioria Parlamentar (AMP) forme governo.


A decisão foi tomada em encontro da direção do partido, no sábado, "e esperava confirmação na reunião dos presidentes da AMP", disse o mesmo dirigente, que pediu anonimato "por razões de segurança".

O presidente do Partido Social Democrata timorense (PSD) e ex-governador do Timor Leste durante a ocupação indonésia, Mário Viegas Carrascalão, confirmou a indicação de Xanana Gusmão pelo CNRT como primeiro-ministro.

Segundo o líder do PSD, o ex-chefe de Estado também será o nome proposto para o cargo pela Aliança. "Já temos o princípio de decisão e é provável que a escolha da AMP para primeiro-ministro recaia nele. Somos unânimes em que ele preenche a necessidade atual".

Xanana Gusmão e Mário Viegas Carrascalão estiveram reunidos neste domingo com os presidentes dos outros partidos da Aliança, Fernando "La Sama" de Araújo, do Partido Democrático (PD), e Francisco Xavier do Amaral, da Associação Social Democrática Timorense (ASDT).

O Partido Democrático PD, o CNRT e a coligação da ASDT o PSD formaram uma AMP que propõe um governo alternativo à Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (Fretilin), que venceu as legislativas no Timor Leste sem maioria absoluta no final de junho.

«Reinado não compreendeu que a crise acabou>>


O ex-deputado Leandro Isaac, companheiro de cerco e de fuga de Alfredo Reinado, afirmou em entrevista à agência Lusa que o major fugitivo "não compreendeu que a crise entre 'lorosae' e 'loromonu' acabou".


"A realidade ultrapassou Alfredo", acusou Leandro Isaac, explicando a sua desilusão com o major Reinado, a quem acusa de ser "um menino mimado sem capacidade militar nem de liderança".

"Ele tardou a compreender que a crise entre 'lorosae' e 'loromonu' passou. Hoje não há nenhum [militar] F-FDTL que vá a Same ou Maliana (oeste) para matar mais pessoas", explicou Leandro Isaac.

"A crise acabou com estas eleições", insistiu o ex-deputado independente, referindo-se aos confrontos de há um ano entre timorenses originários dos distritos ocidentais e orientais do país.

"O apoio que Alfredo tinha há seis meses caiu drasticamente", afirmou, e a violência de rua a que se assistiu em Díli em Março "não seria possível hoje".

Numa extensa entrevista realizada a semana passada na sua residência, nos arredores de Díli, Leandro Isaac passou em revista os quatro meses que passou com Alfredo Reinado nas montanhas do sul do país e as razões que o levaram a juntar-se ao militar no cerco de Same e, recentemente, a abandoná-lo.

Leandro Isaac e um dos homens de confiança de Alfredo Reinado, Felisberto Garcia, regressaram do mato para Díli e entregaram as suas armas, há duas semanas, a José Ramos-Horta, na Presidência da República.

Leandro Isaac admite que mudou a sua opinião sobre José Ramos-Horta, que tem mostrado "um coração bom de mais" no processo negocial com Alfredo Reinado e os peticionários.

Na altura do assalto a Same pelas Forças de Estabilização Internacionais (ISF), a 03 de Março, Leandro Isaac referia-se ao então primeiro-ministro como "prémio Nobel da guerra".

"É verdade, fui muito duro". Hoje, o ex-deputado afirma que o chefe de Estado já foi longe demais nas oportunidades "extraordinárias" de diálogo e abertura, incluindo pernoitar em Alas "sob escolta armada, com bala na câmara, do grupo de Reinado".

"Ele não pensa, o Alfredo. As fases e as oportunidades, ele não aproveitou", acusa o ex-deputado.

Leandro Isaac é referido no relatório da Comissão Especial Independente de Inquérito à crise de há um ano como tendo "algum envolvimento" no ataque à casa do chefe do Estado-Maior das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), brigadeiro-general Taur Matan Ruak.

A Comissão recomendou a investigação de uma eventual responsabilidade criminal de Leandro Isaac nesse episódio, num dos dias em que foi visto com uma espingarda automática Steyr.

Leandro Isaac, na entrevista à Lusa, acusou o então comandante-geral-adjunto da Polícia Nacional, Abílio Mesquita, de "perder o controlo" e de liderar o ataque à casa de Taur Matan Ruak, a 24 de Maio de 2006.

"Acusam-me de atacar a casa quando fui eu que protegi a residência e garanti a saída das filhas do Ruak no início dos problemas, que não tinham culpa nenhuma de nada".

Leandro Isaac manteve nesses dias contacto "permanente" por telemóvel com Taur Matan Ruak - com quem tem laços familiares indirectos - e com José Ramos-Horta, então chefe da diplomacia timorense.

"A casa só foi saqueada quando os polícias que a guardavam por ordem do comandante da PNTL foram expulsos de lá por soldados australianos, que depois também foram embora", contou Leandro Isaac.

"Eu tinha ido a Ainaro visitar a minha mãe".

"Na altura, era tudo legal", comentou o ex-deputado sobre o confronto entre o grupo de Alfredo Reinado e as F-FDTL em Fatuahi, que provocou vários mortos.

"Nós queríamos livra-nos dessa situação. A Polícia estava toda desmantelada. Depois, era uma guerra civil que poderia acontecer naquele momento. Mas tudo era provocado", acusou Leandro Isaac.

Saturday 21 July 2007

Entrevista de Micael Pereira, enviado a Timor-Leste

Entrevista de Micael Pereira, enviado a Timor-Leste
EXC. : Jornal EXPRESSO

Numa longa entrevista feita quando começava a ser cercado pelo exército australiano, o líder dos rebeldes fala de um plano para o matar, numa tentativa de calar a verdade sobre a crise do ano passado.



O major Reinado com o tenente Salsinha e alguns dos seus homens, no dia 8 de Julho, no início do cerco montado pelos militares australianos


