** Rui Boavida, da Agência Lusa **
Pequim, 08 Ago (Lusa) - O Presidente timorense e prémio Nobel da Paz, José Ramos-Horta, admitiu hoje que as prisões políticas na China o preocupam, em entrevista à Lusa horas antes de assistir à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim.
"Onde haja prisioneiros de consciência que sejam detidos por razões da sua consciência obviamente que, como timorense, como ser humano, incluindo como Presidente da República do meu país, é algo que me preocupa", afirmou Ramos-Horta, que manteve quinta-feira, em Pequim, um encontro bilateral com o Presidente chinês, Hu Jintao.
O Presidente timorense sublinhou, no entanto, o tamanho e a importância da China para defender a necessidade de uma liderança política forte no país.
Referindo-se ao facto de a China prender e condenar activistas por crimes de consciência e por manifestarem opiniões contra políticas governamentais e contra o Partido Comunista Chinês, que governa o país em regime de partido único, Ramos-Horta garantiu que "nunca aceitaria que um timorense fosse detido por se opor ao Governo ou ao próprio Presidente da República."
"Mas devemos entender que a China é um país de 1,3 mil milhões de pessoas e que sem uma liderança política muito firme seria extremamente difícil manter a estabilidade neste país. E a instabilidade da China desestabiliza toda a Ásia e afectaria toda a economia mundial", afirmou.
Ramos-Horta sublinhou a abertura política que a China viveu nas últimas três décadas e defendeu pouca interferência no processo de transformações que o país vive.
"É preciso dar tempo ao tempo. A China é uma civilização de cinco mil anos e para cinco milénios trinta anos são um relâmpago", afirmou o Presidente timorense.
"Os próprios Jogos Olímpicos são um símbolo dramático da abertura da China para o mundo", considerou.
A falta de liberdade política e de expressão num país onde os dissidentes são por norma condenados em julgamentos sem defesa e à porta fechada a penas de prisão, campos de trabalho ou prisão domiciliária é uma das questões que têm vindo a ensombrar a organização dos Jogos Olímpicos de Pequim, que hoje começam e encerram a 24 de Agosto.
Ramos-Horta, que sublinhou a "extrema independência" de Timor-Leste na elaboração das suas próprias políticas, afirmou-se também disponível para receber outro prémio Nobel da Paz, o Dalai Lama, líder tibetano espiritual no exílio que a China considera um líder independentista e organizador das manifestações de Março passado contra o domínio chinês no Tibete.
"Se o Dalai Lama viesse apenas na qualidade de líder espiritual, certamente [que o receberia]. Timor-Leste é um país livre. Ele tem uma agenda muito cheia e nós não temos também planos de o convidar. Mas se líderes espirituais timorenses o convidassem, o Governo timorense teria de considerar positivamente", afirmou Ramos-Horta.
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