Sunday 3 June 2007

Austrália praticou «extorsão» no Mar de Timor, diz livro


As negociações e a partilha de recursos impostos pela Austrália a Timor-Leste foram equivalentes a extorsão e intimidação, acusa um autor australiano no seu último livro sobre as negociações do Tratado do Mar de Timor.

«Penso que houve muita intimidação» por parte da Austrália durante as negociações sobre a partilha de recursos do Mar de Timor, afirmou o autor Paul Cleary à rádio australiana ABC.

Paul Cleary, um ex-jornalista do Sydney Morning Herald que viria a ser nomeado pelo Banco Mundial para conselheiro do primeiro-ministro timorense, lançou esta semana o livro «Shakedown», um termo de gíria para extorsão.

Na entrevista à ABC, Cleary acusa o chefe da diplomacia australiano, Alexander Downer, de lançar à mesa de negociações que a Austrália «é um país rico e pode adiar esta questão por 30, 40 ou 50 anos».

Downer, segundo Paul Cleary, chegou a ameaçar «cortar mesmo a Timor-Leste os recursos económicos vitais para interromper o desenvolvimento do Mar de Timor, a menos que Timor-Leste assinasse a partilha de 80 por cento dos seus direitos no maior campo petrolífero da área».

Paul Cleary refere-se ao campo Greater Sunrise, o centro da maior discórdia entre Díli e Camberra, cujo acordo de partilha de receitas foi ratificado apenas este ano pelos parlamentos dos dois países.

«Vocês entregam os direitos deste campo às 17:00 do dia 28 de Outubro e nós damo-vos três biliões de dólares e mais nada«, propôs a delegação australiano aos timorenses, recordou Paul Cleary na entrevista à ABC.

«Entretanto, a Austrália já estava a explorar os recursos, o que é contra o direito internacional», declarou o autor australiano.

«Penso que havia do lado timorense a vontade de adiar a decisão mas o país necessitava de começar a receber os recursos e por isso o Tratado do Mar de Timor começou a ser negociado em 2000 e foi assinado em 2002«, explicou o autor na entrevista.

Paul Cleary lembra em »Shakedown« que o principal negociador de Camberra no Tratado do Mar de Timor, Doug Chester, »impôs basicamente um ultimato a Timor-Leste«, como acusou na altura o então chefe da diplomacia timorense, José Ramos-Horta.

«O senhor Doug Chester disse-nos simplesmente: 'é pegar ou largar'», declarou na ronda negocial o actual Presidente da República timorense. «Claro que nós não podemos aceitar ultimatos, não podemos aceitar chantagem, somos pobres mas temos um sentido de honra e de dignidade dos nossos direitos».

Para Paul Cleary, os 50 por cento das receitas do Greater Sunrise conseguidos por Timor-Leste «é provavelmente o mínimo aceitável para os timorenses e o máximo que a Austrália estava disposta a entregar».

Sobre a crise em que o país mergulhou em 2006, Paul Cleary considerou na entrevista à ABC que «o problema é que os timorenses não fizeram um trabalho muito bom a gastar o dinheiro. E esta tem sido a verdadeira fraqueza no actual Governo».

«A economia de Timor-Leste recuou de repente quatro anos em termos de rendimento per capita«, acrescentou o autor australiano.

«Shakedown - Australia's Grab for Timor Oil» foi lançado pela Allen & Unwin. «Descrição: a história apaixonante de como a Austrália tentou conseguir à força que Timor-Leste abrisse mão dos seus direitos aos lucrativos recursos de petróleo e gás natural do Mar de Timor e das pessoas, tanto heróis como vilões, que disputaram o jogo pelo futuro de uma nação», afirma a nota na página internet da editora do livro.

3 comments:

Anonymous said...

Sempre duvidámos da benemerência e generosidade de Alexandre Dower de quando dos primeiros acontecimentos em Dili de mandar acelerar os motores de barcos da Marinha para as águas territoriais de Timor.

Houve o clamor da parte de RH e XG: venham,venham salvar Timor.

Vimos impávidos e sereníssímos os soldados de Dower assistir aos incêndios que agora surgiam aqui e a seguir ali.


Eles estavam lá e mais acha menos acha que ardesse pouco se importariam.


Interessava sim que estivessem no terreno, claro que nunca sairiam, houvesse o que houvesse. Facílimo desembarcarem tanques ligeiros se para tal fosse necessário.

Os líderes no Governo fossem ou não depostos não seria, igualmente, problema de maior.


Colocar no Governo outros líderes seria facílimo.


Há por lá muitos e desejosos de comer uma fatia do bolo, chamado "petróleo/gas" das águas timorenses.



Evidentemente que a potência chamada Austrália não olharia com olhos de ver, os américas, a serem os concessionários dos jazigos de hidrocarbonetos do fundo do mar.


Correram boatos que um dirigente, timorense, teria recebido, de luvas, uns três milhões de dólares de uma empresa americana onde as "bocas" maldizentes/bem-dizentes) sopraram que teria havido promessa de concessão.


A concessão passou para o lado australiano e os americanos pretendem o montante do folar de volta.



Não há fumo sem fogo, mesmo que este não produza labaredas!



Ouvimos há uns dois anos (se a memória não nos atraiçoa) o XG numa conferência de imprensa que deu num país da Ásia que a Austrália estava a "pinchar" na demarcação das águas territoriais do mar de Timor.