13:25 | quinta-feira, 19 JUL 07

Na véspera à noite ficou decidido. Num bairro de Díli alguém estaria à minha espera para me levar até ao refúgio do major Reinado e do seu grupo de militares rebeldes. Era domingo de manhã (dia 8 de Julho) e nas bermas das estradas muita gente fazia o caminho a pé para a missa. Combinada etapa a etapa, a viagem demorou cinco horas.
O destino não foi uma surpresa total. Reinado decidiu voltar, pela primeira vez, ao local onde fora atacado pelos militares australianos a 3 de Março deste ano, quando cinco dos seus homens caíram mortos. O todo-o-terreno parou numa estrada à saída do centro de Same, no lado sul de Timor, para o interior, não muito longe do posto de polícia controlado pela ONU, onde o major fora pessoalmente no sábado dar conta da sua presença.
Antes, entre Maubisse e Same, já na última parte do trajecto, o nosso carro tinha se cruzado com duas viaturas de militares australianos. Seguíamos na mesma direcção. Mais tarde, saberíamos porquê.
Na casa de uma família local, com crianças, velhos e galos a fazerem a sua vida como se nada se passasse, o Expresso contou 19 homens armados de metralhadoras, uniformes iguais e coletes à prova de bala. Um progresso considerável desde Junho do ano passado, quando o major esteve acantonado na pousada de Maubisse com uma dúzia de homens desalinhados.
E, agora, algumas notas prévias. A entrevista é publicada na íntegra e respeita um acordo com Reinado de não ser sujeita a cortes. Está transcrita seguindo a ordem natural das perguntas, tal como foram ditas no alpendre daquela casa de família.
Feita de improviso, além de se perceber uma espécie de retorno constante aos mesmos temas, a entrevista acaba por ter uma falha assumida pelo Expresso: por puro esquecimento, falta a pergunta sobre o assalto ao posto de polícia de Maliana, em Fevereiro, quando o major e o seu grupo levaram as metralhadoras com que andam armados agora.
Por último, quando Reinado fala sobre o episódio de Fatuhai, em que ele e os seus homens se confrontaram com um coluna do exército timorense chefiada pelo coronel Falur, o Expresso confirmou mais tarde que o filme feito pelos jornalistas presentes mostra que quem disparou primeiro foi o grupo do líder rebelde.

A entrevista, então.

O procurador-geral da República Longuinhos Monteiro emitiu salvo-condutos para alguns dos seus homens, para poderem circular livremente. Tem também um desses documentos?

Nós, não. Trata-se de uma acção ilegal. O procurador-geral da República devia saber qual é o lugar dele, quais são as suas responsabilidades. Ele não tem de vir negociar directamente com nenhum soldado no mato. Isso não é responsabilidade de um procurador-geral.

O que é que se passa nos bastidores?

O procurador quer-se envolver pessoalmente no assunto? Ele não está a fazer mais nada que não seja trabalhar para o seu próprio interesse – o seu interesse político – e não para o interesse público.

Como é que o procurador decide coisas e o presidente não decide nada?
Quem é a figura mais importante na hierarquia da nação?
Não é ao procurador que compete dar salvo-condutos ou passes de autorização. Todos os meus soldados estão debaixo do meu comando. Ele, se quiser, tem de falar directamente comigo. E eu não me relaciono com o procurador a não ser através do meu advogado. Qualquer carta que o procurador queira entregar tem de respeitar a legalidade. E nós temos uma carta do presidente sobre a suspensão da operação (de captura) para que se possa iniciar o diálogo para resolver a crise. Por isso, eu tenho liberdade para mim e para os meus soldados.

Tem essa ordem directamente do presidente?

Sim, uma ordem que diz que não serei detido pelos militares ou pela polícia. E, então, porque é que o procurador-geral está a agir de outra forma? Qual é a sua intenção? Um procurador vem ter com soldados, no meio de lado nenhum, e oferece-lhes dinheiro e outras coisas… para quê?

Está a dizer que o procurador-geral da República deu dinheiro aos seus homens?

A Garcia e a Susar, que está aqui e que quer ser uma testemunha de tudo isso.

Ofereceu-lhes dinheiro?

Sim.

Para quê? Para os soldados o abandonarem?

A intenção é dividirem o meu grupo para me tornarem fraco. Mas estão errados. Mesmo se estiver sozinho, eu não sou nenhum fraco, porque aquilo que eu defendo não é fraco. O que eu defendo são os direitos da maioria do povo; o que eu defendo é que a lei e a justiça funcionem; o que eu defendo é a soberania da nação, para que ela não seja desrespeitada por nenhum dos líderes. O que eles estão a fazer é jogar nos bastidores. Isso é ilegal e já lhes disse que estão a cometer mais um crime. Como sabe, apenas um dos homens entregou as armas.

Está a falar de Garcia?

Sim. Mas porque a família o pressionou, não que ele não seja um bom soldado ou que tenha desistido. Estão a tentar pôr veneno no coração dos rapazes através de Leandro Isaac, para que o sigam e para que assim ele ganhe mais poder ou confiança dos líderes nacionais.

Essa é a atitude do deputado Leandro Isaac?

Sim. Vá perguntar na aldeia. Andam a ameaçar as pessoas. Porque fazem isso, mesmo depois do presidente nos ter dado a carta para que a operação (de captura) pare? Porque continuam? Susar e os homens dele não desistiram. Pelo contrário, pedem para que venham mais forças internacionais, as F-FDTL e mais helicópteros e tanques para nos molestar. (Irritado) O que é isto?

Parece-lhe que se trata de uma manobra do procurador-geral da República e que ele está a agir sozinho?

Ele está envolvido com alguém.

Com quem?

Não é o momento de o declarar, mas ele não está sozinho. É apenas um mensageiro. Trabalha para alguém. Vê-se assim o quão independente é a lei neste país. O procurador é procurador ou é uma marioneta nas mãos de alguém? Esse é que é o problema e é por isso que nunca se vê paz ou justiça neste país. Os que estão no poder são os primeiros a entrar nesse jogo.

Mas quem é que pode ser o homem por detrás do procurador-geral da República?

É cedo de mais para dizer.

O jornalista australiano John Martinkus escreveu que Xanana Gusmão protegeu-o e pagou as suas despesas na pousada de Maubisse no ano passado. É verdade?

Um político pode mudar de pele muitas vezes, como uma cobra. Uma vez por dia, uma vez por mês, uma vez por ano, não interessa. Os políticos são sempre cobras. Mudam de ponto de vista quantas vezes precisarem. Podem ser heróis e vilões ao mesmo tempo. Os seus únicos objectivos são políticos. Seja quem forem as vítimas, para eles isso não é um problema. A verdade é que dizem que me estão a defender mas são também eles que dão ordens às forças internacionais para me matarem. Eles sabem que não há nada na constituição que diga que se pode dar ordem de morte a um cidadão.

Mas porque é que eles agem assim, então?

Acha que as ISF (Forças Internacionais de Estabilização) receberem ordens para o matar?

Claro. Eles não queriam que eu falasse, que dissesse a verdade. Não tiveram coragem para me enfrentar na mesa do diálogo, na hora de eu contar a verdade.

Mas sabe que uma ordem dessas depende do presidente?

Não do presidente sozinho, há mais gente. O presidente não decide sozinho.

Sente que Xanana primeiro o protegeu e depois o abandonou?

Eu não disse isso.

Mas pensa que possa ter acontecido isso?

Não penso isso e nem sequer falei disso.

É por isso que estou a perguntar!

Este ainda não é o momento de contar a verdade. Conto a verdade à mesa, cara a cara.

Porque não agora?

