De Jornal da Madeira
Sem a Madeira, Portugal ficaria mais pobre? O mesmo se poderia perguntar: Sem os Açores a nação portuguesa ficaria mais pobre? Porquê e em quê? Que peso tem a Madeira no funcionamento do Estado português? Quanto ganha e quanto perde Portugal ao manter ainda a colonização das ilhas da Madeira e dos Açores?
Sabemos, de antemão, que a fuga é para a frente, escapar para nada dizer, fugir com larachas do costume, zombar à laia do saloio, enfiar o carapuço. Outros, os doutos sábios, recorrem à história, à mãe pátria, aos sustentos e à forte dependência externa. Como se Portugal não fosse um país fortemente dependente das ajudas externas (UE) e dos investimentos estrangeiros no país. Ou já saiu da memória o que era Portugal até 25 de Abril de 1974, com a maior reserva de barras de ouro nos cofres do banco central ao mesmo tempo que era o país mais analfabeto, mais pobre e mais atrasado da Europa, atrás de países onde até o manietado regime comunista vigorava com mãos de ferro.
Portugal antes de começar a receber milhões da Europa (que não há quem saiba dizer os biliões de euros recebidos até hoje de fundos comunitários) era um país quase a viver de “tanga”, de “pata rapada”, sem capacidade orçamental para fazer face às muitas necessidades da sua população.
Foi a União Europeia, com os avultados apoios financeiros, quem “viabilizou” o país e evitou que Portugal caísse na bancarrota. Que seria hoje Portugal fora da União Europeia e fora da zona euro? Como estaria Portugal no presente se a tese dos partidos da esquerda (PCP e satélites) vingasse contra a adesão à CEE/UE? Devíamos questionar sobre estes e outros factos que mudaram o “rosto” do país nas últimas três décadas.
Quer queiramos quer não, a Madeira e os Açores são os únicos territórios insulares no Atlântico, fora da plataforma continental, que continuam sob a bandeira das quinas, depois de Portugal ter perdido ou ter descolonizado (da pior maneira) os territórios ultramarinos em África e posteriormente Timor Leste.
Será que é ofensa ou haverá falta de legitimidade questionar seriamente: A Madeira e os Açores ficariam mais pobres se deixassem de ser territórios portugueses ou se passassem a ter uma autêntica Autonomia sem estarem subordinados às conveniências políticas de quem for Governo em Lisboa? Há algum ou alguns indicadores actuais (ou antigos), com rigor e abrangendo todas as componentes interno-externo, que forneçam sérias conclusões. Não há. Ou talvez haja, pelo menos foram feitas consultas nesse sentido cujos dados terão sido posteriormente comparados com territórios europeus e mundiais com dimensões globais muito idênticas às da Madeira e às dos Açores. As conclusões não terão sido tão decepcionantes como se possa pensar.
Disparate é não admitir que foi a CEE/UE quem tirou Portugal da pobreza em que se encontrava e que a Madeira passou a ser uma região de sucesso na Europa, com o crescimento e desenvolvimento incomparavelmente superior ao que era até 1974, porque soube aproveitar muito bem os fundos comunitários. O estatuto dos Distritos Autónomos das Ilhas adjacentes, parido pelo Decreto- Lei n.º 36, a 4 de Agosto de 1947, que vigorou até 1986, era uma mentira, pois nada ou pouco tinha de autonomia.
Abordar questões de Referendo sobre o futuro da Madeira, reconhecer que a Autonomia precisa de mais “autonomia” para que possam ser concretizados outros desideratos, ventilar e debater o federalismo ou a independência, são constatações que não devem ser menosprezadas nem valorizadas ao extremo ou ridicularizadas ignorantemente. O agora presidente da República, Professor Cavaco Silva, que quando em funções de Primeiro- Ministro questionou “porque razão os madeirenses precisam de mais estradas?”, deixou entender, agora, em Ponta Delgada, capital açoriana, que os Açores e a Madeira já têm Autonomia suficiente. O Chefe de Estado nasceu no Algarve, sempre viveu no Continente, vive há muitos anos em Lisboa, tem tudo à mão, nunca teve a experiência de viver numa ilha durante anos nem tem o sentimento do ilhéu. Não sabe o que é estar distante, separado pelo mar. O Prof. Cavaco Silva fala teoricamente da autonomia mas nunca a viveu nem sabe como, na prática, ela funciona.
Estas e outras abordagens são reais, ao menos pelo que sabemos e conhecemos. Sem recurso a apaixonadas extrapolações ou doentias disputadas sobre questões menores. Não deve haver medo em abordar e até de confrontar realidades e possibilidades. É errado fazer juízos de valor sobre aquilo que não existe e deve ser salutar debater com seriedade tudo quanto seja possível equacionar.
Uma sondagem realizada no Continente deu a conhecer que são muitos os portugueses do rectângulo a defender a integração de Portugal na Espanha. As razões apresentadas são de vária ordem, sendo as mais apontadas as respeitantes à qualidade de vida dos espanhóis, superior à dos portugueses, aos melhores salários e ao crescimento económico. O Nobel da literatura (1998), José Saramago, a viver na ilha de Lanzarote, foi uma das vozes a defender a integração de Portugal na Espanha.
São opiniões e como tal não devem ser ignoradas mas antes devem servir para aprofundar e estudar as razões das questões que são suscitadas. Discordar é salutar. Talvez um dos males seja a falta de paciência, o comodismo que “ataca” os portugueses, sobretudo os ilhéus. Sentados à espera que decidem por nós, já lá foi o tempo. A história narra-nos muitas coisas amargas no relacionamento entre o poder central, em Lisboa, e as instituições públicas na Madeira e nos Açores.
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