Sunday 8 July 2007

FRETILIN considera que CNRT está a «curto-circuitar» o veredicto popular

A Fretilin criticou hoje a aliança formada por vários partidos com vista à formação de um governo maioritário sem a força política vencedora, considerando que o CNRT está a "curto-circuitar" o veredicto popular.


Numa conferência de imprensa, o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, dmitiu, contudo, que o partido está aberto a eventuais coligações com o Congresso Nacional da Reconstrução de Timor-Leste (CNRT) se tal "contribuir para estabilizar o país".

"Numa situação normal, todos aqueles que aceitaram ir para o veredicto popular deveriam respeitá-lo. O que significa esperar que o partido mais votado tome iniciativas para ver quais as alianças que quer fazer e não curto-circuitar essa possibilidade, frustrando as expectativas do eleitorado", afirmou.

"O que se está a fazer é curto-circuitar as expectativas do eleitorado. Isso não ajuda nada à estabilidade e paz no país. Mas, ainda assim, temos muito tempo para criar um melhor clima de diálogo", acrescentou Mari Alkatiri.

A Fretilin ganhou as eleições legislativas de 30 de Junho último com maioria relativa, fixando-se nos 30 por cento, enquanto o CNRT, de Xanana Gusmão, se quedou em segundo lugar (24 por cento).

Segundo o artigo 106 da Lei Eleitoral, relativo à nomeação do primeiro-ministro, cabe ao presidente da República indigitar o chefe do executivo pertencente ao partido mais votado ou pela aliança de partidos com maioria parlamentar.

"O primeiro-ministro é indigitado pelo partido mais votado ou pela aliança de partidos com maioria parlamentar e nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos políticos representados no Parlamento Nacional", lê-se na alínea 1 do artigo.

Hoje, o CNRT e outros dois partidos e uma aliança de outros dois, assinaram um acordo de colaboração política com vista à formação de uma maioria parlamentar destinada a suportar um governo, mas sem a Fretilin.

No total, CNRT, ASDT/PSD, PD e PUN (este último optou por uma associação e não assinou o documento) obtêm um total de votos superior a 50 por cento, garantindo uma maioria parlamentar.

Questionado hoje sobre se a Fretilin está disposta a aceitar negociar com o CNRT uma eventual coligação, Mari Alkatiri sublinhou que, dado que está "aberto a todos", a força política de Xanana Gusmão "é um partido como outro qualquer".

"O CNRT é um partido como qualquer outro e, se nós estamos abertos a todos os partidos, não podemos fechar as portas a nenhum. Muito menos ao que obteve o segundo lugar. Mas é bom não se personalizar os partidos. Não identificar partidos com pessoas. Porque se não complica as coisas", sustentou.

"Mas uma aliança entre a Fretilin a CNRT, por si só, chegaria à maioria absoluta. Se isso contribuir para estabilizar o país, acho que é um caminho que se tem de seguir", sustentou.

Por outro lado, o secretário-geral da Fretilin manifestou o "total apoio do partido à proposta do presidente timorense, José Ramos Horta, na procura de um clima de diálogo.

"Isso terá todo o apoio da Fretilin. Criar um clima de diálogo envolvendo todos, o que significa um respeito pelo veredicto popular", sublinhou, avisando, porém, que se não se fizer uma leitura "correcta" dos resultados da votação, poderá haver problemas.

"Se nós, líderes partidários deste pequeno país, soubermos fazer uma leitura muito atenta e correcta da mensagem que o povo nos transmitiu através do seu voto, acho que não haverá violência", disse.

"Se não soubermos fazer essa leitura, e se tentarem a todo o custo marginalizar o partido mais votado, então não se está a criar paz neste país. A paz não se deve impor com a força das armas, muito menos com as armas que vêm de fora", frisou Mari Alkatiri.

O secretário-geral da Fretilin, acompanhado na conferência de imprensa pelo líder do partido, Francisco Guterres "Lu Olo", admitiu ainda que a direcção partidária está em contactos políticos com outras forças partidárias, nomeadamente com a Coligação KOTA/PPT e com a UNDERTIM e com o Partido Democrático (PD), que assinou hoje o acordo com o CNRT.

"Ainda temos muito tempo para negociar e para haver um clima de paz", concluiu Mari Alkatiri.

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