Não é o momento. Se eu contar o que está por detrás de tudo isto a história acaba cedo de mais, não concorda? Está a ouvir o helicóptero a voar sobre a minha cabeça (ouve-se o som das hélices a sobrevoarem o local da entrevista) apesar de o presidente ter mandado as forças internacionais e a polícia não incomodarem os meus movimentos.

Consegue ouvir? Então, o que é que aconteceu nos bastidores?

Não sente que é mais seguro para si dizer a verdade, para que a opinião pública a conheça?

(O barulho do helicóptero torna-se mais alto e cobre o som da gravação) Seguro ou não, é uma questão de tempo. Por enquanto, tenho de continuar a defender o que defendo.

Acha que ainda há o risco de ser morto?

Há sempre esse risco. Diariamente. Mas essa é uma decisão que cabe a Deus, a mais ninguém.
Ramos-Horta disse, em entrevista ao Expresso, que era livre de circular desde que nem o major nem os seus homens andassem armados.
Não é assim. Ele tem de falar com base no que está escrito no documento. Não diz lá isso.

O que diz, então, o documento?

Não diz nada sobre eu andar armado ou desarmado. Eu sei que só não posso ir armado a Díli porque é o centro de operações, é a capital. Mas não fora de Díli. Sou um homem livre, posso circular por todo o lado. Não cometi nenhum crime contra ninguém. Nós somos ainda militares.

Porque não haveríamos de poder circular?

Ramos-Horta também disse que sabe normalmente onde está e acabou a entrevista a revelar que o major se encontrava em Díli.
Há algum artigo na constituição ou na lei que diga que eu não possa estar em qualquer lado? Eu sou um homem livre, não sou um visitante, não sou um estrangeiro neste país.

Portanto, não vai haver salvo-condutos para si e para os seus homens?

Não, nós já temos isso. Só se dá salvo-condutos a civis que precisem de protecção.
Há um mandado de captura…
Não. Podem dizer isso, mas na carta diz que nenhuma autoridade me vai capturar.

Mais ninguém a não ser os australianos?

Por que é que têm de ser os australianos? Eles não estão cá para capturar ninguém, eles estão cá para o país inteiro. Não se devem envolver.
O juiz com o seu caso tem renovado continuamente o mandado de captura.
O presidente diz uma coisa, os juízes dizem coisas diferentes. Deixem que a realidade determine o que é a verdade. Eu não vou a lado nenhum. Quem quiser que venha tentar prender-me. Eu levo a carta do presidente para onde quer que vá.

Então, não se vai render?

Não conheço a palavra rendição. Eu só me rendo à minha lei. Toda a gente se deve render à lei. Mas ainda não é chegado o tempo.
Tenho lido que algumas pessoas da igreja estão a tentar dialogar consigo.
Não estão a tentar dialogar. Está a fazer confusão. Estão a servir de mediadores para o diálogo. Eu não dialogo com a igreja. Eles estão a ser ajudados pelo Human Dialogue Centre em Genebra e pelos seus representantes locais aqui, para organizar esse diálogo. Mas diálogo com quem?
Deixe-me devolver-lhe a pergunta.

Essa é a questão. Diálogo com quem?

Com a igreja, não.

Com quem é que quer dialogar?

Pergunte ao presidente. Com quem? Quem é que representará o presidente à mesa do diálogo? Eu só terei um diálogo de três pontos.

Quais são esses três pontos?

Diálogo militar, porque a crise começou dentro da instituição, com a divisão interna; diálogo político, porque o governo e o estado têm responsabilidade; e, como terceiro e último ponto, o diálogo judicial. O que significa que toda a gente tem de entrar no processo judicial.

Então, tem de ir para a prisão para poder esperar pelo julgamento, como fez Rogério Lobato.

Não me pode comparar com Lobato. Lobato é um criminoso, eu não. Eu sou um militar.

Sim, mas ele esteve preso enquanto esperou pelo julgamento.

No diálogo vai ser preciso discutir do que é que me acusam para me poderem levar para a cadeia. Não se pode simplesmente ir para a prisão sem se ter feito nada de mal. Que crime é que eu fiz? Há alguma queixa apresentada por alguém deste país?

Há o episódio de Fatuhai (incidente de que resultaram mortos).

Mas quem é que me acusa de ter atirado contra alguém ou de ter feito isto ou aquilo? O que fiz de errado? O que aconteceu com todos aqueles crimes cometidos em Díli? O que aconteceu com toda a gente que foi massacrada pelas instituições, debaixo da bandeira da ONU?

O que aconteceu aos que morreram à frente dos líderes e das paredes das suas casas e das casas dos internacionais em Díli? Eles não precisam de justiça porque são animais, não são humanos? (está exaltado) Portanto, que fiz eu de mal para me acusarem e quererem levar-me para a prisão? Nós vamos discutir isso no diálogo. Porque é que eu tenho de apanhar com as culpas dos outros, por coisas que não fiz?

Acredita que o presidente ou o governo querem realmente fazer esse diálogo consigo?

Essa é, de facto, uma questão importante. Qual governo, agora que estamos à beira de o mudar? De que governo é que está a falar? Ou todos os governos são um falhanço? Porque não conseguem governar bem. Por isso é que a crise começou. Se fossem bons líderes, não havia crise no país. Quem é que é responsável por isso? O governo e o estado têm alguma coisa a dizer.

Imagino que saiba quais foram os resultados das legislativas e o que se está a passar. Como vê estas eleições?

Eu não sou político. O que se pode ver nestas duas eleições (presidenciais e legislativas) é que não fizemos distúrbios, não nos envolvemos. Nem sequer votámos, porque queremos respeitá-los e deixá-los fazer a sua festa democrática. Que gozem desta liberdade democrática. Quem quer que ganhe agora, qual é a diferença? Mas quem irá seguir a constituição… porque ninguém pode governar à sua maneira, tem de governar através da constituição. É isso que nós vamos seguir – o que estiver escrito na constituição. Se uns (Fretilin) ganharam e não têm lugares suficientes e se os outros partidos têm mais (lugares), o que é que está escrito na constituição? Eles é que têm estado sentados no parlamento e aprovaram cada um dos artigos da constituição. Se eles aprovaram-nos assim, porque é que têm de ser teimosos e forçarem-se a liderar o país se nem conseguiram a maioria nem conseguem que isso seja legal aos olhos da constituição?

Há pessoas que dizem que a constituição defende a posição da Fretilin, outras dizem que defende a posição de Xanana…
Eles apenas falam, mas não esclarecem. Que artigo, que parte desse artigo, que número?

O artigo 106…

Quantos artigos há na constituição? Cada um deles tem o seu significado. E as pessoas têm de o respeitar. Se perderam os lugares no parlamento mas se podem forçar ir para o governo, é com eles. Mas se o artigo diz que o número de cadeiras no parlamento determina quem vai para o governo, têm de obedecer. Portanto, o problema não é quem vai liderar o governo, mas quem vai ter uma boa solução para resolver a crise.

