Thursday 14 August 2008

Rebelde que tentou assassinar Ramos Horta pode ter sido executado

Sydney (Austrália), 13 ago (EFE).- O ex-líder rebelde timorense Alfredo Reinado pode ter sido executado durante o tiroteio que se seguiu à sua tentativa frustrada de assassinar o presidente José Ramos Horta, em fevereiro, segundo revelou a autópsia de seu cadáver.

Reinado foi atingido à queima-roupa e na nuca, local que teria sido muito difícil de alcançar em um tiroteio, informou hoje o diário "The Australian".

Caso se confirme, o assassinato do líder rebelde pode gerar novas tensões no Timor-Leste, que desde que obteve a independência, em 2002, luta para conseguir estabilidade política, que lhe permita concentrar-se no desenvolvimento econômico.

Segundo os médicos australianos que praticaram a autópsia, é impossível que as marcas de bala no cadáver de Reinado tenham sido causadas por disparos de soldados a mais de dez metros de distância, como afirma a versão oficial.

Os fatos ainda estão sendo investigados pela Procuradoria Geral do Timor-Leste e por um comitê especial das Nações Unidas.

Em 11 de fevereiro, Ramos Horta ficou gravemente ferido em um atentado perpetrado em seu domicílio e no qual também perdeu a vida Reinado. O primeiro-ministro Xanana Gusmão também foi vítima de um ataque, mas saiu ileso.

Alfredo Reinado liderou em 2006 uma revolta de 600 soldados demitidos por insubordinação do Exército, que gerou uma onda de violência que deixou 37 mortos e mais de 100 mil refugiados e forçou a renúncia do então chefe do Executivo Mari Alkatiri.

A ex-colônia portuguesa do Timor-Leste alcançou a independência há seis anos, como uma das nações mais pobres do mundo, e após uma sangrenta transição, que acabou, em 1999, com quase um quarto de século de ocupação indonésia. EFE

Pequim2008: Presidente de Timor-Leste "preocupado" com prisões políticas na China

** Rui Boavida, da Agência Lusa **



Pequim, 08 Ago (Lusa) - O Presidente timorense e prémio Nobel da Paz, José Ramos-Horta, admitiu hoje que as prisões políticas na China o preocupam, em entrevista à Lusa horas antes de assistir à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim.

"Onde haja prisioneiros de consciência que sejam detidos por razões da sua consciência obviamente que, como timorense, como ser humano, incluindo como Presidente da República do meu país, é algo que me preocupa", afirmou Ramos-Horta, que manteve quinta-feira, em Pequim, um encontro bilateral com o Presidente chinês, Hu Jintao.

O Presidente timorense sublinhou, no entanto, o tamanho e a importância da China para defender a necessidade de uma liderança política forte no país.

Referindo-se ao facto de a China prender e condenar activistas por crimes de consciência e por manifestarem opiniões contra políticas governamentais e contra o Partido Comunista Chinês, que governa o país em regime de partido único, Ramos-Horta garantiu que "nunca aceitaria que um timorense fosse detido por se opor ao Governo ou ao próprio Presidente da República."

"Mas devemos entender que a China é um país de 1,3 mil milhões de pessoas e que sem uma liderança política muito firme seria extremamente difícil manter a estabilidade neste país. E a instabilidade da China desestabiliza toda a Ásia e afectaria toda a economia mundial", afirmou.

Ramos-Horta sublinhou a abertura política que a China viveu nas últimas três décadas e defendeu pouca interferência no processo de transformações que o país vive.

"É preciso dar tempo ao tempo. A China é uma civilização de cinco mil anos e para cinco milénios trinta anos são um relâmpago", afirmou o Presidente timorense.

"Os próprios Jogos Olímpicos são um símbolo dramático da abertura da China para o mundo", considerou.

A falta de liberdade política e de expressão num país onde os dissidentes são por norma condenados em julgamentos sem defesa e à porta fechada a penas de prisão, campos de trabalho ou prisão domiciliária é uma das questões que têm vindo a ensombrar a organização dos Jogos Olímpicos de Pequim, que hoje começam e encerram a 24 de Agosto.

Ramos-Horta, que sublinhou a "extrema independência" de Timor-Leste na elaboração das suas próprias políticas, afirmou-se também disponível para receber outro prémio Nobel da Paz, o Dalai Lama, líder tibetano espiritual no exílio que a China considera um líder independentista e organizador das manifestações de Março passado contra o domínio chinês no Tibete.

"Se o Dalai Lama viesse apenas na qualidade de líder espiritual, certamente [que o receberia]. Timor-Leste é um país livre. Ele tem uma agenda muito cheia e nós não temos também planos de o convidar. Mas se líderes espirituais timorenses o convidassem, o Governo timorense teria de considerar positivamente", afirmou Ramos-Horta.

