Sunday, 22 June 2008

A Austrália anda há 34 anos a espiar Ramos-Horta




23-06-08

A Australian Security Intelligence Organization (ASIO, serviços secretos) desclassificou ontem centenas de documentos referentes ao actual Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, que actualmente pondera a hipótese de renunciar ao cargo para se candidatar a Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a canadiana Louise Arbour. Mas ainda conserva por desvendar cinco dossiers que tem sobre ele.


Naquilo que o jornal The Canberra Times considerou “um passo em falso diplomático”, a ASIO e o ministério australiano dos Negócios Estrangeiros nem sequer teriam consultado ou avisado o Chefe de Estado de que iam trazer a público todo o seu passado, desde que em Outubro de 1974 o começaram a espiar, mal se tornou claro que era o principal representante internacional da causa nacionalista timorense.

A divulgação de ficheiros secretos sobre um Presidente em exercício num país vizinho é algo “sem precedentes”, comentou Clinton Fernandes, professor da Universidade da Nova Gales do Sul: “Primeiro a Austrália espia a vida de Ramos-Horta, depois Camberra trai Timor para benefício dos militares indonésios e três décadas depois divulga os documentos sem sequer se dar ao trabalho de um telefonema para lhe dizer o que é que se está a passar”.

O material vindo a lume revela que, em Maio de 1975, a ASIO contou à sua congénere indonésia BAKIN os contactos que Ramos-Horta tivera com elementos da Comissão Australiana para um Timor-Leste Independente e com o Partido Comunista da Austrália, sendo sabido que o primeiro-ministro australiano do período 1972-1975, o trabalhista Gough Whitlam, tinha a opinião de que Timor-Leste “era demasiado pequeno e economicamente inviável para se tornar independente”.

Whitlam “lamentará um dia a negociata que fez com Suharto” (o ditador indonésio), para que Jacarta ocupasse Timor-Leste, teria escrito em dada altura Ramos-Horta, segundo uma carta sua a que a espionagem australiana teve acesso e que está incluída nas mais de 550 páginas agora desclassificadas.
J.H.

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