No ano passado creio que disse que tinha a Fretilin como inimigo.

Eu não falei em inimigo. A Fretilin é apenas uma instituição, uma estrutura que nem sequer se pode levar ao tribunal ou para a cadeia. Não se pode culpá-la, tem de se culpar os líderes. Por isso não digo que a Fretilin seja um inimigo.

E Alkatiri? Lembro-me de afirmar que só descansaria quando Alkatiri fosse para a prisão.

E ele já foi para a prisão?

Não.

Bom, ele é que estava à frente do governo quando a crise aconteceu. Qual é a responsabilidade dele por isso?

Fizeram um inquérito e concluíram que não havia provas sobre a responsabilidade de Alkatiri.

Eles decidiram o que era melhor para se defenderem. Os juízes internacionais nem sentiram o assunto como timorenses.
Está a dizer que não é possível haver julgamentos justos com juízes internacionais?

Temos de ter a soberania desta nação nos tribunais. Podemos ser estúpidos e tolos, não falamos a mesma língua que vocês, mas temos o direito de fazermos as coisas à nossa maneira. Estão a interferir nos nossos assuntos internos mas não sabem o que sente um coração timorense, porque vocês não são timorenses. Não devem ter a responsabilidade de decidir o que é certo ou errado porque não pertencem a este lugar. E muitos dos juízes posso dizer que foram pagos. Foram pagos para virem para cá por certos grupos.

Pagos por quem? Por interesses internacionais?

Tudo isto é um jogo. Você sabe isso e pretende não saber para me poder perguntar. É um jogo. Que perfeito este sistema de justiça: os mais ricos, que têm o dinheiro, podem suportar a justiça do seu próprio bolso. Isso é o que está a acontecer.
Não pensa que o julgamento de Rogério Lobato foi justo?

O julgamento de Lobato só serve para o pôr na cadeia e poder encobrir os outros. E, com a garantia de que a Fretilin ganha o poder, ver aprovada uma amnistia que salvaguarda os outros. Lobato sacrificou-se.

É por isso que acha que há uma proposta para uma lei da amnistia aprovada pelo parlamento?

Como é que ao fim de seis meses ou um ano se pode aprovar uma amnistia se não houvesse já uma intenção inicial? Nós não somos estúpidos.

Acha que a amnistia serve para tirar Rogério Lobato da cadeia?

Sim.

E o major não vai também ser beneficiado por essa lei?

Não se pode dar uma amnistia a pessoas que nem sequer foram condenadas. Isso está errado. Eu nunca fui julgado. Para que é que preciso disso? Só os criminosos precisam de uma amnistia. Eu ainda nem fui a tribunal. E, sendo criminoso ou não, para que preciso dessa amnistia?

Mas sabe que há um entendimento entre Alkatiri e o presidente Ramos-Horta para avançar com uma amnistia?

Eles são um só. São os fundadores da ideologia, Alkatiri e Ramos-Horta. São eles que criaram a ideologia da Fretilin.
Estão, pelo menos, de acordo que tem de haver uma amnistia.
Eu já estive na prisão. Conheço quem lá está. Muitos dos presos são inocentes e não tiveram uma lei da amnistia. Não quiseram saber deles. Foram esquecidos. Porque é que eles não tiveram direito a uma amnistia? Só dão amnistia aos seus homens e aos seus amigos políticos, mesmo que tenham sido condenados como criminosos? Chama-se a isso justiça? Ou é máfia?

Mas está decidido, se necessário, a ir a tribunal?

Qual tribunal? O tribunal de Longuinhos Monteiro? O tribunal de Mari Alkatiri? O tribunal de Xanana? Ou o tribunal de Ramos-Horta? Só serei julgado pelo tribunal da minha nação, debaixo da verdadeira lei, não debaixo da lei de alguns líderes e que só funciona para o benefício pessoal deles.

E o que é que é preciso para ter uma verdadeira justiça em Timor?

Meu amigo, é preciso que nos sentemos e ponhamos a realidade em cima da mesa, em vez de nos escondermos dela.
Ramos-Horta esteve consigo há três ou quatro semanas.
Ele nunca se encontrou comigo. Isso é treta. Esteve com alguns dos meus homens. Ninguém me representou. Eles estão todos a mentir.

Eu li que houve um encontro.

Com Susar, foi com ele que estiveram.

Susar esteve com Ramos-Horta há três ou quatro semanas e o major não teve conhecimento disso?

Não.

E qual seria o propósito desse encontro?

Não sei porque é que o líder desta nação e o procurador-geral vieram ter com alguns dos meus homens. Vieram persuadir os meus soldados. Que credibilidade têm como líderes?

Acha que querem traí-lo?

Eles estão a tentar que os meus homens me traiam. Querem separar-me deles e dos peticionários, porque têm medo de enfrentar a verdade.

Nesse encontro estava Ramos-Horta e Longuinhos Monteiro?

Sim, com Leandro Isaac, Garcia e também Susar, que está aqui sentado. Pode perguntar-lhe directamente o que foi discutido no encontro e quanto dinheiro foi oferecido.

O seu homem Susar disse-lhe isso?

Qualquer coisa assim. Mas o melhor é perguntar-lhe, porque não gosto de falar pelos outros.

Pergunto-lhe depois. Estou a tentar perceber o que o major sabe e o que defende. Longuinhos Monteiro tentou oferecer dinheiro em troca de quê?

Eu não sei. Mas antes do encontro, Susar telefonou-me a contar do arranjo feito através de Longuinhos e Leandro Isaac para se reunirem com o presidente. E eu disse: «Avancem. São homens livres. Digam-lhes o que quiserem dizer-lhes». Mas não foram lá em minha representação. Porque o senhor Longuinhos e o presidente sabem que se quiserem falar comigo têm de o fazer através do meu advogado, que está contactável todos os dias. Porque têm de vir pelas costas?

Mas acha que esse encontro foi feito em troca de quê? O que é que pediram aos seus homens?

Eles querem destruir-me ao dividir o meu grupo e quebrar a unidade dos meus homens. Querem separar-me do tenente Salsinha, para me poderem apanhar mais facilmente.

Mas para apanharem-no mais facilmente não para se render, é isso?

Eu não me rendo a nenhum ser humano. Eu rendo-me à minha mulher, quando estamos a fazer amor. De resto, onde é que estaria a minha dignidade enquanto militar se eu me rendesse a alguém?

Acredita, então, que estão a tentar criar condições para que o possam matar?

Sim. E estão a tentar esconder a verdade. Porque se formos todos a tribunal, toda a gente tem de responder pelos próprios actos. Mas eles querem-me culpar de tudo, para que possam ser inocentes. Isso nunca foi assim.

