Friday 20 July 2007

Mário Carrascalão mantém recusa de «Governo de grande inclusão»


Mário Viegas Carrascalão, presidente do Partido Social Democrata (PSD), afirmou hoje à agência Lusa que "as portas continuam fechadas" à participação do seu partido num Governo da Fretilin, vencedora das eleições legislativas sem maioria absoluta.


"O que estão a tentar fazer é colocar a oposição dentro do Governo, o que terá como consequência um Governo em conflito interno desde o início", declarou Mário Carrascalão à Lusa, explicando a sua ausência da reunião magna promovida ontem pelo Presidente da República.

"A minha posição não muda nesse ponto e já disse ao meu partido que, se for preciso, ponho o lugar de presidente à disposição", afirmou-

José Ramos-Horta juntou, na quinta-feira, perto de Dare, nas montanhas a sul de Díli, todos os líderes partidários - com a única ausência de Mário Carrascalão - e titulares de órgãos de soberania, num esforço para ultrapassar a crise política e conseguir formar o IV Governo Constitucional timorense.

"Não alinho nisso e não tenho tempo a perder. Estão a tentar meter todos no mesmo tacho e a misturar tudo para depois sair um 'guisado' que afinal não é bom", comentou o presidente do PSD à Lusa sobre a insistência do Presidente da República num "Governo de grande inclusão".

"O que se passou lá em cima (em Dare) é a continuação da discussão entre Xanana Gusmão e Mari Alkatiri sobre quem governou mal ou bem e eu não perco tempo com isso", acrescentou Mário Carrascalão.

O ex-chefe de Estado e o ex-primeiro-ministro e secretário-geral da Fretilin foram dois dos principais intervenientes da reunião de quinta-feira em Dare.

"Andam a discutir afinal quem é que vai ser o primeiro-ministro, como se fosse essa a questão importante, quando para mim não é", explicou o presidente do PSD. "A questão é como fazer sair o país da crise e que soluções temos para o desenvolver."

"Como é possível concordar com o programa de Governo da Fretilin, de que eles não abdicam, quando andámos a prometer ao eleitorado um programa irreconciliável com esse?", interroga Mário Carrascalão.

"E como é possível estar num Governo que vai sempre ser dominado por Mari Alkatiri, mesmo que digam o contrário, como aconteceu a José Ramos-Horta enquanto foi primeiro-ministro? Não o deixaram fazer nada!", acusou o líder do PSD.

Mário Carrascalão adiantou que a recusa em participar numa "inclusão" dominada pela Fretilin pode ter consequências na aliança, na coligação e no partido de que é fundador.

"Uma coisa são as minhas opções pessoais e outra são as decisões do partido, que eu sempre respeitarei", adiantou Mário Carrascalão, à margem de uma reunião informal com Lúcia Lobato, Zacarias da Costa e Joy Gonçalves, três dos rostos principais do PSD.

Mário Carrascalão sublinhou também que a integração de um Governo alargado a toda a oposição pode significar a saída da coligação do PSD com a Associação Social-Democrática Timorense (ASDT) da recém-formada Aliança para Maioria Parlamentar (AMP).

A AMP junta a ASDT/PSD a outros dois partidos da oposição: o Congresso Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), de Xanana Gusmão, e o Partido Democrático (PD), de Fernando "La Sama" de Araújo.

"As negociações para a solução de grande inclusão estão já a provocar erosão na AMP e na nossa coligação com a ASDT", admitiu Mário Carrascalão.

"Eu confio inteiramente em Francisco Xavier do Amaral", presidente da ASDT, declarou Mário Carrascalão.

"Vamos ver se outros, dentro do partido e dentro da AMP, não se deixam seduzir pelas cadeiras do poder".

Mário Carrascalão vai participar, na segunda-feira, em Díli, na reunião que continua o encontro de Dare.

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