Nos parece e não só a nós que José Ramos Horta produziu um péssimo serviço ao povo de Timor de quando assumiu a pasta dos Negócios Estrangeiros.



Depois da independência, ficaram (já o eram) três proprietários de Timor: Ramos Horta, o compadre Mari Alkatiri (camarada de armas sem gatilho e pólvora)e o ilustre soldado Xana Gusmão que lhes serviu e o fizeram heroi e mártir (vivo) por conveniência.



Quando num país, nas condições de Timor e sabido que há riqueza no mar ou no subsolo aparecem os herois, os vilões, oportunistas e os golpistas.



Os herois, os oportunistas e os golpistas, armam, em primeiro lugar a "tramoia", muito bem calculada, e fazem-se defensores do "desgraçadinho" do povo que está a ser pisado pelos opressores.



Fazem chegar suas vozes ao "povoléu" que serão eles os salvadores. O povoléu, pouco esclarecido apostam e apoiam os novos "messias" das boas intenções.


Movimentam-se por onde calha, como representantes de um povo oprimido que foram eles que se auto-nomeantes os seus representantes.



Juntam à protecção do povoléu o patriotismo do torrão, natal, que até nela já não viviam há muito tempo.



Se Timor Leste não tivesse petróleo (já sabido havia mais de meio século), não apareceriam na cena os defensores da pátria e do povo e todos se estavam nas tintas para o "povoléu".



Os defensores de Timor foram recebidos com todas as "mordomias" na "estranja", houveram muitas promessas: "que sim senhor depois da retirada da "malandragem" dos indonésios do território que a concessão da exploração do petróleo ia mesmo para esse lado".



São desconhecidas a totalidade das promessas e as reuniões, que existiram, nos cantos, dos bares de hoteis de luxo, onde se ouvia o som do trompete em surdina ou a voz maviosa de uma cantora de canções de jaz.


A Austrália, lutou que lutou, para que a concessão lhe chegasse às mãos.



Se está bem ou mal entregue não sabemos. Se houve "extorsão" muito menos.
Porém a história nos diz que os "aborígenos", os primitivos e naturais residentes da enorme ilha australiana quase que desapareceram e os restantes metidos numa reserva!
Timor mora ao lado da Austrália!



José de Alguidares de Baixo

Anonymous said...

Essa de meter o Mari Alkatiri na pandilha desses dois "heróis" o Horta e o Xanana é só para difamar a Fretilin. Ou esquece-se que foram esses dois aliados dos Australianos que correram com o Alkatiri do Governo, que perseguiram, intimidaram e agrediram dezenas de milhares de habitantes de Dilí apenas por suspeitas de apoiarem a Fretilin, que se conluiaram para acantonar as F-FDTL e para implodir a PNTL apenas para terem justificação para que as tropas Australianas ocupassem Timor-Leste?

É que a Fretilin foi o grande partido da resistência e é o grande partido que se opõe ao roubo das riquezas naturais - do petróleo e do gás - pelo pirata do sul, a Austrália.

Por isso mesmo é necessário reforçar a votação na Fretilin para que as suas riquezas sejam postas ao serviço do desenvolvimento e assim o seu povo possa ter mais saúde, mais educação, mais emprego e uma vida melhor que bem a merecem.

Anonymous said...

Camarada Margarida,
Sabe porque é que os chamados peticionários se rebelaram contra o governo da Fretilin a partir de Fevereiro/Março 2005?
Se não sabe, então, eis a resposta: RL e MA provocaram a deserção, sublinho provocaram a deserção dos cerca de 600 soldados nascidos na região Loromonu com o fito de mais tarde os incorporar na PNTL, para melhor contrabalançar as F-FDTL e derrotá-las numa guerra (próxima) provocada para o efeito! O número de efectivos das F-FDTL, contando ainda com os 600 desertores eram cerca de 1500 soldados, e apenas armadas com armamento obsoleto em comparação com a PNTL de então, com cerca de 3000 (três mil) efectivos, e que possuía entre outras armas moderníssimas umas metralhadoras que tinham potência para perfurar paredes de prédios!! Ruak e Falur descobriram a manobra do Bim Amude Alkatiri e RLobato, encostaram-nos a parede dizendo-lhes que se levassem avante os seus intentos em incorporar os tais 600 desertores na PNTL iriam de certeza comprar uma guerra com as F-FDTL!! E que ele e Ruak e outros veteranos das Falintil não temem a superioridade numérica e em armamento da guarda pretoriana d Fretilin - a PNTL + os 600 desertores! Com medo, não cumpriram a promessa feita, e os homens revoltaram-se! Em Maio/Junho 2005, no auge dos combates em Díli, a força com que contava para decapitar as F-FDTL e a Presidência da República, a PNTL, desmoronou-se completamente, por isso Lu Olo e MA pediram a intervenção da Nova Zelândia, Austrália e Malásia para travar Ruak e seus homens, pois estavam com medo que as armas das F-FDTL se virarem contra eles, uma vez controlada Díli. Mas, a Fretilin não desiste, e continua a proteger parte da sua guarda pretoriana que ainda se mantém na PNTL; por isso aconteceu, o que aconteceu em Viqueque: polícia à paisana mata segurança do CNRT. Mais, polícias em Uatulari, Viqueque e Ossú fazem campanha abertamente pela Fretilin!!