Não tem implicado a responsabilidade de Xanana, mas no ano passado o major dizia que era leal a Xanana e isso mudou.

Não houve mudança.

Então, ainda é leal a Xanana?

Não entendo que noção vocês dão às palavras «leal», «ordem» e «comando». Porque Xanana dantes era presidente. E respeito-o como veterano da guerra pela independência. Não posso negá-lo, trago-o no meu coração.

Isso é o passado. Estou a perguntar-lhe sobre o presente.

Meu amigo, não se pode ir a esse ponto sem saber primeiro que Xanana foi criança antes de ser presidente. É preciso saber de onde ele vem. De momento, Xanana é Xanana. Conheço-o como veterano, como herói, não o conheço como político. Antes da crise, Xanana era o meu presidente e eu fui leal ao presidente, não a Xanana. Nem sequer somos família. Ele era presidente na altura. Mas podemos reavivar a memória: quando Ramos-Horta me levou a um encontro com ele, antes de entregar as armas em Maubisse, a primeira coisa que eu disse, antes de começarmos a falar, foi: «Eu, Alfredo, não vos adoro. Tudo o que me pedirem para fazer dentro da legalidade, eu cumpro. Fora isso, para o vosso próprio interesse, eu não faço nada». Pode perguntar ao general Matan Ruak. Ele sabe que eu sou assim.

O que é que Xanana e Ramos-Horta lhe pediram para fazer nessa altura, em Maubisse?

Xanana traiu-me como líder.

Porquê?

Porque disse-me que se obedecesse à ordem de dar todas as armas, seguindo as instruções do meu comandante supremo, ele dava a garantia que a crise iria ser resolvida.
Acha que a crise está resolvida? Está a piorar (outra vez exaltado). Eu mostrei-me disposto a entregar as armas, para ajudar a resolver a crise. E ele (Xanana) ainda me disse que eu podia tê-las de volta em dois dias. E ele sabe que me deu uma ordem por escrito a autorizar-me a ir para Díli no dia 24 de Julho. Estava tudo escrito. Mas porque é que as forças internacionais foram capturar-me, sem nenhum mandado escrito de lado nenhum?

E, depois disso, ele não diz nada? O que pensa você disso?

Tudo isto é um jogo. O próprio líder deste país está a brincar com a vida das pessoas. Isso é traição.

Nunca mais falou com Xanana desde esse encontro em Maubisse?

Não.

Mas porque é foi para Díli?

Porque queria ir para lá resolver a crise. Já tinha devolvido todas as armas.

A GNR encontrou armas na casa onde estava em Díli.

A GNR não encontrou armas. Encontrou munições. As armas fui eu que as entreguei. A GNR aqui é uma vergonha para Portugal. Eles dizem muitos disparates, mas são estúpidos.

Pensa mesmo isso?

Sim. Eles são profissionais ou são apenas bandidos?

Portanto, só havia munições dentro de casa.

Sim. Vocês, os media, não têm ido ao passado. Estão só preocupados em saber o que é melhor para amanhã. Não se podem esquecer que havia aquela carta. Há cópias dela por toda a parte. A ordem do presidente era para entregarmos as armas, apenas armas, não incluía o equipamento e outras coisas.

Tinha, então, direito de ter as munições naquela casa.

Não apenas o direito. Eu sou ainda um militar neste país, faço parte da polícia militar. Sou uma pessoa com mais direitos do que quaisquer outras de ter armas e munições. Sou um polícia militar. Nessa altura, eu levei as pistolas e as munições. Como é que poderia estar a esconder alguma coisa se, um mês antes, dei uma lista com os nomes e os números de tudo o que eu ainda tinha comigo e que seria entregue na continuação do processo? Longuinhos sabe isso.

Entregou uma lista com tudo o que ainda tinha naquela altura?

Sim. O número da pistola que eu tinha e o resto. Estava completo. Em Maubisse, tinha entregue as outras armas e a Austrália sabia que eu tinha ainda algumas comigo naquele momento.

Foi para a prisão e escapou. Porque decidiu fugir?

Em primeiro lugar, puseram-me na prisão sem se basearem na lei. Foi uma manipulação política. Eu não quero ser vítima de ninguém, para satisfazer os interesses dos outros. Não sou uma marioneta. Eles pediram-me para ficar seis meses na prisão. Mas ao fim de 30 dias perguntei aos meus advogados e eles disseram-me que não tinha havido seguimento da carta (de Xanana). Pus-me a andar.

Foi fácil fugir da prisão?

Sou um militar muito bem treinado. Não posso dizer como faço para o matar, pois não?

E o que é que aconteceu em Same, quando foi cercado em Março pelos australianos?

Pergunte ao presidente.

Quero ouvir a sua versão.

Pergunte ao presidente porque foi ele que deu a ordem. Foi uma ordem ilegal.

Foi surpreendido com o ataque?

Fiquei surpreendido porque pensei: que tipo de líder tolo decide fazer uma coisa destas sem qualquer legalidade? Como é que um líder está disposto a sacrificar a vida do seu próprio povo sem se preocupar com nada e usa forças internacionais que não estão cá com o propósito de provocar uma guerra? Estão cá para a segurança e estabilidade do país. Será que atacarem alguém representa segurança e estabilidade?

E eles estavam a tentar capturá-lo?

Estavam a tentar matar-me.

Era o que eles estavam a tentar fazer, matá-lo?

Sim, da forma como fizeram a aproximação. Foi como nos filmes: dispara primeiro, pergunta depois. Quer-se realmente prender alguém agindo assim?

Foi isso que aconteceu?

Claro. Alguém quis brincar ao Dirty Harry.

Quando deu conta dos militares australianos, já eles estavam a disparar?

Sim. Estavam a disparar de todos os lados, com um helicóptero Black Hawk e metralhadoras de soldados em terra. Tivemos de responder para nos defender. Aí têm de ir ao artigo 28.º da constituição: «Qualquer indivíduo tem o direito de se proteger».

Em Díli, muita gente acredita que os australianos não foram suficientemente duros consigo.

Eu não posso dizer isso. Não se pode dizer que uns militares estão mais bem treinados e preparados do que outros. É uma questão de tempo e sorte. Pode ser que ainda não tenha chegado o meu dia.

Pensa que pode ser atacado novamente pelas ISF tal como em Março?

Não sei. Mas venha o que vier, estou no meu país. Não vou a lado nenhum. Estou preparado para qualquer ataque. Mas peço o favor de justificarem a sua legalidade. Às forças internacionais, digo: não tragam uma nova guerra para este país.
Nas eleições presidenciais, disse que se a justiça não funcionasse iria perseguir pessoalmente os responsáveis pela crise no ano passado.
Não as pessoas, mas o estado, o governo que foi responsável pela crise.

Quer dizer que vai agir contra o estado?