Timor-Leste/China: Exportações para o mercado chinês passam a pagar tarifa zero

Pequim, 08 Ago (Lusa) - O Governo chinês atribuiu às exportações timorenses para a China a isenção de tarifas aduaneiras, anunciou hoje o Presidente de Timor-Leste em entrevista à Agência Lusa em Pequim, depois de um encontro bilateral com o seu homólogo chinês.

José Ramos-Horta referiu também que Timor-Leste vai comprar à China duas lanchas da guarda costeira no valor de cerca de 25 milhões de dólares (16,5 milhões de euros) para operações de fiscalização da Zona Económica Exclusiva (ZEE) timorense.

"A China concedeu a Timor-Leste condições especiais, incluindo a isenção de tarifas alfandegárias, para a exportação de produtos timorenses para o mercado chinês, à semelhança do que faz com outros países menos desenvolvidos", disse Ramos-Horta, que se encontra em Pequim para assistir hoje à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008.

O café assegura a maioria das exportações timorenses para a China, mas Ramos-Horta manifestou a confiança de que a estrutura do comércio bilateral possa vir a ser alterada, com futuras exportações de pescado e de alimentos, com a entrada em funcionamento no médio prazo de projectos agrícolas virados para a exportação.

Ramos-Horta, que se encontrou na quinta-feira com o Presidente chinês, Hu Jintao, numa reunião de 25 minutos anunciou também a compra das duas lanchas chinesas que se juntam a duas outras cedidas por Portugal para a fiscalização da ZEE de Timor-Leste.

"A ZEE de Timor-Leste está completamente sem defesa. Há centenas de barcos que fazem pesca ilegal na nossa ZEE. Anualmente, Timor-Leste perde cerca de 30 milhões de dólares [19,8 milhões de euros] em pesca ilegal e é por isso que o Governo decidiu comprar estas duas lanchas para as águas da costa Sul", disse.

O contrato para a aquisição das lanchas prevê a construção de raiz das embarcações para as águas de Timor-Leste, com acompanhamento por técnicos timorenses, treino da tripulação e manutenção.

Sobre o encontro, durante o qual os dois presidentes passaram em revista as relações entre os dois países, incluindo as actividades de cooperação e de ajuda ao desenvolvimento chinesas, Ramos-Horta disse também que convidou Hu Jintao a visitar Timor-Leste, convite que foi aceite mas sem existirem ainda datas definidas.

"O Presidente Hu Jintao referiu que há todo o interesse da China em aprofundar as relações com Timor-Leste, nomeadamente na área do petróleo e gás. A China vai enviar uma delegação a Timor-Leste para explorar as possibilidades que existem nessa área, para encetar conversações com a parte timorense", referiu Ramos-Horta.

O Presidente timorense assegurou que Díli não irá nunca atribuir fora de concurso público direitos de exploração petrolífera e que as empresas chinesas terão de participar nos concursos internacionais.

"Temos como política abrir a concurso com todo o rigor e transparência seguindo as normas internacionais que aplicamos nos concursos para a exploração offshore. De forma alguma Timor-Leste dará concessões através de arranjos bilaterais, terá de ser sempre por concurso internacional e transparente", afirmou Ramos-Horta.

"Não me parece que seja do interesse de Timor-Leste afastar-se dessa política", reforçou.

Ban Ki-moon considera necessária presença «robusta» de forças da ONU em Timor-Leste

O secretário-geral da ONU entende que Timor-Leste vai continuar a precisar de uma «robusta» presença de forças policiais das Nações Unidas. Num relatório, Ban Ki-moon fez elogios a vários sectores da sociedade timorense, mas criticou as forças de segurança do país.

Timor-Leste vai continuar a precisar de uma «robusta» presença de forças policiais das Nações Unidas e do envolvimento da comunidade internacional para garantir a sua estabilidade, afirmou o secretário-geral da ONU.

No primeiro relatório de Ban Ki-Moon a seguir às tentativas de assassínio de do presidente e primeiros-ministros timorenses, a 11 de Fevereiro, e já entregue ao Conselho de Segurança, o responsável máximo das Nações Unidas propôs a não existência de alterações ao mandato da Missão Integrada da ONU no país.

Neste documento, Ban saudou a actuação «firme e racional» do primeiro-ministro, Xanana Gusmão, e assinalou o facto do Parlamento ter funcionado «efectivamente como fórum de debate em resposta aos acontecimentos».

O secretário-geral da ONU congratulou-se ainda por os dirigentes dos partidos timorenses terem apelado aos seus apoiantes para permanecerem calmos e elogiou a população por ter «demonstrado fé na capacidade do Estado em fazer face à situação».

Ban Ki-moon elogiou ainda o Presidente da República, José Ramos-Horta, pelo seu «empenho para com o diálogo a todos os níveis» desde que regressou a Timor-Leste da Austrália, onde se recuperou dos ferimentos sofridos a 11 de Fevereiro.

Pelo contrário, o responsável máximo da ONU dirigiu fortes críticas às forças de segurança timorenses ao fazer referência às «bem conhecidas insuficiências de segurança em termos de padrões profissionais e respeito pelo primado da lei».