Sunday, 17 June 2007

FRETILIN acusa Austrália de «ingerência» (onde está a novidade?)


A FRETILIN acusou este sábado a Austrália de «ingerência na campanha eleitoral» e de «violação inaceitável da soberania timorense» na sequência das declarações do chefe da diplomacia de Camberra sobre a estratégia e os gastos militares de Timor-Leste.


O Governo australiano, através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Alexander Downer, classificou a estratégia militar de Timor-Leste até 2020 de «completamente irrealista» e criticou a decisão do Governo de Díli de conceder autonomia financeira às forças armadas para a aquisição de equipamento.

«Estou certo que a Força 20/20 não vai acontecer porque Timor-Leste não tem os recursos para constituir um exército tão grande», afirmou Alexander Downer na quarta-feira passada.

O ministro adiantou que «assessores de defesa australianos e internacionais estão a trabalhar com os seus parceiros timorenses no plano de desenvolvimento da força 2007-2010 para desenvolver capacidades realistas».

Estas críticas «equivalem a uma ingerência na campanha eleitoral» para as legislativas de 30 de Junho «e uma violação inaceitável da soberania timorense», acusou a FRETILIN num comunicado que cita o presidente do partido maioritário, Francisco Guterres «Lu Olo».

«O Governo australiano tem acompanhado todo o processo da Força 20/20 desde o início, porque teve assessores de alto-nível no Ministério da Defesa», afirma «Lu Olo».

«O relatório 20/20 foi preparado sem o conselho de responsáveis militares australianos ou de outros que ajudam a manter a paz em Timor-Leste», referiu The Australian desde a primeira notícia sobre o documento confidencial, a 8 de Junho.

O relatório, conforme a Lusa noticiou quinta-feira, foi elaborado pelo Grupo de Estudos Força 20/20, de que fizeram parte, em diferentes períodos, oficiais superiores de quatro países, todos com patente de tenente-coronel: três portugueses, três australianos (incluindo o ex-coordenador do Programa de Cooperação Militar australiano em Díli, Christopher Hamilton) e um timorense (o secretário permanente do Ministério da Defesa, Filomeno Paixão).

O trabalho decorreu sob coordenação timorense através do chefe da assessoria militar do Presidente da República, tenente-coronel Pedro Klamar Fuik.

Do grupo fez também parte Chandrabalan Sinnadurai, da missão de observação das Nações Unidas (UNOTIL), proveniente da Malásia, um dos países que actualmente têm uma força autónoma de polícia no quadro da missão internacional (UNMIT).

Francisco Guterres «Lu Olo» recordou hoje outro órgão da imprensa australiana, The Bulletin, que num artigo recente relatava «a frustração de instrutores militares graduados australianos enviados para formar o novo exército em 2000 e mais tarde».

«Estes oficiais garantiram que o Governo australiano nunca tencionou que as F-FDTL [Falintil - Forças de Defesa de Timor-Leste] se tornassem numa força coesa e bem treinada, e que o programa de treino foi um fiasco», afirmou «Lu Olo».

Uma minuta da Força de Defesa Australiana (ADF) de 10 de Maio de 2001 afirma que «o primeiro objectivo (...) é prosseguir os grandes interesses estratégicos da Austrália em Timor-Leste, obstrução, acesso e influência».

«O interesse estratégico da obstrução procura garantir que nenhuma potência estrangeira ganha um nível inaceitável de acesso a Timor-Leste, e é coroado pelo objectivo complementar de procurar acesso a Timor-Leste para a Austrália, em particular a ADF», continua a minuta citada hoje pela FRETILIN.

«Os interesses estratégicos da Austrália podem também ser protegidos e perseguidos de forma mais eficaz se a Austrália mantiver algum grau de influência sobre a tomada de decisões em Timor-Leste».

«Achamos incrível que o ministro australiano dos Negócios Estrangeiros tenha dito que não podemos ter helicópteros armados e navios de guerra pequenos mas eficazes para patrulhar os nossos recursos petrolíferos offshore e piscícolas», declara Francisco Guterres «Lu Olo» no mesmo comunicado.

«Não há nada excessivo na Força 20/20, que propõe um exército de 3.000 homens. O nosso exército actual tem 1.500 militares no activo e 1.500 reservistas», acrescentou «Lu Olo».

O presidente do Parlamento afirmou ainda que «a Força 20/20 foi um processo aberto para repensar e reorganizar o exército (F-FDTL) mas foi interrompido pelo levantamento de Janeiro-Junho de 2006, quando uma larga maioria do exército, e o comando da Polícia, foram levados a uma campanha política e por fim militar para derrubar o Governo eleito».

Mari Alkatiri, ex-primeiro-ministro e secretário-geral da FRETILIN, declarou que foi esta crise que mostrou a urgência de reconstruir o exército e a polícia «numa base equilibrada e profissional, e não em bases partidárias».

Para Mari Alkatiri, «a discussão foi iniciada na Austrália por diversos autoproclamados especialistas em assuntos políticos de Timor-Leste para desacreditar e parar o Plano Força 20/20».

«A discussão reflecte a perspectiva da ADF de que precisa de manter influência sobre as decisões do governo e de manter uma presença no nosso país. Isto é uma violação inaceitável da soberania que centenas de milhares do nosso povo morreram para atingir», concluiu o ex-primeiro-ministro.

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