Eu não…

O povo, então?

O povo é que o vai enfrentar. Quem é que tem mais direitos nesta democracia?

Quando estava a ser atacado em Março, Díli entrou num estado caótico, com estradas bloqueadas.

Terá de falar com esses rapazes de Díli.

Não estão ligados directamente a si?

A sorte foi terem sido só os rapazes de Díli. O que acontecerá se os rapazes do interior forem todos lá abaixo?

Acha que tem muito apoio popular?

Eu não sou um modelo, não sou um jogador de futebol para me poder tornar popular. Nem sou um líder político.

Não se sente um herói para uma certa juventude?

Não sou um herói. Faço o meu trabalho de servir o meu país.

Nalguns muros e paredes de Díli está escrito «Viva Alfredo».

Estamos num país democrático. Há liberdade de expressão.

Porquê que acha que o admiram?

Não sei. Pergunte-lhes e depois venha mo dizer.

E continua ligado aos peticionários (600 militares que saíram do exército para protestar contra uma alegada descriminação)?

Somos um só. Eu não estaria aqui se não fosse por causa deles. São militares e há uma crise dentro da instituição. Eu sou polícia militar e essas foram e são as minhas funções – pôr-me no meio.

Mas os peticionários já não estão juntos. Foi cada um para seu lado.

Por razões económicas. Onde quer que estejam, continuam a ser um só. Estão unidos, apesar de estar cada um na sua terra.
O presidente pensa vir a oferecer uma compensação monetária aos peticionários que não queiram regressar ao exército ou então terão de começar o processo de alistamento de novo.

Eles têm o direito de regressar à instituição, mas não se pode dizer que é para eles se realistarem. Eles nunca deixaram a instituição, por isso não é suposto começarem de novo. Mesmo estando na condição em que estão, continuam a ser militares ao serviço da nação.

Não é esse o entendimento das F-FDTL.

As F-FDTL não são propriedade de indivíduos, são propriedade da nação e do povo. Se algum indivíduo pensa assim então não tem lugar na instituição.

Não há, para si, nenhuma outra solução?

Há sempre uma solução desde que nos sentemos para conversar. Mas se há quem continue a ser teimoso e a acreditar na sua própria estupidez e nas suas próprias necessidades, então não haverá solução. Se os peticionários não forem reintegrados normalmente na instituição e se os problemas na instituição não forem resolvidos, um novo movimento será erguido. Todos servimos a mesma nação, a mesma instituição, mas debaixo de outro comando.

Matan Ruak parece não estar interessado em que os peticionários regressem como se nada tivesse acontecido, mas antes como novos candidatos.

Se Matan Ruak não se sente confortável com uma solução que os reintegre, ele pode se ir embora. A instituição não é dele, mas sim do povo. Pode levar as Falintil com ele, pertencem-lhe, mas não (pertencem) a nós, enquanto geração de um país independente.

Leu o relatório da comissão independente da ONU sobre o que aconteceu durante a crise de 2006?

Esse relatório é 99 por cento mentira.

É verdade ou não que…

Não é verdade. Fizeram-no sem me ouvir. Só quiseram ouvir um dos lados. Os internacionais dizem que vêm cá resolver os nossos problemas, mas nunca os vão resolver porque não sentem como nós. ONU, ONU, ONU. Diga-me em que parte do mundo há um exemplo de uma missão de sucesso desde que a ONU foi criada? Só há caos, meu amigo. Trata-se apenas de um projecto de como gastar o dinheiro da ONU. Se eles tivessem feito o trabalho de forma perfeita em 1999 não teria havido crise no país e a ONU não precisava de voltar.

Mas houve ou não houve um ataque coordenado a Díli, liderado por si, entre os dias 23 e 25 de Maio do ano passado?

Porque nessa altura o major era o líder militar dos peticionários.

Está errado, meu amigo. Não houve peticionários envolvidos no dia 23.
No dia 23 não, mas no dia 24 em Tibar.
Sobre isso não sei nada. Tem de perguntar ao Railos.
Estive com ele no ano passado. Havia dois líderes em Tibar no dia 24: Railos e Salsinha.
Salsinha não foi para a linha da frente. Ele não tinha armas sequer.

Bem, houve um ataque em Tibar…

Viu Salsinha carregando armas?

Não mencione ninguém que não tenha visto com os seus olhos. Não estou a defendê-lo. Se não estava lá, não estava lá.
No dia em que Ramos-Horta estava em Gleno para um encontro com os majores Tara e Tilman (a 23 de Maio de 2006), ele recebeu um telefonema a informar que havia um tiroteio em Fatuhai.

Então, ligou para o major enquanto estava no tiroteio. Confirma?

Sim, ele telefonou-me.

Ramos-Horta contou ao Expresso que no dia anterior tinha estado consigo em Ailéu e que o major prometeu não sair de lá. Mas a verdade é que saiu. Porque foi para Díli?

Eu estava a fazer o meu trabalho. Dependeu do que aconteceu no dia anterior. Alguém quer saber o que se passou no dia 22 de Maio?

O que é que aconteceu no dia 22?

Quem ordenou a um grupo de militares para ir a Fatuhai dar tiros nos polícias que tinham instruções para fazerem guarda naquela área e protegerem a população?

Eu recebi um telefonema dos polícias que estavam a ser alvejados para eu ir lá investigar o caso na manhã de dia 23. O meu trabalho, como polícia militar, era ir lá investigar. E porque é que fui atacado?

Eu tenho de me defender. Nessa altura, Ramos-Horta ligou-me. Então, eu tenho de parar para que me possam matar enquanto estou a ser atacado?

O relatório da ONU diz que estava nas colinas acompanhado por dois jornalistas.

Sim. Como é que se pode estar a atacar alguém enquanto se está a ter uma conversa agradável com jornalistas, como estamos a fazer agora? No relatório está escrito que eu estou a fazer uma emboscada.

E havia um grupo de militares do coronel Falur.

Foi ele que ordenou que abrissem fogo sobre si?

Sim. Nessa altura adoptámos o princípio de defesa militar. Quem disparou primeiro, não sei. Eu estava bem afastado.

Antes disso, pediu-lhes para irem embora?

Claro. Se eu quero fazer uma emboscada, peço-lhes primeiro para se irem embora?

Contou de um a dez e eles começaram a disparar?

Mesmo depois de contar de um a dez ainda disse para não dispararem. Os meus homens não dispararam antes do número dez ou mesmo quando chegámos ao dez. Portanto, quem disparou? Pergunte aos jornalistas porque é que eles fugiram, deixando-nos bem para trás. Não foi um filme, foi real.

Quem eram os jornalistas?

Fale com José Belo, um jornalista local.

Não houve, então, um ataque coordenado às F-FDTL?

Não. Nada disso.

Mas as F-FDTL entenderam que havia um ataque coordenado.

