Saturday 26 May 2007

Timor Leste vai mergulhar numa crise caso não reestruture suas forças de segurança, avalia professora na UnB


Agência Brasil- Brasília -

A reestruturação das forças de segurança do Timor Leste é o grande desafio do país nos próximos meses. No entanto, esse desafio não é puramente técnico, mas também político. A opinião é da professora de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), Kelly Cristiane da Silva, que morou nesse pequeno país da Ásia, entre 2002 e 2003, preparando sua tese de mestrado sobre o processo de construção do estado e, no início deste ano, passou três meses fazendo uma pesquisa sobre as eleições presidenciais, que resultou na eleição de José Ramos Horta.

“A fonte de poder do estado é o uso legítimo da força. Se não há polícia, não se consegue fazer com que as pessoas cumpram a lei. Há uma situação de desacato à autoridade, porque a polícia local está desestruturada e não funciona”, destaca a professora. No ano passado, houve uma grave crise na polícia e nas forças armadas do país, o que causou instabilidade. “O estado é o único a poder usar legitimamente a força, impondo sua vontade em nome do bem comum. Porém, o que acontece hoje no Timor é uma grande crise nas forças de segurança, sobretudo na polícia”, sublinha.

Ela conta que, durante os meses em que passou lá este ano, presenciou casos de desobediência às leis que não são coagidos em função da ausência policial. Grande parte da segurança pública, diz Kelly, é de responsabilidade das tropas internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU) que, entretanto, tem uma atuação restrita. “Um policial internacional, por exemplo, só pode atirar em legítima defesa. Existem muitas gangues, sobretudo em Díli (capital do país), que atuam por saber da inoperância da polícia”, ressalta. E enfatiza: “Enquanto a polícia não estiver restituída e funcionando adequadamente, as chances de haver instabilidade civil é muito grande”.

A professora da UnB assinala, porém, que a solução para a falta de segurança pública passa necessariamente pela questão política. Ramos Horta (sem partido), que foi eleito no início de maio com o apoio do ex-presidente Xanana Gusmão, terá como um dos principais desafios de sua administração a costura de alianças entre os diferentes partidos – as eleições para o parlamento acontecem no final de junho – para “buscar o mínimo de estabilidade” no país. “Nos próximos meses, Timor enfrentará esse desafio diante do quadro de fragmentação política e de crise nas forças de segurança, podendo resultar em conflito armado”, finaliza.

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