Tuesday 5 June 2007

Timor-Leste: PR Ramos-Horta lamenta falta de disciplina da polícia


Díli, 04 Jun (Lusa) - O Presidente de Timor-Leste lamentou hoje a "falta de disciplina" da polícia timorense, após alguns agentes terem alegadamente morto dois simpatizantes de um partido político durante a campanha para as eleições legislativas de 30 deste mês.

Falando aos jornalistas antes de partir para Jacarta, onde fará a sua primeira visita oficial ao estrangeiro desde que assumiu a presidência de Timor-Leste, a 20 de Maio último, José Ramos-Horta sublinhou que a morte de dois simpatizantes do Conselho Nacional da Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), do ex-chefe de Estado Xanana Gusmão, "embaraçou o país" e que os responsáveis serão "duramente punidos".

Hoje, as forças de paz das Nações Unidas intensificaram as acções de segurança em Viqueque, a sudeste de Díli, receando que a morte dos dois apoiantes da recém-criada CNRT possam acirrar os ânimos e aumentar actos de violência, refere o diário australiano Sydney Morning Herald.

Domingo, a Polícia da ONU (UNPol) disparou granadas de gás lacrimogéneo em Viqueque para pôr cobro a confrontos entre apoiantes do CNRT e da Fretilin, na sequência de uma manifestação do partido de Xanana Gusmão naquela localidade, considerada bastião da antiga força no poder.

Alfonso "Kuda Lay" Guterres, um dos seguranças de Xanana Gusmão, morreu após ter sido atingido por um tiro alegadamente disparado por um agente da polícia.

Pouco depois, outro apoiante do CNRT, de 24 anos, foi morto e um jovem de 16 anos ficou ferido quando tentavam transportar o corpo de "Kuda Lay" para Ossu, tendo, em ambos os casos, sido atingidos por balas, aparentemente disparadas pela polícia.

"As primeiras investigações indicam que a PNTL (Polícia Nacional de Timor-Leste) disparou os tiros para controlar uma multidão numa barricada numa estrada próximo de Ossu", disse Eric Tan, responsável da missão das Nações Unidas em Timor-Leste.

Pouco depois dos incidentes, as forças de estabilização australianas, que partilham com a UNPol a segurança do país, enviaram para a região um pelotão para apoiar as operações.

Hoje, Ramos-Horta afirmou que a polícia timorense "falhou" na sua missão de proteger e garantir a segurança da população" durante o período eleitoral das legislativas.

"Vários membros da PNTL estão envolvidos em actos criminosos. Podemos, assim, constatar que a indisciplina é ainda muito grande dentro da corporação. Mas não haverá impunidade", avisou o novo chefe de Estado timorense.

A reforma das forças de segurança em Timor-Leste é considerada "vital" para o futuro do país, sobretudo depois dos confrontos e do clima de intimidação que, desde Maio de 2006, têm assolado o jovem Estado, que acedeu à independência há cinco anos.

Xanana Gusmão, que chefiou o Estado timorense entre 2002 e 2007, condenou já que a morte de dois apoiantes do CNRT, partido que segundo observadores locais poderá vir a fazer frente à Fretilin nas legislativas do próximo dia 30, declarando tratar-se de um "dia triste" para Timor-Leste.

Hoje, Xanana Gusmão juntou-se a outros líderes partidários para apelar à paz, advertindo que os responsáveis pelos actos de violência "não querem assistir a um processo eleitoral pacífico".

"Apelo mais uma vez a todos os que residem no nosso jovem país para desistirem da violência. A violência só nos trará problemas", afirmou o antigo Presidente e actual candidato a primeiro-ministro.

Entretanto, Eric Tan, da UNPol, adiantou já hoje que a polícia continua a investigar o paradeiro do agente que acredita ser o responsável pela morte do segurança de Xanana Gusmão, negando que o antigo Presidente timorense tenha sido alvo de uma tentativa de homicídio.