Eles entendem o que quiserem.

É que houve muitas coincidências.

As coincidências são um problema.

Houve um ataque a Tacitolu (quartel-general das F-FDTL, próximo de Tibar) e um ataque à casa do brigadeiro Matan Ruak, liderado por Abílio Mesquita…

O Abílio Mesquita faz parte da PNTL, eu não tenho qualquer comando sobre eles. Pergunte a Xanana, que o conhece muito bem. Vivem ambos próximos daquela aérea.

Abílio Mesquita é vizinho de Xanana?

Sim, moram muito próximos um do outro. E Lahana (onde vive Ruak) é muito próximo da casa de Xanana. Penso que o senhor Xanana tem alguma coisa para contar.

Sobre o ataque à casa de Ruak?

Sim. Porque tenho de ser eu? Eu não sei de nada.

Acredita que Xanana sabe alguma coisa sobre esse ataque?

Como líder da nação, deve saber.

Acha que ele consegue explicar o ataque?

É o único líder a viver perto. Deve saber alguma coisa. Pergunte também a Leandro Isaac, que também vive muito perto de Abílio Mesquita e da casa do brigadeiro. O melhor é perguntar às testemunhas.

Alguém estava a tentar matar o brigadeiro.

Eu não sei. Não fui eu. E não estava lá quando aconteceu.

Não teve nada a ver com isso?

Não tive nada a ver com Tacitolu, Ruak ou o (ataque ao) quartel-general da polícia. Se eu fiz alguma coisa de errado foi no dia 23 (em Fatuhai), só isso.

Quando é que foi a primeira vez que Xanana Gusmão falou consigo durante a crise do ano passado?

Não me lembro. Já foi há muito tempo. Não me lembro de quando foi a primeira vez.

Mas ele telefonou-lhe nesses dias.

Xanana nunca falou comigo por telefone. Nunca falámos por telefone.

Então, encontraram-se pessoalmente?

Pessoalmente, só quando fui levado por Ramos-Horta para um encontro (em Julho, antes da entrega das armas, em Maubisse).

Mas essa foi a primeira vez que falou com Xanana desde o início da crise?

Xanana falou comigo às vezes através de outras pessoas, quando tinha alguma coisa para me dizer, para me dar conselhos – «não faças isto, não faças aquilo, fica aqui, fica ali», como um líder normal.

Quem era o vosso mediador?

Pergunte-lhe. É ele que escolhe os seus homens. Xanana diz-lhe, se quiser.

Mas é verdade que Xanana pagou as suas despesas na pousada de Maubisse?

Pergunte a ele e ao dono da pousada. O que sei é que fiquei lá livre.

O major não pagou as despesas.

Acontece também que sou de Maubisse. Não é errado ficar lá.

Sim, mas eles cobraram-lhe a sua estada?

Não.

Não cobraram?

Vá lá perguntar às senhoras.

Fez declarações fortes nesta entrevista. Gostava de entender qual é para si a solução que lhe permitirá regressar a uma vida normal.

Eu tenho uma vida normal….

A sua vida normal seria em Díli.

Se ninguém me perturbar, eu tenho uma vida normal. Só não estou em Díli porque não quero atrapalhar o processo eleitoral.

Bom, mas o major está num esconderijo. Não se sente um fugitivo?

Foi muito difícil para si encontrar-me? Por acaso estou na selva? Olhe à sua volta. (Estamos num pequeno alpendre de uma casa isolada e há uma estrada a 30 metros onde passa um carro de polícia da ONU, vagarosamente) Aqui, fora de Díli, aqui é a minha casa. E eu posso estar em Díli sempre que quiser. Ninguém me pode dizer o contrário.

Mas já esteve em Díli desde que fugiu da prisão?

Se me quiser convidar para ir tomar um café em Díli, eu vou.

Vai?

Diga ao presidente Ramos-Horta que se quiser vou lá tomar um café um dia destes. Qual é o problema?

Vai e não terá medo?

Medo de quê?

Disse que alguém o quer matar…

Mesmo que assim seja, não importa onde estou. Quando o tempo chegar, chegou.

É possível que todos os líderes – e não apenas um – o queiram matar?

Não todos. Pode contar pelos dedos quem faz parte da máfia dentro do governo.

Mas há uma máfia?

Claro.

Dentro da Fretilin?

Está um pouco em todo o lado.

Acha que há uma intriga feita por um grupo conectado entre si?

Você vem do mundo moderno. Como é que a máfia funciona na Europa, meu amigo? São sítios diferentes, mas a merda é a mesma.

Está a falar de pessoas que querem ganhar dinheiro?

Que querem a ditadura no poder.

Agora há uma guerra política pelo poder…

Justa ou injusta?

Não sei. Mas há claramente dois lados. De um lado, Alkatiri. Do outro lado, Xanana e os seus aliados.

Há um terceiro lado.

São os oportunistas.

E esses oportunistas não pertencem a nenhum dos dois lados?

Depende do dinheiro e dos benefícios que conseguem obter. Mas lembrar-se-ão eles de que devem fazer as coisas pelo povo, pela nação? Não para o seu próprio bolso, para os seus próprios interesses, para o seu orgulho. Essa é a questão: estás a servir a nação ou estás a servir-te a ti próprio?

Mas sabemos quem são essas pessoas?

Diga-me você. Tem-se encontrado com tanta gente.

Só tenho entrevistado líderes políticos.

E o que está a conseguir com eles? Está apenas a vender notícias ou tem algumas pistas?

Estão a lutar pelo poder.

Claro. Estão a lutar pelo poder qualquer que seja o caminho que os leve lá. Essa é política.
Alkatiri e Xanana dizem que estão a lutar pelo bem do povo e da estabilidade.

Que povo? O povo que andava a gritar para os tirar da cadeira?

Os seus militantes, os seus apoiantes.

Talvez os seus familiares e os amigos.

Então, estou a entender que não vai ser fácil...

Nada é fácil, meu amigo. Bem-vindo a Timor-Leste. Mas isto não é o faroeste, é apenas uma nova nação que precisa de ser construída.

Tem alguma esperança dentro de si?

Estou de pé porque tenho esperança.

Que esperança é essa?

É a esperança na nova geração. Nas suas mãos está a esperança para o futuro.

Não acha que as coisas podem melhorar quando o novo governo for para o poder?

Caras novas podem fazer alguma diferença. Se as coisas podem melhorar? Dependerá do respeito que se tiver pela lei e pela justiça.

Não importa quem é que estará no poder?

Não importa. Sou apenas um militar, sirvo qualquer um que sirva a constituição.

Não é um problema para si se Alkatiri for primeiro-ministro?

Melhor ainda.

Percebo que está a ser irónico, mas pode explicar melhor?

