Saturday 14 July 2007

«Tenho milhares de anos de paciência» para Reinado, diz Horta


O Presidente da República de Timor-Leste afirmou hoje que tem "uma paciência de milhares de anos" para lidar com o major fugitivo Alfredo Reinado, a quem propôs o acantonamento no distrito de Ermera.


Responsáveis superiores das forças de segurança afirmaram entretanto que "Alfredo Reinado está a desperdiçar as oportunidades excepcionais que lhe são oferecidas".

"Eu tenho costela asiática e costela judia europeia. A minha costela asiática dá-me uma paciência de milhares de anos de História e de civilização", afirmou hoje José Ramos-Horta a propósito do impasse na situação de Alfredo Reinado.

O Presidente da República respondia a uma pergunta sobre o balanço pessoal de quatro meses de empenho no caso de Alfredo Reinado, primeiro como chefe de governo, depois como chefe de Estado.

"Não tenho acompanhado nas últimas 24 horas as negociações", adiantou José Ramos-Horta, sublinhando, porém, que não houve alteração da posição das autoridades.

"A posição do Estado mantém-se a solução de compromisso que eu ofereci. E ofereci com muitas reservas, apenas para não exacerbar a situação", declarou José Ramos-Horta.

"O senhor Alfredo Reinado não pode circular com armas pesadas, mas para salvar a sua face e o seu orgulho e permitir o diálogo e uma solução definitiva do caso dele, via justiça, propus que vá para o acantonamento em Ermera, mas só com pistolas", afirmou o Presidente da República.

"O Estado não permitirá seja a quem for que circule com armas. As armas só (devem estar na) posse legal das Forças Armadas e da Polícia", acrescentou José Ramos-Horta.

"Se algum elemento diz que é das Forças Armadas e tem posse de arma, então que obtenha uma ordem actualizada do comando dessas Forças, que é a única instituição que pode autorizar seja quem for a usar armas", disse.

José Ramos-Horta afirmou que continua "a confiar no Procurador-geral da República e nos seus advogados para persuadir Reinado a entregar as armas automáticas que tem".

Foi dito a Alfredo Reinado que "podia trazer pistolas para sua protecção, mas as armas maiores deviam ser postas de lado. Nem pedi (a Reinado e ao grupo) que as entregassem já", adiantou o Presidente.

"Portanto, mostrei uma extrema flexibilidade e paciência, tudo em nome da paz", frisou José Ramos-Horta.

Questionado sobre a presença das Forças de Estabilização Internacionais (ISF), ao longo da semana, junto a Same, distrito de Manufahi, na área onde estava Alfredo Reinado e o seu grupo, José Ramos-Horta considerou que isso "não é problema".

"Devem falar uns com os outros e talvez se façam amigos. Talvez então Alfredo compreenda as coisas e ponha de lado as armas. Não estou a dizer que ele as entregue …s ISF, mas que as leve para Gleno, onde ele concordou entregá-las", afirmou o chefe de Estado timorense.

Oficiais superiores das forças militares e policiais internacionais em Timor-Leste, manifestaram o seu cepticismo quanto a uma solução negociada para o caso de Alfredo Reinado.

"Alfredo tem desperdiçado oportunidades excepcionais", afirmou um dos responsáveis de segurança da missão internacional da ONU (UNMIT).

"Desperdiçou a primeira na altura em que (o ex-ministro do Interior) Rogério Lobato foi condenado", no início de Março, "e em que ele podia ter demonstrado confiança no sistema de justiça", acrescentou o mesmo oficial.

"Desperdiçou outra grande oportunidade depois, quando o Presidente da República e o Procurador-geral da República fizeram uma aproximação e lhe ofereceram garantias de segurança muito amplas", acrescentou a mesma fonte.

"Há dois dias que tudo está preparado, até os helicópteros, para um encontro negocial, mas não há nenhum sinal do lado de Alfredo", concluiu outro responsável das forças de segurança a operar no âmbito da UNMIT.

Alfredo Reinado, que em Março escapou a uma operação de captura das ISF em Same, esteve no subdistrito de Alas durante esta semana, mas residentes em Manufahi afirmam que o major deixou a zona na quarta-feira.

O militar fugitivo é alvo de um mandado de captura por posse ilegal de material de guerra e por rebelião contra o Estado, mas "essa ordem judicial não está a ser executada na prática", afirmou uma fonte ligada ao processo.

2 comments:

Anonymous said...

Isto´de um PR andar com paninhos quentes com um foragido à justiça é um escândalo. É inadmissível. É a subversão do Estado de Direito. É um péssimo exemplo para todos os cidadãos. É a total desconsideração dos outros órgãos de soberania. É um escárnio contra o Sistema Judicial. É uma afronta para todos os Timorenses.

Ninguém está acima da lei, nem o Horta, nem o Reinado.

Acabe-se de vez com esta vergonha.

Anonymous said...

Zangam-se os compadres e descobrem-se as verdades!
Não será conveniente deitar a mão ao Reinado até porque não se sabe quais teriam sido as relações, anteriores, entre o foragido e o PR.
Um exemplo: O PR e Mari Alkatiri foram companheiros de luta por anos a fio.
Acreditamos que, entre eles, juraram fidelidade eterna... E agora (já antes) como é sabido estão campos de luta opostos.
E lá está o PR com uma batata quente no bolso sem saber para onde se vai virar.
Se para o Xanana (para não perder o emprego) ou para Maria Alkatiri...