Thursday 20 December 2007

Reinado não compareceu ao encontro com Xanana


Primeiro-ministro timorense dá "última oportunidade" a major foragido à justiçaO primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, anunciou hoje que vai dar "apenas mais uma oportunidade" a Alfredo Reinado, depois de o major fugitivo não ter comparecido num encontro com a liderança timorense, previsto para hoje.


"Alfredo Reinado esquivou-se do encontro hoje", declarou o primeiro-ministro timorense no Palácio do Governo, em Díli. "Ele pensa que é um herói e que manda em Timor", acrescentou Xanana Gusmão em tétum.

"Como Presidente da República, eu não podia fazer muito. Mas como primeiro-ministro, posso", avisou Xanana Gusmão. "Não sou leão. Leão é outra pessoa. Mas posso ser mais duro que um leão", afirmou.

Xanana Gusmão deu uma curta conferência de imprensa às 12h00 (3h00 em Lisboa), depois de ter esperado três horas por Alfredo Reinado no Palácio das Cinzas, sede da Presidência da República timorense.

O Presidente José Ramos-Horta, o presidente do Parlamento Nacional, Fernando "La Sama" de Araújo, membros do Governo com a tutela da Defesa e Segurança e o coronel Lere Anan Timur, do Estado-Maior das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste, aguardaram toda a manhã por Alfredo Reinado.

Xanana Gusmão, numa declaração grave, ríspida e pausada, não escondeu o seu desagrado com a não comparência de Alfredo Reinado ao encontro de hoje.

"Dou apenas mais uma oportunidade a Alfredo Reinado", sublinhou Xanana Gusmão.

O chefe do governo timorense explicou também que essa oportunidade "será a curto prazo" e que não está em causa a sua expectativa pessoal sobre as hipóteses de Alfredo Reinado aceitar o encontro.

"Não falo de esperança", explicou Xanana Gusmão sobre o tipo de iniciativa que pretende ter com o major fugitivo. "Eu não faço convites. Só para festas", comentou o primeiro-ministro.

"Conheço Alfredo Reinado. Foi várias vezes a minha casa antes de ser preso em Becora", em Julho de 2006, recordou o primeiro-ministro e ex-chefe de Estado. "Alfredo é um homem que não mantém a sua palavra. Hoje diz uma coisa, amanhã diz outra", acusou Xanana Gusmão.

Reinado em fuga desde Agosto de 2006

O ex-comandante da Polícia Militar, com quem o Estado timorense encetou há meses um processo negocial, em paralelo com um processo judicial que chegou já a julgamento, encontra-se em fuga desde 30 de Agosto de 2006.

Alfredo Reinado é acusado de crimes de homicídio, rebelião e posse ilegal de material de guerra.

O julgamento, iniciado a 03 de Dezembro de 2007, foi adiado para 24 de Janeiro de 2008 porque apenas dois dos 17 arguidos, os que se encontram em prisão preventiva, compareceram ao julgamento.

Exigências e ameaças

Alfredo Reinado fez chegar sábado ao primeiro-ministro, através de um advogado, a exigência de libertação dos dois homens do seu grupo presos em Becora, Díli, como condição para comparecer no encontro de hoje.

"Mandei dizer a Alfredo Reinado, pelo seu advogado, que não competia ao Governo resolver esse assunto e que não era apropriado vir até aqui apresentar condições na véspera de um encontro com o qual todos já tinham concordado", declarou hoje o primeiro-ministro.

Dois advogados de Alfredo Reinado estiveram, aliás, envolvidos na reunião falhada de hoje, em papéis diferentes: Benevides Correia, que, na descrição de Xanana Gusmão, serviu de contacto com o major fugitivo nos últimos dias; e Paulo dos Remédios, assessor do Presidente José Ramos-Horta e defensor do arguido Reinado em tribunal.

Paulo dos Remédios assistiu, aliás, à conferência de imprensa de Xanana Gusmão.

Alfredo Reinado realizou uma parada militar em Gleno, a sudoeste de Díli, há um mês, com centenas de peticionários expulsos das F-FDTL em 2006, e ameaçou "descer a Díli" se o seu processo e a situação dos militares expulsos das Forças Armadas não fosse resolvida até ao final do ano.

Um perímetro de segurança foi montado hoje de manhã em torno do Palácio das Cinzas.

A imprensa foi mantida à distância pela Polícia das Nações Unidas porque "estava a comprometer toda a operação", segundo um dos comandantes da UNPol que registou a identificação dos jornalistas que aguardavam o desfecho da reunião.

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