Talvez então se veja o que ele fez de errado antes e o que fará agora. Porquê forçar o seu nome através da constituição?

Aí ver-se-á se a sua intenção é resolver a crise e garantir o futuro do país ou se a sua intenção é o seu próprio interesse, não importa que sacrifícios sejam precisos.

E isso não é legítimo?

Pergunte aos que tomam as decisões.
A Fretilin argumenta que é o partido mais votado.

Qual foi a percentagem com que eles ganharam? É preciso mais de 30 por cento para conseguir gerir o país. Se eles aprovaram as regras da constituição, através da maioria da Fretilin na assembleia, porque estão contra elas agora?

Onde é que está a maturidade da liderança?

Acha que há um risco na pressão que um líder político possa fazer para ir para o governo?

É preciso novas caras para resolver o problema.

Novas caras como Fernando Lassama? O major apoiou o Partido Democrático nas eleições presidenciais…

Não, eu apoiei a coligação. Porque com a coligação, as decisões não são tomadas por uma única pessoa, o que significa que não vai haver ditadura ou decisões de pensamento único. Essa é a singularidade de uma coligação. Aí têm de decidir em prol da nação.

Ramos-Horta está a tentar um entendimento entre a Fretilin e a coligação liderada por Xanana. Acha uma boa ideia?

É-me muito difícil entender este jogo que estão a jogar. Na política, é preciso jogar de acordo com as regras da constituição e eles jogam contra as regras. É engraçado como Ramos-Horta concorreu a presidente contra a Fretilin e agora, depois de ter ganho, quer colocar a Fretilin no lado vencedor.

É suposto um presidente não tomar partido, não?

Diga-me você. A realidade é que o presidente veio ter com alguns dos meus homens para destruir a minha equipa. Isso não é tomar partido? Com o procurador… O que é que se passa entre o procurador e o presidente neste jogo? Alô…

Quer mandar alguma mensagem para o povo timorense ou para a comunidade internacional?

A minha mensagem é dada dia-a-dia. As pessoas vêem a verdade. A questão é: quão longínquo, quão bom, quão brilhante as pessoas vêem o futuro?

Não se sente isolado e abandonado?

Não. Se eu precisasse de gente de fora que me viesse proteger da minha própria gente, aí sentir-me-ia isolado. Aí sentir-me-ia um visitante.

Já disse que este não é o momento para contar a verdade, mas está realmente a pensar contá-la algum dia?

Eu vou contar a verdade, nada mais do que a verdade.

Quer dizer que há, de facto, uma verdade escondida sobre os bastidores da crise que não está disposto a contar por enquanto.

Você é a justiça, para que eu a conte? Se eu a contar agora, que provas me restam para fornecer um dia ao tribunal?

Mas tem vontade de contar toda a verdade?

No tribunal.

Não está arrependido pelas decisões que tomou?

Eu fiz o que estava correcto. Se eu não tivesse abandonado o exército, a guerra civil teria começado realmente. Porque eu faço parte do comando, estive envolvido em todas as reuniões e nos planos do que iriam fazer. Se eu não tivesse saído e me metido no meio, milhares e milhares de pessoas teriam sido provavelmente mortas.

Está a dizer que conhecia planos para uma guerra civil?

Claro.

Havia planos desses?

Não imagina o que eu vi no dia 4 de Maio, de manhã, em Gleno.

O que é que viu?

Havia gente por todo o lado com machetes e setas preparada para ir para Díli. E não sabe o que estavam a planear fazer no quartel-general das F-FDTL. Queriam ir a Gleno, atrás dos peticionários.

Estavam a planear um ataque a Gleno?

Sim. Pergunte ao coronel Lere. Ele sabe.

E isso foi planeado previamente?

Tenho tantas coisas escondidas cá dentro. Ou sou um criminoso ou sou alguém que se levantou para salvar o povo desta crise. Porque eu nasci depois da crise. A crise já lá estava quando souberam que eu existia. Portanto, quem são os actores da crise? Não sou eu.

Pensa, então, que o brigadeiro Matan Ruak é culpado?

Claro que é culpado. É o meu general mas se fez coisas erradas tem de responder por elas. Isso não altera o que sinto por ele como meu herói da independência.

Todos devem ir a tribunal?

Sim.

Incluindo Xanana?

Sim. Xanana deve ser julgado.

Acha que Xanana tem alguma responsabilidade?

Se a crise acontece e você é o presidente, não há o direito de lhe fazer perguntas? Qual é a responsabilidade dele? E ele não quer saber?

Xanana devia ter sido mais activo durante a crise?

Não Xanana. Mari Alkatiri é que lhe devia ter pedido autorização para usar as forças de defesa para resolver a crise no dia 28 de Abril (de 2006). O presidente é o comandante supremo das forças armadas. Porquê que não pediram autorização? Porquê que não há nenhuma ordem escrita? Porquê que é que deram um ordem injustificável? Porque eu estava lá, a tentar salvar a pele desses líderes quando eles estavam cercados pelos manifestantes. Por isso, quero ser testemunha dos acontecimentos de dia 28.


Testemunha do momento em que Alkatiri deu essa ordem?

Alkatiri não estava sozinho. Estava também Lobato, Roque Rodrigues e Ana Pessoa.

E ouviu o que foi dito?

Fui eu quem levou Lere e Roque Rodrigues ao palácio. E sou a primeira pessoa que Lere encontra depois dessa reunião, dizendo-me que já tinha uma ordem.

Para atirar se fosse preciso?

Sim. E eu perguntei-lhe onde estava a ordem por escrito. Ele disse-me que não houve tempo para a escrever. E eu disse-lhe: como é que não há uma ordem por escrito? Isto é matar civis desarmados, é massacre. Não é preciso uma ordem por escrito?

Não é preciso perguntar duas vezes? Eu não sou um assassino.

E Xanana não devia ter sido mais activo?

Se eu fosse Xanana, teria escrito uma contra-ordem por escrito: isto é ilegal.

Era possível ele estar em casa sem saber o que se passava na cidade?

Talvez estivessem a tomar café nesse momento. Algumas destas figuras perderam a família naqueles dias? Conseguirão sentir? Sorte eu não ter algemado o coronel Lere naquele momento.
Pensou nisso?

Se o tivesse feito, teria sido ainda pior.


Neste momento, ao fim de uma hora e vinte minutos de gravação, a entrevista foi interrompida por um telefonema e pelo cerco de um helicóptero australiano. Não houve mais tempo para a acabar. Seguiu-se uma pequena sessão fotográfica, nas traseiras da casa onde a conversa foi gravada. Nessa altura, já o helicóptero dos militares australianos começava a fazer pequenos círculos a baixa altitude sobre as nossas cabeças. Reinado e os seus homens partiriam de carro. O Expresso soube, dois dias depois, que o cerco seria fechado em Alas, não muito longe dali.