"Estamos a investigar seriamente os dois incidentes, mas nenhum deles sugere que tenha existido um atentado à vida de (Xanana) Gusmão", afirmou Eric Tan, que apelou aos líderes partidários para que solicitem aos seus apoiantes que promovam a paz e se abstenham de actos violentos.

Por seu lado, a Fretilin, liderada por Francisco "Lu Olo" Guterres, candidato presidencial derrotado nas eleições de 09 de Abril e 09 de Maio passados, condenou já os actos de violência e apelou a uma investigação aos incidentes de Viqueque, mas lembrou que a vítima mortal "estava armada".

"É também precisa uma investigação para que seja explicado porque é que um elemento da campanha de um partido político estava armado e quem lhe forneceu a arma", afirmou o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, antigo primeiro-ministro (2002/06), que não comentou o facto de a vítima ser um dos membros da segurança de Xanana Gusmão.

3 comments:

Anonymous said...

“Limitação de avarias”…

"Menino e moço me levaram de casa de meus pais" para fazer tropa na "Gloriosa", leia-se na Marinha Portuguesa.
Na instrução para marinheiro uma das disciplinas foi a de "limitação de avarias", com direito a escola própria e tudo. Esta actividade é, como podem calcular, essencial a bordo de um navio se alguma coisa correr para o torto e ele começar a meter água... Ela permitirá, se bem sucedida, impedir que se chegue ao ponto de o navio "virar" peça de decoração desse grande aquário natural que é o mar... Leia-se "o fundo do mar"...

Vem isto a propósito dos incidentes em Viqueque e da morte que aí "saíu à rua", nas palavras do saudoso Zeca (Afonso).

E porque me lembrei da "limitação de avarias"? Porque me parece evidente que tudo o que Timor Leste NÃO precisa é que se estenda a toda a Polícia Nacional as acusações que se possam fazer a um, dois, três polícias que não sabem comportar-se. E quando a generalização das acusações de indisciplina vem, como veio, do próprio Presidente da República, alguma coisa está mal. Ele deveria ser o primeiro a procurar fazer o máximo possível de "limitação de avarias" de modo a tentar preservar algum espírito de disciplina e de respeito pela PNTL no país. Se o próprio PR diz o que diz da polícia, como querem que esta seja respeitada pelo cidadão comum? O que ele deveria ter feito era salientar que, afinal, se tratou de um polícia e não DA Polícia.

Não sou ingénuo ao ponto de dizer que tudo vai bem no seio da PNTL mas, a quem serve esta política de atirar constantemente pedras a uma instituição essencial ao país? Porque teimam em, sistematicamente, confundir a árvore --- 'tá bem: não é uma árvore mas duas, ou mesmo três... --- com a floresta?!...

O que o PR deveria ter feito era defender a instituição, chamando a atenção para a necessidade de não se confundir esta com o comportamento de alguns dos seus membros os quais são, na generalidade, boas pessoas e cumpridoras dos seus deveres (só lhes falta serem sócios do Benfica para serem seres perfeitos...). Tanto mais que, pressupostamente e depois dos incidentes de Maio do ano passado, todos os polícias terão sido "filtrados" para saber se mereceriam voltar ao activo.

Portanto, meus senhores, arranjem por aí uma qualquer "ELA-Escola de Limitação de Avarias" para ensinar aos políticos da casa, nomeadamente aos mais responsáveis (?), que quando um fogo irrompe é estupidez tentar apagá-lo atirando gasolina...

Manuel Leiria de Almeida, blog do Alto do Tatamailau

Anonymous said...

Excelente a peça do Sr. Manuel Leiria.
Parabéns!
O Alguidares

Mau Lear said...

Amigo marinheiro.
Aprendi na escola quando andei ah pancada com um colega, que "para grandes males grandes remedios". Fui expulso e nunca mais andei ah pancada com ninguem.Quem sabe se nao eh este o caso, UM GRANDE MAL, como um cancro com raizes muito fundas. A ver vamos se existe mesmo um GRANDE REMEDIO.
Manuel Carlos