Tuesday, 24 July 2007

«Ninguém sabe o que pensa Reinado», diz comandante australiano


O comandante das Forças de Estabilização Internacionais (ISF) afirmou que "ninguém sabe o que pensa Alfredo Reinado" mas adiantou em entrevista à agência Lusa que "não há nenhuma ameaça significativa à segurança em Timor-Leste".


"Aprendi muitas coisas no meu tempo aqui, mas uma delas foi não pensar que é fácil perceber o que lhe vai na cabeça".

"O comportamento de Alfredo Reinado muda constantemente", declarou o brigadeiro-general Mal Rerden, comandante das tropas australianas e neozelandesas que integram as ISF.

"Ele tem uma personalidade complexa. Revela um lado de mentalidade militar 'machista' que, muitas vezes, se atravessa numa abordagem mais lógica da situação", analisou o oficial australiano.

Como adversário, Mal Rerden detecta em Alfredo Reinado "influências e prioridades opostas: algumas vezes parece pensar apenas nele próprio e noutras parece responsável por muito mais gente", acrescentou o brigadeiro-general das Forças de Defesa Australianas (ADF).

O major Alfredo Reinado, sobre quem pende um mandado de detenção, é alvo de uma operação de captura pelas ISF desde o final de Fevereiro de 2007.

Questionado sobre se, em algum momento, deu uma ordem directa e operacional às suas tropas para interromper a captura de Reinado, Mal Rerden respondeu apenas que "as ISF estão em Timor-Leste para garantir um ambiente seguro".

"A dificuldade do terreno" é a explicação de Mal Rerden para o facto de um fugitivo com cerca de 20 homens ter escapado durante 5 meses a uma força internacional de 1250 soldados.

"Em Timor-Leste, quem quiser escapar a coberto da noite e esconder-se na montanha consegue fazê-lo, como sempre aconteceu no passado", recordou o comandante das ISF.

"Esta é a realidade e, para impedir isso, seriam necessários dezenas de milhares de homens".

"Os timorenses têm muita experiência em esconder-se no mato e infelizmente isso deu-lhes várias capacidades e conhecimento em partes remotas da ilha", explicou o comandante australiano.

"Os líderes timorenses foram incrivelmente pacientes com Alfredo Reinado", afirmou também Mal Rerden.

O brigadeiro-general, entrevistado pela Lusa no quartel-general das ISF em Díli, Camp Phoenix, a poucos dias do final da sua missão em Timor-Leste, declarou-se "muito satisfeito" com a "melhoria constante da situação de segurança".

Mal Rerden sublinhou que tem "muito orgulho" no contingente que chefiou desde o final de Outubro de 2006.

"Não é fácil a um exército agir em operações de manutenção de paz", explicou o oficial australiano, "mas os militares das ISF foram sempre muito profissionais e muito controlados".

Dos onze meses que passou em Timor-Leste, Mal Rerden diz ter aprendido, "em primeiro lugar, a resiliência dos timorenses".

"É gente muito, muito dura, com uma grande capacidade de resistência, em circunstâncias diferentes, tanto fisica como psicologicamente".

"A segunda coisa é a adaptabilidade dos timorenses, a sua versatilidade. Perante uma dada situação, conseguem encontrar uma maneira de contornar, ou passar por cima, ou lidar com uma situação em que a maior parte das pessoas ficaria bloqueada", declarou Mal Rerden.

"Mesmo no sentido político, são muito flexíveis e acho isso interessante".

"A última coisa que também me surpreendeu foi que, sendo pessoas tão pobres e sem privilégios, os timorenses ainda consigam ser felizes e estejam interessados e em condições de participar na vida", acrescentou o comandante australiano.

O brigadeiro-general, que desempenhou missões em várias representações diplomáticas da Austrália na Europa e Médio Oriente, regressa ao seu país para funções nas ADF.

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