Friday, 30 November 2007
Timor-Leste: Reinado e Salsinha escrevem a secretário-geral da ONU
Díli, 30 Nov (Lusa) - O major fugitivo Alfredo Reinado e o líder dos peticionários das Forças Armadas timorenses, tenente Gastão Salsinha, escreveram ao secretário-geral das Nações Unidas pedindo a Ban Ki-moon "mediação no conflito armado", documento a que a Lusa teve acesso.
"Por favor, aceite o nosso desejo de um acantonamento militar, como prova da nossa boa-vontade e esforços pela paz", pedem Alfredo Reinado e Gastão Salsinha numa carta dirigida a Ban Ki-Moon.
"Antes de fazer qualquer julgamento, tem de ouvir ambas as partes neste Conflito Militar (sic) timorense", declaram os dois militares ao secretário-geral da ONU.
Uma cópia da carta, assinada por Alfredo Reinado e Gastão Salsinha e dentro de um envelope com os dois militares no remetente, foi entregue hoje de manhã (madrugada de sexta-feira em Lisboa), por uma jovem timorense que não se identificou, na delegação da Agência Lusa em Díli.
"Nós queremos uma paz sustentável para o nosso país", afirmam Alfredo Reinado e Gastão Salsinha na carta, escrita em inglês correcto e que, ao longo de 9 páginas, tem apenas dois erros: o nome de "Ban Kin Moon" no cabeçalho e o de "Timor-Lest" (sic) na assinatura final.
"O acantonamento é uma forma pacífica de atingir isto, sem o uso da força nem violência e em especial sem derramar uma gota de sangue", acrescenta a carta endereçada ao secretário-geral da ONU e datada de "Gleno, Ermera, 27 de Novembro de 2007".
A carta, que traz no cabeçalho o "tema" "Apelo de Direitos Humanos: 'A Súplica de Um País", pretende explicar "alguns factos" a Ban Ki-moon e apresentar ao secretário-geral da ONU "a versão da história" dos signatários.
"Escrevemos-lhe hoje em nome dos nossos homens (710 subordinados), que nos pediram para apresentar o seu apelo e o apelo da sua nação", diz a abertura da carta.
"Os soldados sob o nosso comando representam também as suas famílias, que multiplicam o seu número de 710 homens para milhares de pessoas, e centenas de lares, dispersos por todo o país", acrescenta o documento dirigido a Ban Ki-moon.
"Estamos certos que Vossa Excelência foi informado pelos diferentes canais oficiais que um grupo de miliitares das F-FDTL (Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste) sob o nosso comando estão a perturbar a segurança do país e a comprometer a paz e a segurança dos cidadãos timorenses", explica a carta.
"Estamos certos de que essas fontes estão a criar monstros imaginários e imagens distorcidas de nós como criminosos, rebeldes e foras-da-lei", acusam.
A carta explica a posição do major Alfredo Reinado e dos peticionários das F-FDTL, organizando os argumentos em artigos: "Todos somos livres e iguais", "Não à discriminação", "O direito à vida", "Somos todos protegidos pela lei", "Tratamento justo por tribunais justos", "Detenção ilegal", "O direito ao julgamento" e "As nossas responsabilidades".
Na longa carta a Ban Ki-moon, Alfredo Reinado e Gastão Salsinha insistem que "existem de facto em Timor-Leste dois tipos ou grupos de cidadãos timorenses dentro das actuais F-FDTL: Lorosae, da pparte oriental do país, e Loromonu, da parte ocidental desta meia-ilha".
A carta alega existir "discriminação regional".
"A liderança política tem de entender que a população em geral e os 710 militares das F-FDTL deslocados internamente (sic) jamais deixarão que o major Reinado seja preso", diz ainda a carta.
"Nós representamos o descontentamento público", resume a carta, assinada por Alfredo Reinado como "comandante interino da Polícia Militar e comandante da Força Naval".
O major Alfredo Reinado é acusado dos crimes de homicídio, rebelião e porte ilegal de material de guerra e o início do julgamento está marcado para 03 de Dezembro.
PRM
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