Por Pedro Rosa Mendes
da Agência Lusa
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"Se não fosse a destruição feita pelos indonésios e pelas milícias (pró-autonomia) em 1999, a situação actual poderia ter gerado uma nova recusa da independência, porque o povinho hoje diz que vivia melhor materialmente", afirmou o líder do PNT em entrevista à Lusa.
"É claro que havia repressão e morte" nos 24 anos de ocupação do território, ressalvou Abílio Araújo.
O presidente do PNT, "simples empresário que vem investir aqui", antigo líder da Fretilin, regressou quarta-feira de Portugal, onde tem vivido, para os últimos sete dias de campanha para as legislativas de 30 de Junho.
Abílio Araújo foi recebido no aeroporto de Díli por cerca de 300 apoiantes, segundo a Polícia das Nações Unidas, situação que gerou uma "altercação" com elementos do campo de deslocados que obrigou … intervenção da UNPol e das Forças de Estabilização Internacionais (ISF) para "evitar a escalada para um incidente sério".
"Ninguém esperava" o entusiasmo dos apoiantes, disse Abílio Araújo, o que prenuncia que "o PNT vai ser a surpresa desta campanha".
"A minha imagem ainda está intacta", sublinhou o líder do PNT, salientando que pertence à mesma geração dos actuais líderes timorenses.
"Historicamente, sou colega de todos".
Abílio Araújo iniciou-se na política "muito jovem, com um grupo que mais tarde viria a ser a Associação Social-Democrata Timorense (ASDT) e a Fretilin", recordou.
A sua posição política era, nessa época, no "género de uma clandestinidade com alguma tolerƒncia do sistema colonial".
"O sistema não exerceu forte repressão sobre nós, porque sabia que a repressão iria gerar uma organização", explicou Abílio Araújo à Lusa no final de um comício em Díli.
"Isto era em 1971. Eu tinha 20 anos. José Ramos-Horta 20 anos. Mari Alkatiri 20 anos".
Abílio Araújo, "melhor aluno no último ano de liceu em Díli", ganhou uma bolsa de estudo em Portugal, para Ciências Económicas e Financeiras, "o primeiro timorense a estudar e a graduar-se neste curso".
Em 1974, regressou a Timor durante 13 meses, para integrar a Fretilin.
"Fui eu que redigi o programa político da Fretilin e escrevi o hino", recordou Abílio Araújo, que situa a sua desavença com a Fretilin na "profunda divergência" com Xanana Gusmão, comandante das Falintil e comissário político nacional do partido, "a partir de 1987/88".
"Comecei por ser marxista-leninista. Hoje sou o que se chama um burguês", resumiu Abílio Araújo sobre as suas convicções políticas.
"Como maoista, conheci nos bancos da universidade figuras como José Manuel Durão Barroso, José Lamego e Ana Gomes", referiu sobre a sua experiência política no pós-25 de Abril.
Abílio Araújo critica a governação da Fretilin porque, "não obstante ter ganho a maioria absoluta em 2002, deveria ter enveredado por uma política de convergência nacional".
"Assim teria somado todas as energias e não teríamos chegado a isto", acusa o presidente do PNT, "em que um governo chamado de inclusão acabou por ser um governo de exclusão".
O programa do PNT em 2007 "é o mesmo que não foi realizado" pela Fretilin, afirmou Abílio Araújo, "com a diferença da realidade timorense, que não é a mesma".